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A LISTA NEGRA

Reza assim a notícia: “O Governo prepara-se para criar uma ‘lista negra’ para os maus pagadores do sector energético – electricidade e gás – à semelhança do que já hoje faz o Banco de Portugal para os clientes das instituições financeiras ou o Instituto de Seguros de Portugal para a actividade seguradora, bem como o mercado das telecomunicações móveis.”

O limite, a partir do qual, famílias e empresas garantem uma entrada directa neste ‘clube’, é de 75 euros. A medida consta da proposta à alteração do Decreto-Lei nº 172 de 2006, relativo aos mecanismos de fiscalização do risco de dívida.” (in Diário Económico, 26-07-2012)

Ernani Balsa

Ernani Balsa

Fiquei a pensar nisto e o tom negro da lista colou-se-me à minha inquieta costela social e humanista. E quanto mais pensava, menos me conformava com a ideia. Mas ainda mais do que isso, o que seriamente me atormentava, era imaginar a génese de tal ideia. Que tipo de pessoas se dedica a pensar e apresentar tais propostas? Será que os governos têm uma base secreta de pensadores ou “pensólogos”, que se dedicam a devanear sobre as fórmulas mais absurdas e torturantes de vergar o cidadão, nomeadamente o mais desprotegido, à dura e cruel humilhação de ser por todos apontado como caloteiro?… Ah! grandes ideólogos!… Certamente, saídos duma qualquer faculdade ou instituto superior, média alta e prontamente nomeados para cargos de assessor de algum ministro ou gabinete. Que gene malévolo e horrendo afecta este tipo de pessoas, que vê no cidadão comum, em dificuldades económicas, o alvo ideal para a sua sede de justiça, quiçá vingativa e correcional?…

Esta sede de perseguição assusta-me. Tudo serve para enclausurar o cidadão em espartilhos de controlo e devassa dos seus pequenos pecados, enquanto os grandes prevaricadores, os que fogem escandalosamente ao fisco, os vigaristas de cartola que ludibriam descaradamente as leis e a justiça, os responsáveis políticos e da administração pública ou das malfadadas empresas públicas, que arrecadam porventos, benesses e influências através das suas posições de poder, se passeiam nas áleas de impunidade que este país lhes proporciona, por entre escandalosos jogos de poder e de fraude, escapando-se repetidamente de quaisquer listas ou confronto com a justiça.

Pessoas intimamente ligadas ao poder, beneficiam de situações mais que duvidosas, políticos que exerceram cargos de estado e mesmo na governança do país, deslizam por tapetes dourados para empresas e grupos financeiros, com os quais tiveram relações institucionais e, em alguns casos, controlaram enquanto tinham essas funções, desaguando em paraísos da alta finança, salvaguardando-se noutros paraísos, esses fiscais, onde acumulam fortunas que ofendem o país que apenas sobrevive do seu trabalho, enquanto o desemprego ainda não os atinge, e vão definhando de forças e sonhos de algum dia poderem levantar a cabeça e poderem dizer que estão a caminho da felicidade e são estes, que contam os escassos euros ao fim do mês, que se desestruturam na luta diária para alimentar e educar os seus filhos, que já não têm férias nem podem usufruir da cultura para lhes fortalecer o espírito, que se vêem às portas de mais uma lista negra, só porque não conseguiram pagar uma miserável, mas para eles assustadora, factura de setenta e cinco euros de electricidade, a uma companhia que, ainda há pouco tempo, se descobriu andar a vigarizar os seus clientes, nas taxas bi-horárias, através dum mesquinho e vergonhoso expediente de alteração dos horários de aplicação deste tarifário.

A vergonha não é figurar nesta lista negra. A vergonha é o Estado e os governantes, assim como os nababos que se refastelam na suas poltronas de luxo a olhar cá para baixo para a populaça, a contarem os tostões que o povo lhes vai pagando, qual tributo feudal, não terem, eles próprios, vergonha nenhuma!…

Por: Ernani Balsa
“escreve sem acordo ortográfico”

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