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BREVES INCURSÕES À AUTORIDADE (III)

“Indubitavelmente o povo tem direito ao poder,
mas o que o povo quer não é o poder,
e sim, antes de tudo, uma ordem estável”
Alexander Soljenitsyne

-Autoridade, sua Eficácia e sua Estabilidade-

C.F.C.

C.F.C.

Conforme temos defendido, em termos primários e ao longo destes escritos, a Autoridade engloba, por um lado, a aceitação do dever de obediência incondicional e por outro, o direito de ser incondicionalmente obedecida.

Assim, pode-se construir um tipo puro de Autoridade, tendo como base uma relação de poder fundada exclusivamente na crença da legitimidade. Trata-se como é óbvio de um tipo ideal, mas muito difícil de encontrar na realidade; normalmente, a crença na legitimidade não é propriedade exclusiva do poder.

Relembramos que o poder poderá ser reconhecido como legítimo, somente por um dos lados da relação. Se tal acontecer, podemos falar ainda de Autoridade quando a crença na legitimidade do poder motiva apenas a obediência, mas, não se pode dizer o mesmo quando ela motiva apenas o comando. Nesta última hipótese e na verdade, ao comando não sucede obediência, isto é, sucede a obediência, mas noutras bases, tais como: temor da força, interesse, etc..

A crença tem uma peculiar importância na legitimidade, porque transforma o poder em Autoridade; esta acção consiste no facto de que esta tende a conferir ao poder eficácia e estabilidade. E isto tanto do lado do comando como do lado da obediência.

Seja qual for a situação em análise, é claro que devemos sempre ter em conta o efeito psicológico que a fé na legitimidade do poder tende a exercer em quem o detém. É por isso que há quem afirme que a diminuição dessa fé conduz ao descalabro do poder. Sem sermos levados a afirmações tão gerais e peremptórias, podemos afirmar com alguma certeza de que a crença na legitimidade do poder tende a conferir ao comando algumas características, com especial desataque para; a convicção, a determinação e a energia, indo todas contribuir directamente na sua eficácia.

De qualquer forma, a crença na legitimidade tem um efeito relevante sobre a coesão entre os indivíduos e os grupos que detêm o poder. O facto de que todos os indivíduos ou grupos que participam do poder numa organização e que interpretam, compreendem e lhe atribuem o mesmo significado acaba por pôr limites aos conflitos internos e dá muitas vezes o princípio da sua solução. Assim, nasce daí uma maior coesão entre os detentores do poder e por consequência, uma maior estabilidade e eficácia do poder.

Uma classe política que se banhe numa pluralidade de grupos, que reconhecem toda a legitimidade do regime político, dá origem, em igualdade com outras condições a governos mais estáveis e eficazes do que aqueles que foram originados por uma classe política em que uma parte importante não reconhece o regime como legítimo.

Se abordarmos a Autoridade pelo lado da obediência, a crença na legitimidade faz corresponder o comportamento de obediência a um dever e leva a criar uma boa receptividade à obediência incondicional. Na medida em que a obediência se converte num dever, a relação de poder adquire maior eficácia, logo, as ordens são cumpridas prontamente, sem que os detentores do poder tenham de recorrer a outros meios para o exercer, como a coacção, a satisfação de interesses dos subordinados ou até a persuasão que comportam maiores custos. Mas por outro lado, na medida em que se gera uma disposição para obedecer, o poder estabiliza-se, assim, esta estabilidade é tanto mais sólida quanto a disposição para obedecer é, dentro da esfera de aceitação da Autoridade, incondicional.

Sobre esta matéria, temos de acrescentar que, existe também um nexo indirecto entre a crença na legitimidade do poder e a disposição para obedecer, num âmbito social no qual um certo poder é larga e intensamente tido como legítimo; quem não o reconhece como tal pode ser sujeito a notáveis pressões laterais que tendem a induzi-lo a obedecer por razões de oportunidade que podem ter origens diferenciadas, quer por outros indivíduos quer por grupos sujeitos ao mesmo poder.

Por: Carlos Fernandes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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