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J.Antunes de Sousa

EM MEMÓRIA DOS ESQUECIDOS

Este novo Papa, recatado, quase tímido na sua gestualidade, bem mais perto do aceno tacteante da criança do que do gesto hierático, esfíngico, notoriamente teatral, de Pio XII, é, se bem repararmos, um sábio do gesto: ele vivencia, bem no íntimo de si, a carga projectiva e simbólica de cada gesto que produz, entendido este não como mera mímica, mas como iniciativa, que é também uma iniciação – como sinal que inaugura nova senda de sentido. Dir-se-ia que, num homem desarmada e desarmantemente hirto, quase não sabendo como e onde arrumar as mãos, eis que abundam, qual torrente refrescante em ...

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PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE À PORTUGUESA

Já por diversas vezes dei comigo a pensar no difícil que é governar em Portugal – não o é só em Itália. No país que, pela sua configuração geográfica, faz lembrar uma bota, qualquer actor cómico com jeito para a retórica e sobretudo para o gesto persuasivo pode botar figura e arranjar ao Presidente da República, um venerável ancião, um autêntico “par de botas”. Para lá dos Alpes, tudo é, porém, bem mais divertido: em cada extremo do palco um palhaço – um que quer à viva força governar e outro que usa a força súbita para não deixar ninguém ...

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DIVINA CONDIÇÃO

É o problema de sempre: não se tolera um ai a quem se crê ter o supremo dever de estar calado – o que não é, nem pouco mais ou menos, o mesmo que estar em silêncio! E àqueles que fazem da vida um exercício de dádiva aos seus concidadãos, que se esmifram e consomem num quase holocausto diário de entrega e dedicação não há quem lhes dê uma mão – a não ser para os empurrar ou agredir. É como os bombeiros: ah, eles são voluntários, então já têm a paga no gosto que lhes dá fazer aquilo que ...

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O PENDURICALHO

Comecemos por mais um dos raros motivos de orgulho nacional: Portugal deve ser um dos países onde mais elevada é a taxa de chaparia por centímetro quadrado de peito – peitos de alguns, está bem de ver! Claro que “nem tudo o que reluz é ouro”, mas que mal há nisso se o que verdadeiramente importa é que reluza? Sim, que o peito luso quer-se luzidio, mesmo quando o que reluz seja só por fora a reluzir… Que já não há muito com que enchamos o peito, que escasseiam reais motivos de orgulho, os únicos que o poderiam encher por ...

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QUE TEMPO ESTE!

Bem vistas as coisas, já não é só o tempo do boletim meteorológico (que doce que era a apresentação de uma menina que, diga-se, continua graciosa, chamada Teresa Abrantes!), já não é apenas o tempo climático que anda com o passo trocado, acusando, quem sabe, os efeitos do que se conhece como stress geopático. É o nosso tempo interior, o tempo da alma, que, como desde 1952 verificou W.O. Schumann, se alterou também: tudo parece precipitar-se como se tivéssemos sido tomados de estranha vertigem. Mesmo que isso soe a esquisito, uma certeza vos deixo: a Terra está doente, pois que, ...

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GREVE ASSIM, NÃO – É GRAVE!

Apesar do ascético exercício de pacificação interior que quotidianamente venho empreendendo, a verdade é que ainda há por aí umas coisas que conseguem irritar-me – e uma delas é precisamente as constantes greves no Metro de Lisboa. E, neste dia em que ensaio estas linhas, mais uma! E, neste caso, sem qualquer dúvida: tudo parado! Porque esta empresa tem uma vantagem física imbatível e inexpugnável: fecha todas as portas de acesso e pronto, não há nada para ninguém – que é o que interessa: atingir o maior número possível de pessoas, que o importante é fazer doer e, se possível, ...

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ESTRANHA MANIA

Se o mês de Junho é o mês de Portugal, o de Agosto é sobretudo o mês de os portugueses de fora a ele regressarem – é o tradicional mês dos emigrantes. E das palavras que se seguem a última coisa que quisera é que ressaltasse o mais leve vislumbre de desconsideração por estes nossos compatriotas que ousaram demandar o desconhecido e, assim, dar mais Portugal ao mundo. Não, é sobre nós – todos- que falo, sobre este nosso estranho modo de ser. Presenciei há dias um desses episódios que abundam neste tempo de férias e banhos: pais, com todo ...

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A PACIÊNCIA DOS DEUSES NÃO É ETERNA!

O mês de Junho, apesar de já ter passado, merece uma palavra especial – é que não passou o que nele se nos coloca de interrogação. De facto, o mês de Junho parece ser bom mês para se nascer (como é, por exemplo, o meu caso) e obviamente para se fazer anos (embora o que seria realmente interessante é desfazê-los!) – é, em qualquer caso, um mês de auspício, de luz, de calor. Mas é também o mês do meio e a partir do qual os dias começam a minguar. E simboliza algo de invencível: o facto de ao apogeu ...

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“MASSA À BOLONHESA”

Anda para aí tudo, outra vez, numa roda-viva – professores, alunos, pais, ministros, ministério, universidades. E, bem vistas as coisas, tudo por causa de Bolonha. Que é preciso acertar o passo com o futuro – uma aposta na ciência e tecnologia, na mobilidade e na empregabilidade. Mas que é isso de Bolonha, afinal? Claro que pretende ser muita coisa, mas o que é, no fundo, é uma metáfora da própria Europa. Os seus governantes, observando a caldeirada que tudo isto é, acharam que essa variedade estava a entravar a marcha triunfal de uma Europa que não havia meio de conseguir ...

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