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Este é o palco onde actuam os nossos governantes e mais uns quantos que os apoiam | Foto: Ernani Balsa

Com a cabeça entre as orelhas

Estou farto de me repetir e de lavrar aqui protestos contra o estado actual de Portugal. Essencialmente contra o governo de Portugal. Mais especificamente, contra os seus mais importantes representantes e responsáveis. Nominalmente, contra a pessoa que é Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro e líder de um partido, que não terá nascido com o ADN que ele, por vontade própria e conceito estratégico, alterou e subverteu, injectando-lhe um virus de doença maligna e propositadamente dolorosa e de cura duvidosa, apenas para servir os intentos daqueles que ele considera realmente os seus mentores, a banca internacional, os especuladores dos mercados e os opacos investidores que ditam todas as regras da economia mundial. Não tenho uma fixação especial na pessoa em si, mas a vida é assim…

Bastou assistir-se, mesmo à distância, ao seu último Congresso, para se avaliar do estado de decomposição, de pequenos ódios e de ufanas declarações de um protagonismo alarmante, que raia uma inconfessável auto-idolatria, e concluir-se que aquilo não é já nenhum PSD, mas sim uma amálgama de despotismo, populismo, caciquismo e mesmo novo-riquismo ideológico, que acha que só é politicamente in o estar-se do outro lado da barricada, contra tudo e contra todos, bajulando apenas os grandes manipuladores internacionais do descalabro total da economia virada para as pessoas, em contra ponto com a economia exclusivamente de mercados, que apenas se basta a si própria, na mira de lucros cada vez mais seguros e altos para os que pertencem ao clube dos privilegiados desta nova realidade global. Realmente, é muito mais proveitoso agora, resguardarem-se nos seus refúgios dourados e terem os seus lacaios espalhados pelo mundo a fazerem a sua política, o seu jogo sujo e a terem a ingrata misão de empobrecerem cada vez mais os trabalhadores, para lhes retirar espaço de manobra, dignidade e mesmo pão para a boca, de si e dos seus dependentes. É muito mais proveitosa esta globalidade de uma política de submissão e da proclamação de um mundo novo, mais pobre para os pobres e mais rico para os ricos. Sem subterfúgios nem cortinas a tapar as suas verdadeiras intenções. Tudo o resto é hipocrisia!

Este é o palco onde actuam os nossos governantes e mais uns quantos que os apoiam. O resto que os aplaude, não passam de uma claque à espera de migalhas que sobrem do lauto banquete com que eles esperam banquetear-se, se tudo lhes correr de feição. A populaça, são apenas figurantes contratados à força, diga-se sem pejo nenhum, obrigados a aceitar o papel, tendo por alternativa, tão só, o desemprego assegurado para toda a vida, a emigração ou o deambular pela vida, tendo como única saída a morte lenta. Há ainda os que nem sequer entram no espectáculo, são impurezas do sistema que nem sequer entram nas estatísticas tão caras ao governo, seres abreviadamente humanos que não contam para nada, porque a alta linhagem dos governantes não lhes permite contacto com tais espécimes. Depois, há a oposição, que no léxico do poder, se chama apenas Partido Socialista, mas que por tão inSeguro de si, não os amedronta, antes lhes faz até um certo jeito, dada a inconsequência da sua intervenção política. Têm os mesmos objectivos, ser poder alternante, que não alternativo, mas com o qual ainda não pensaram bem o que vão fazer, porque estão convencidos também que não é possível fazer diferente. Claro que temos ainda os Comunistas e os Bloquistas, mas esses não entram nem nos ensaios, uns porque são comunistas, ponto final e os outros porque cada vez se sabe menos o que são. Quanto a todo o resto que protesta, são espúrios dessa coisa a que se chama displicentemente, pessoas sem rei nem roque, que não sabem muito bem o que querem, embora saibam quase unânimemente o que não querem, ser roubados e governados por gente de mau porte.

É este o país que temos, em vésperas da tão anunciada partida da Troika. Mas acautelem-se porque se a Troika sair, outros hão-de vir, até porque como nada melhorou, nós vamos continuar a funcionar com empréstimos e mais empréstimos a serem pagos com língua de palmo, o que muito agrada aos mercados. É a melhor maneira de nos ter pela trela e continuarem a impor as suas normas de superior sapiência, que jamais nos colocarão em posição de voltarmos a reconquistar a soberania nacional, com que muitos ainda sonham. Aliás, se estivermos atentos, estes últimos dias têm sido um verdadeiro festival de venda e compra de dívida, que é uma coisa que ninguém entende. Bom seria que o Governo conseguisse explicar aos portugueses o significado e objectivo de todas estas transações semi-virtuais, mas como é sabido, o poder considera que os Portugueses não estão ao nível de tão complexas operações e nada compreenderiam pois o seu conhecimento ao nível dos mercados, fica-se pelo da Ribeira, Bolhão e mais uns quantos regionais. Suspeita-se, no entanto, que tal febre de vendas e compras terá a ver com a necessidade de se arranjar uma almofada financeira, para deslumbramento da populaça, em ano próximo de eleições, distribuindo chupas-chupas e rebuçados pelos mais necessitados, para revitalização e ajustamento da sua capacidade eleitoral, consubstanciada na engorda das urnas do PSD, para que a récita possa continuar por mais um mandato, sem interrupções contraproducentes.

E assim se vive em Portugal, uns por lá e outros cá, democratas e certinhos como convém, de brandos costumes e ordeiros, uns pontapés na Constituição aqui, umas caneladas no árbito, leia-se Tribunal Constitucional, acolá, o Mundial de futebol já a anunciar a quermesse da abstracção geral, mais uns festivais de Verão e uns concertos do Tony Carreira, umas Casas do Segredo e uns quantos escândalos para apimentar a coisa e cá vamos cantando e rindo com a cabeça entre as orelhas… Já não é mau!…

Ernani Balsa

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Estou farto de me repetir e de lavrar aqui protestos contra o estado actual de Portugal. Essencialmente contra o governo de Portugal. Mais especificamente, contra os seus mais importantes representantes e responsáveis. Nominalmente, contra a pessoa que é Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro e líder de um partido, que não terá nascido com o ADN que ele, por vontade própria e conceito estratégico, alterou e subverteu, injectando-lhe um virus de doença maligna e propositadamente dolorosa e de cura duvidosa, apenas para servir os intentos daqueles que ele considera realmente os seus mentores, a banca internacional, os especuladores dos mercados e os…

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