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CPLP – Identidade Nacional vendida à fatia

Ernani Balsa

Ernani Balsa

A Língua Portuguesa, falada em todos os países onde Portugal já foi soberano e que a mantiveram como língua oficial, julgo ter sido o elemento catalisador que levou à constituição da CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa. O simples, mas significativo facto, de todos os países integrantes terem mantido, desde a sua primeira ligação a Portugal, a língua de Camões, terá constituído esse forte laço que nos manteve unidos numa identidade Lusófona que todos partilhamos.

Quando, em 2010, o Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, apresentou oficialmente um pedido para adesão à CPLP, a coisa pareceu-me algo absurda, mas vindo de alguém com o perfil ditatorial da pessoa em causa, pareceu-me mais um daqueles caprichos insondáveis que os pequenos ditadores às vezes têm, para tentarem parecer honoráveis no seio de uma qualquer organização internacional e assim disfarçarem a sua verdadeira faceta de pessoas que desprezam os direitos e a condição humana dos seus cidadãos. Considerei, portanto, que a recusa então feita, por parte da diplomacia portuguesa a tal veleidade, encerraria o assunto. Mas não encerrou, porque ele, insistindo, avançou autonomamente com um pacote de iniciativas com o intuito de poder vir a encaixar a sua pretensão nas linhas mestras daquilo que a CPLP impõe, duma forma algo bondosa, como requisitos para uma hipotética candidatura. Como prova de “boa vontade”, elevou a Língua Portuguesa a língua oficial, depois do espanhol e do francês e “promoveu” o seu ensino. Que ensino, a que nível e abrangendo que parte ou percentagem da população, pouco se sabe. Por outro lado, como as questões do respeito pelos direitos humanos era um dos principais entraves, num país com regime ditatorial e com pena de morte na sua prática jurídica, logo tratou de dar a ideia que se sujeitaria ao regime jurídico dos restantes países da Comunidade, com promessas de que, no limite aceitaria abolir a pena de morte. Nada disto ainda é seguro, mas a sua proposta de adesão continuou, desde então em cima da mesa e a CPLP ter-se-á comprometido a analisá-la.

Confesso que tudo isto me parece uma história mal contada e de mau gosto. Uma coisa é um número de países bem identificados, terem a Língua Portuguesa como seu acervo, herança essa que vem desde há séculos e outra é um país que já tem duas línguas oficiais, decidir, dum momento para o outro que também vai adoptar a nossa língua. Só porque sim!,,, Ou, por outra, porque lhe dá jeito. A Guiné Equatorial tem com Portugal, as mesmas relações e afinidades que muitos outros estados e regiões também têm, fruto do comércio de pessoas (escravos) e bens durante a época gloriosa dos Descobrimentos e pouco mais, sendo que a maior proximidade com território e cultura portuguesa, vem da proximidade de S. Tomé e Príncipe, enquanto territórios ultramarinos portugueses até à sua independência.

Repugna-me, assim, que a CPLP, e Portugal em especial, possa admitir que um país, ainda por cima com graves problemas de exercício de um poder ditatorial e repressivo do seu próprio povo, apenas pelo facto de dizer que vai passar a falar também o Português, possa vir juntar-se a uma comunidade que, para o bem e para o mal, conviveu, com todas as infâmias e virtudes que são conhecidas, durante séculos, partilhando muitas das suas diferentes vivências, mantendo e projectando uma cultura miscigenada, sobejamente conhecida e apreciada. Esta integração cultural, social e mesmo emotiva, tem razão de ser e por isso os países que integram a CPLP, têm toda a legitimidade para a encarnar numa verdadeira comunidade de povos com tradições e história comuns e agora com futuros autónomos e livres, mas não um qualquer país que se proponha comprar uma identidade que não lhe pertence nem corre nas veias.

A identidade nacional não está à venda! Ou, em última análise, nunca deveria estar, mas parece que agora vale tudo e quem nos governa, não se importando de entregar a soberania económica do país a terceiros, também já não se importa em vender a identidade nacional à fatia, permitindo que um ditador se misture com a democracia que tanto nos custou a conquistar, dela usufruindo enquanto continua a reprimir os seus concidadãos. Claro que por detrás de tudo isto estarão interesses ocultos, que beneficiarão quem sempre deles beneficia. Mas Portugal, não indo ainda aos mercados, também não está no mercado para venda a retalho e o governo, por mais forte maioria que tenha, não é dono de Portugal, a não ser que queira decretar, por maioria também, a ditadura. Eu sei que não faltam por aí apologistas desta solução, se isso fosse possível dum modo que não escandalizasse os mercados… É que os mercados não gostam de fazer negócio com ditaduras, mas não se importam se todos acordarem em chamar-lhes democracias bem comportadas.

E já agora, que estamos em maré de referendos, porque não fazer um referendo a esta venda da nossa identidade nacional ao Senhor Obiang!?… Esta sim, era matéria para pôr o povo a dizer de sua justiça!…

Por: Ernani Balsa
“escreve sem o acordo ortográfico”

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