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O QUE NOS FAZ FALTA…

Demissão deste governo?… Sim!
Eleições?… Sim!
Mas será apenas isto que nos faz falta!?…

Ernani Balsa

Ernani Balsa

Na situação em que o país se encontra, é tão vasta a quantidade e qualidade de soluções e projectos que nos faltam cumprir, que estas duas urgências acima referidas, são mesmo só isso. Urgências, que são preciso ultrapassar, sem hesitação, mas não sem a reflexão e o bom senso que se impõem.
O tecido social, político e ideológico está de tal maneira coçado, qual manta através da qual os finos e frágeis fios que lhe aguentam ainda a textura, deixam inexoravelmente passar o frio e o desconforto de todo um povo, que muito cuidado se deve ter para que os excessivos maus tratos que se tem dado ao agasalho, não resulte em rasgões irremediáveis e continuados, até ao esfrangalhamento total daquilo que conquistámos depois de 48 anos de vida, inquestionavelmente abaixo das nossas possibilidades.
Algo mais que dois actos constitucionalmente previstos, a demissão e a convocação de eleições, vai ser absolutamente necessário para reencaminhar este país perdido, desorientado e manipulado. A demissão é um acto de nítida emergência, qual o estancar duma hemorragia fatal… Já as eleições, são apenas um processo de recuperação, com efeitos secundários e que, se não acompanhado de cuidados especiais, levará certamente a nova recaída, que poderá tornar-se ainda mais destruidora das escassas defesas de que o paciente nunca deixou de necessitar. Eleições, neste cenário que durante 39 anos foi sendo montado, qual circo democrático para conforto e entretenimento duma maioria, que entre eleições se alheia da vida comunitária, de pouco servem, porque, pura ilusão, os votos, por si só, não legitimam ninguém nem correspondem a boas prática de governação e respeito pelas populações. Todos os dias e a todo o instante temos de renovar o nosso voto, avaliá-lo e brandi-lo à frente de quem se disponibilizou a dele fazer uso para o bem colectivo e encontrarmos maneira de levar os governos ao exercício de uma governação honesta e consequente, lembrando-lhes sempre que são eles que estão ao nosso serviço e não o país que se deve prostrar perante a sua prosápia e possidónia inabilidade, e muito menos a sua má-fé e desonestidade… Nenhum governo é legítimo se não respeitar as suas próprias promessas e o país que jurou servir.
O que faz falta, é portanto, uma constante tarefa de verificação da qualidade da nossa democracia e das formas de governo. É um esforço nacional. Um acto permanente de cidadania, mas cidadania activa e efectiva. Os cidadãos têm de sê-lo a tempo inteiro e para isso devem disponibilizar-se para constituírem as mais diversas formas de monitorização das instituições. São necessários movimentos, associações e plataformas que constituam uma consciência colectiva, que não mais permita que sejam apenas os partidos e as suas máquinas a ditarem o que é e o que não é. Os partidos são instrumentos legítimos e louváveis numa democracia plena, mas a democracia não se esgota neles. O cidadão independente, lúcido e responsável tem que ter também o seu lugar e as mesmas possibilidades de servir o país com o seu contributo a todos os níveis. Os partidos não se podem sobrepor à entidade mais importante de qualquer país, os seus cidadãos e ao próprio país. Acima de tudo, não podem servir-se das suas estruturas para controlarem e limitarem os seus apoiantes e muito menos toda a população de um país, só porque podem constituir maiorias no parlamento. A aritmética das maiorias só funciona quando para além dela existe uma maioria de bom senso e respeito por todos os outros. Não precisamos de capatazes nem de carcereiros. Precisamos de líderes com visão estratégica, com honestidade e acima de tudo, com humanismo. Mas de verdadeiros líderes, que tanto se assumam a nível interno, como a nível externo, e tenham uma espinha dorsal a toda a prova, que não os leve a vergarem-se à mais leve pressão exercida por quem julgue que pode mandar num povo que é independente há séculos.
A própria Europa pode ser uma ideia positiva, mas não se pode substituir aos países. A ideia de que a Europa a tudo se pode sobrepor, é em si mesma, um atentado à soberania dos povos que a constituem. A sua componente económica e financeira deve estar em equilíbrio com as componentes políticas, sociais e culturais, sob pena de se perderem todas as identidades dos seus povos e nada se ganhar, porque não é possível nem desejável inventar uma nova identidade europeia, porque essa é subjacente à soma das diferenças de todas elas. À sua complementaridade. Ao respeito que todas elas devem merecer na unidade e diversidade de cada uma.
Internamente, Portugal precisa de se reconciliar consigo próprio. Acreditar que é possível reerguer-se sem perder a sua soberania. Reencontrar-se nas diferenças e consonâncias, que mais do que nos separar, nos devem levar ao encontro de uns e outros. Os portugueses têm de acreditar que não é na subserviência de uns perante os outros, nem nas trincheiras inexplicavelmente cavadas entre gerações, profissões e corporações, sectores público e privado, regiões ou opções ideológicas, qualificações académicas e formação, que reside a competitividade e o direito ao progresso. O nosso futuro reside na universalidade e integridade de múltiplos projectos, a vários níveis, todos eles concretizáveis e reflexo de inúmeras potencialidades que até aqui têm sido menosprezadas. A cultura, o conhecimento, a investigação e a aposta numa educação competente e disponível a vários escalões das nossas necessidades evolutivas, tem de ser uma realidade que não se baseie apenas numa luta constante entre pequenas vaidades e egoísmos, que se traduzem num salve-se quem puder, que muitos ainda associam a um errado conceito de competitividade e de sucesso. O sucesso só é válido quando for benéfico à maioria e representar, não uma sociedade cientificamente sem classes, mas sim uma sociedade diversificada, e equilibrada sob o ponto de vista das necessidades básicas de desenvolvimento que a todos faculte oportunidades.
Faz falta também a Portugal saber arriscar e não escolher sempre os mesmos. Dar oportunidade a todas as forças políticas com raiz democrática e abrir caminho a novas formas de exercer o poder, de constituir coligações, de encarar os desafios com abertura e sentido de responsabilidade, venham de onde vierem essas capacidades e esses empenhos. A alternância, como solução única, é inimiga das alternativas que podem existir e nunca ninguém pôde por em prática. Outras formas de exercer cidadania, mesmo fora dos partidos ou em conjugação com eles, podem trazer à política agentes muito mais dotados, que até aqui não têm tido aceitação, só porque não se submetem a disciplinas e práticas partidárias. Democracia é tudo isto e todas as outras alternativas que respeitem o significado desta via de organização em sociedade.
Por tudo isto, são bem-vindas, todas as iniciativas de aproximação entre os portugueses e uma inequívoca recusa ao aparecimento de messias ou salvadores da pátria. É no conjunto da sociedade que se pode encontrar a solução e nunca numa personalidade qualquer que se sinta investida dum qualquer dom mágico de a todos se sobrepor. É certo que precisamos de líderes, mas líderes não são salvadores, são cidadãos honestos e íntegros, capazes de congregar esforços colectivos, de agilizar projectos de especialistas ou até mesmo do cidadão comum e de ajudar a criar uma força anímica comum a todos os estratos da população. São, acima de tudo, pessoas honestas, desprendidas do poder, mas que com ele conseguem construir pontes e alcançar objectivos, cidadãos de boa vontade e úteis ao país e não cidadãos que se sirvam do país…
O que nos faz falta é aquilo que a maioria dos responsáveis pelo destino deste país, durante os últimos anos, não nos tem dado.
O que nos faz falta são cidadãos honestos com o sentido do dever e de servir Portugal e os portugueses!…

Por Ernani Balsa
“escreve sem o acordo ortográfico”

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