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16,8% da população prisional em Portugal sofre de PHDA

16,8% da população prisional em Portugal sofre de PHDA

Dr. Joaquim Cerejeira, professor da FM da Universidade de Coimbra

Um em cada cinco presos, sofre de perturbação da hiperatividade, segundo um estudo que contou com a participação de reclusos com menos de 65 anos de idade, no Estabelecimento Prisional de Coimbra.

Este estudo, o primeiro que se realiza em Portugal, sobre PHDA, numa população prisional, conclui que 16,8 por cento dos presos, sofre de Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA).

“De forma geral, este estudo aponta para uma prevalência superior de PHDA na população prisional em comparação com a população em geral. A investigação indica ainda maior comorbilidade psiquiátrica entre os reclusos com PHDA, como altos níveis de perturbação obsessiva-compulsiva, depressão, ansiedade e sintomas de paranoia, bem como início precoce da criminalidade e reincidência”, explica Joaquim Cerejeira, psiquiatra, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e presidente da Associação Cérebro & Mente.

E acrescenta: “O estudo revelou ainda que o grupo de reclusos com PHDA apresenta mais experiências adversas na infância, maior consumo de estupefacientes previamente à reclusão, maior taxa de reincidência criminal e níveis mais elevados de psicopatologia atual e traços psicopáticos”.

“Estes dados realçam a necessidade de diagnóstico e tratamento atempado assim como desenho de intervenções psicossociais nos reclusos. Os delinquentes adultos com PHDA são frequentemente mal diagnosticados ou nunca foram devidamente rastreados, o que torna difícil o seu encaminhamento para os serviços de saúde mental”, refere Joaquim Cerejeira.

As conclusões deste estudo indicam ainda que o correto diagnóstico e tratamento (farmacológico e não farmacológico) de PHDA na infância ou mesmo na idade adulto pode ter efeito benéfico sobre os caminhos para o comportamento delinquente, prevenindo a criminalidade.

O estudo envolveu 101 reclusos, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos, com inteligência normal (QI superior a 85), sem qualquer outra doença psiquiátrica, do Estabelecimento Prisional de Coimbra.

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma doença neuropsiquiátrica crónica que se carateriza pelo excesso de atividade motora, impulsividade e/ou desatenção, em maior frequência e gravidade do que habitual, perturbando negativamente a capacidade para estudar, trabalhar ou ter relacionamentos familiares e sociais.

As pessoas com PHDA habitualmente demonstram, na vida adulta, uma atividade mental incessante, dificuldade em manter a atenção na leitura ou na televisão, fraca concentração e procura constante de sensações fortes e de gratificação imediata, o que pode resultar em comportamentos “viciantes”, como abuso de drogas, álcool, jogos e internet.

Joaquim Cerejeira
Professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e presidente da Associação Cérebro & Mente

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