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A ditadura da teimosia

Pior do que um teimoso, só um Primeiro-ministro teimoso. Pior do que um Primeiro-ministro teimoso, só um país que o atura e não toma consciência de que é urgente acabar de vez com a sua teimosia.

O cidadão Pedro Passos Coelho, que em determinada altura tomou conta do país, assente numa maioria fabricada com um lunático, ainda não compreendeu que o Governo não é o País, nem o País se resume ao Governo. Pior ainda, o cidadão Pedro Passos Coelho, dirigente do PSD também anda convencido que o PSD é o País e Paulo Portas, que o CDS-PP é uma região autónoma do País. Andam todos baralhados com o poder que lhes caiu na mão e chegaram a um ponto em que já nem sabem o que hão-de fazer para chegarem a bom termo, ou seja, não desarticularem de todo o que sobra de Portugal.

Seria bom que alguns políticos, quando chegam ao poder, não pensassem que o País passa a pertencer-lhes e que tudo lhes é permitido, desde que invoquem a legitimidade que lhes é dada pelo voto. A um líder não basta invocar a Democracia e colocar-se no seu vértice, qual estrela iluminada ou farol no meio dum deserto. A luz que se espalha apenas serve se tiver em conta os obstáculos que detecta e assim encontrar o rumo certo. Mais do que iluminar, o farol deve servir para o ajudar a chegar a bom porto, tendo em conta a segurança e bem-estar da tripulação. Não é ele a luz, mas sim o caminho do feixe de luz que o ajuda a cumprir os anseios de quem governa.

Pedro Passos Coelho, só não é um ditador porque o regime não é uma ditadura e ele não tem coragem suficiente para mudar o regime. Se ele fosse um pouco mais arrojado, seria isso o que ele faria e acreditaria estar a fazer o correcto. A chatice toda é que a Europa não iria aprovar tal arrojo e ele não tem coragem para enfrentar a Europa e dentro desta, aqueles que ele idolatra e que, quando ele cair em desgraça, lhe darão as sopas que lhe permitirão viver num estado de sem-abrigo dourado.

O braço de ferro a propósito da manutenção do Ministro da Educação e da Ministra da Justiça, com os ministérios a desmoronarem-se lentamente com demissões menores, são a imagem de marca da intolerável teimosia de um Primeiro-ministro, que governa como se fosse o dono da política nacional, como se a sua gestão fosse única, infalível e intocável. Ele julga-se um líder acima de qualquer crítica ou contestação e nem mesmo quando os seus ministros erram declaradamente, cometem erros crassos até, e ainda por cima descarregam arrogância sobre todos quantos os contestam, ele reconhece que é impossível manter em funções pessoas que cometeram incompetências verdadeiramente indesculpáveis. Os ministros podem até não ser incompetentes, mas os actos de incompetência têm de ser assumidos e daí serem tiradas as devidas consequências políticas e quando isto acontece, as pessoas em causa deixam de ter condições para ocuparem o lugar de que são responsáveis, precisamente porque foram irresponsáveis.

O Primeiro-ministro, para além de teimoso é birrento. Teimosamente arrogante porque não sabe reconhecer quando erra ou quando o seu Governo comete erros de palmatória que prejudicam de forma grave o normal funcionamento das instituições. Porta-se como o patrão intolerável e rabugento que acha que os seus funcionários são todos uns incompetentes, piegas e mal agradecidos e que só ele sabe conduzir o negócio de mercearia, com laivos de loja gourmet, para deslumbrar os seus amigos europeus, protegendo sem limites o seu clã de capatazes, mesmo quando estes ultrapassam as suas competências e se mostram incompetentes.

Pior do que um Primeiro-ministro teimoso é um Primeiro-ministro teimosamente incompetente.

Ernani Balsa
“escreve sem acordo ortográfico”

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