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A INDEPENDÊNCIA DOS INDEPENDENTES EX-DEPENDENTES

Na preparação destas eleições autárquicas a coisa não está fácil mesmo.

P.Guedes de Carvalho

Como é que eu posso fazer crer que não tenho nada a ver com aquele partido se nele militei e com ele me tornei popular desde sempre? A resposta obriga a que se mostre que se é independente e que se pareça que é mesmo independente como à mulher de César. Um bocado parecido com os ex-fumadores, toxicodependentes, alcoólatras e adictos em geral. Recordo-me que, em tempos idos, um dos primeiros autarcas que foi obrigado a fazê-lo perdeu rotundamente as eleições quando se quis aventurar sozinho como independente. Ele bem clamava aos 4 ventos que era independente mas o povo que sempre o elegera não acreditou na história. Não foi pelo Partido porque o partido não o escolheu a ele (Matosinhos – Narciso de Miranda) e isso o povo percebeu.

Depois temos os casos daqueles que tendo sido sempre acérrimos defensores de um município, acham que podem ser igualmente bons autarcas noutros municípios. E aí o povo acha que o problema é que eles não querem mesmo deixar o poder; gostam apenas de mandar e de ter poder, ou seja, se não for aqui que seja ali a mais 50Kms. E a malta começa a ver e fazer contas e 12 anos num mais 12 anos noutro é uma vida!!, naah, é melhor não acreditar. Posso-me enganar muito mas o que vai acontecer é que esses disfarces não vão pegar e a sabedoria do povo far-se-á sentir nas urnas em favor daqueles que não usaram truques e se assumiram com as ideias que sempre tiveram. Não é fácil fazerem-me crer que a pessoa deixa de ter as ideias que sempre teve ao longo do tempo e passa a ser independente dessas mesmas ideias; ou, de outro modo, uma pessoa que sempre serviu e se serviu do aparelho do partido para se tornar popular por boas razões de repente esquece tudo isso e passa a defender outras ideias diferentes e concorre contra o seu próprio ex-partido. Naah, também não se acredita mesmo nada.

As regras deste jogo podem ser analisadas em comparação com o que se passa no desporto e na competição e tudo parece poder ficar mais claro e transparente. Vejamos.

Quando um treinador ou jogador tem enorme sucesso num determinado clube de topo nacional e pretende sair ele quer sempre rumar a um clube e país onde esse desporto seja mais conceituado como que desejando mostrar que é capaz de obter sucesso noutras paragens mais exigentes. Quando ele treina ou joga num clube regional e se muda para outro da mesma competição sabe que está sujeito a ser apupado por todos uma vez que ele defendeu as cores do rival directo. E no desporto estamos a lidar apenas com sentimentos e emoções de profunda identificação com a instituição, bairro ou clube. Nenhum adepto gosta muito de ver um jogador ou treinador que militou no seu clube mudar-se para o rival directo. E deixa de acreditar nesse jogador/treinador mesmo que lhe reconheça as suas habilidades e qualidade (lembram-se do Figo quando rumou a Madrid?).

Será que na política a coisa pode ser vista da mesma maneira? Então um autarca que tudo fez para atrair qualidade de vida e investimentos para um determinado município vai agora mudar-se para o vizinho com quem compete directamente? Eu diria que pode e até deve.

O jogo entre autarquias vizinhas é completamente diferente. Alguém tem dúvidas que a área metropolitana do Porto só ganha força, prestígio e poder reivindicativo se houver projectos comuns às autarquias que a compõem? Alguém acha que o Porto ganha se for às custas de Gaia, Matosinhos ou Maia ou acredita-se que o Porto ganha com uma Gaia, Matosinhos e Maia fortes e coesas? O mesmo se diga com Lisboa, Sintra, Loures e Oeiras. O chamado jogo das complementaridades e redes de ganhos mútuos que o nosso país, talvez por ser pequeno e marcado pela enorme herança medieval, nunca esteve habituado a pensar.

Pessoalmente sempre gostei de me rodear dos melhores pois sentia que com eles podia crescer e evoluir. Infelizmente ainda há muitos que gostam de se rodear dos medíocres pois só dessa maneira conseguem dar alguma coisa nas vistas. Mas isto muda. Ai muda muda!

Por: Pedro Guedes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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