A Urgência de uma Resposta Coordenada às Crises AtuaisNos últimos dias, três temas têm marcado a agenda mediática nacional, espelhando a gravidade dos desafios que o país enfrenta: a chegada de 230 bombeiros espanhóis para reforçar o combate aos incêndios que fustigam diversas regiões, incluindo Gondomar, onde várias habitações foram evacuadas; o relato perturbador de uma tentativa de violação de uma criança em Armação de Pera, prontamente impedida pela intervenção dos pais; e o alerta lançado por cientistas para a necessidade urgente de planos de adaptação à subida do nível do mar e a criação de sistemas de aviso precoce para prevenir inundações costeiras.
Apesar de serem notícias que, à primeira vista, podem parecer independentes, todas apontam para um denominador comum: a falha na criação de uma estratégia integrada e de longo prazo por parte do Estado, capaz de antecipar e mitigar crises. Este vazio estratégico não pode continuar a ser ignorado, sob pena de comprometermos o futuro do país.
Incêndios florestais: A necessidade de prevenção antes da tragédia
Ano após ano, os incêndios florestais consomem vastas áreas do território nacional. O esforço incansável dos bombeiros, muitas vezes auxiliados por equipas estrangeiras, como os 230 bombeiros espanhóis que chegaram para reforçar os trabalhos no terreno, tem sido fundamental para controlar a devastação. Contudo, este esforço heroico não pode continuar a ser a nossa única resposta. Estamos a lidar com o problema de forma reativa, em vez de atacarmos a sua raiz.
A prevenção deve ser a palavra de ordem. Portugal precisa urgentemente de políticas de gestão florestal que garantam uma manutenção eficaz das áreas de risco, de forma a reduzir a probabilidade de incêndios de grandes proporções. A utilização de novas tecnologias para a monitorização em tempo real e o envolvimento das populações locais na defesa da floresta são apenas algumas das medidas que precisam de ser tomadas com seriedade e urgência. Este é um desafio nacional que requer coordenação entre autarquias, governo central e sociedade civil.
Segurança infantil: Um problema que não pode ser negligenciado
O segundo tema que chocou o país foi a tentativa de violação de uma criança em Armação de Pera, frustrada pela rápida atuação dos pais. Este incidente lamentável relembra-nos a urgência de reforçar os mecanismos de proteção infantil. Não podemos esperar que sejam apenas as famílias a agir em casos de perigo. O Estado tem a responsabilidade de criar e garantir a eficácia de sistemas de prevenção e resposta rápida que protejam as crianças de forma integral.
A proliferação de crimes sexuais contra menores exige uma atuação mais eficaz das autoridades. As campanhas de sensibilização e a criação de unidades especializadas em crimes contra menores, capazes de atuar preventivamente, devem ser uma prioridade. Mais do que uma resposta punitiva após o crime, é essencial investir em programas educativos que envolvam escolas, pais e comunidades na promoção de uma cultura de proteção.
Alterações climáticas: Um futuro que já está a acontecer
As alterações climáticas não são uma ameaça futura, são uma realidade presente. O alerta dos cientistas para a subida do nível do mar e o aumento do risco de inundações costeiras deve ser levado muito a sério. Portugal, com a sua extensa faixa costeira, está particularmente vulnerável a este fenómeno, e a ausência de planos concretos de adaptação é um erro estratégico que pode ter consequências desastrosas.
A criação de sistemas de aviso precoce é uma medida fundamental, mas não suficiente. Precisamos de investir em infra-estruturas costeiras, como barreiras contra inundações, e repensar a organização territorial em zonas de risco. A sustentabilidade urbana e a resiliência ambiental têm de estar no centro das decisões políticas, sob pena de vermos cidades como Lisboa, Porto e outras áreas costeiras à mercê de catástrofes naturais.
O Estado que reage ou o Estado que antecipa?
Estes três casos — incêndios florestais, segurança infantil e alterações climáticas — têm em comum a necessidade de uma resposta integrada, eficaz e coordenada. Portugal não pode continuar a agir de forma dispersa, limitando-se a reagir a crises em vez de as antecipar. É urgente que o país adote uma visão estratégica, que olhe para além do imediato e planeie soluções de longo prazo.
A falta de uma estratégia articulada é um problema sistémico que precisa de ser resolvido com medidas concretas e sustentadas. O tempo para reagir está a esgotar-se, e o futuro de Portugal depende da nossa capacidade de nos adaptarmos às novas realidades. O país tem de optar entre ser proativo na defesa dos seus recursos e das suas populações ou continuar a viver à sombra da imprevisibilidade.
Lino Gonçalves,
Diretor de Informação
iPressJournal.pt