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AFINAL COM QUEM E COMO SE APRENDE?

P.Guedes de Carvalho

P.Guedes de Carvalho

As conversas com outras gentes diferentes dão-nos sempre novas hipóteses de vida, novos fôlegos. Keynes dizia há muitos anos que a sociedade estava a evoluir num sentido para o qual cada um de nós só teria que trabalhar 4-5 horas por dia. Ninguém o quis ouvir seriamente. Era mesmo verdadeira e fundamentada a sua análise: se cada um de nós fosse dono da sua secção do trabalho facilmente encontraria vários colegas que dispensaria pelo facto de, no limite, não acrescentarem nada ao valor do que faz na empresa/ instituição. As tecnologias têm substituído a nossa força braçal de trabalho. No regime socialista ensaiado nos anos 1917-1989 não havia desemprego porque a todos era garantida uma tarefa, mesmo que improdutiva: importante era a dignidade humana e não tanto a riqueza gerada. Hoje em dia passa-se o mesmo, ainda que disfarçadamente. Produzir terminou, colapsed, non sense. Hoje é só serviços. Quem ajuda alguém que produz a vender seus produtos para manter seu brinquedo.

Na administração pública é conhecido o ditado: “não faltes muito ao serviço, pode o chefe descobrir que não és mesmo necessário”.

Cada vez mais se tem pugnado para que cada pessoa demonstre o que traz de novo à sua organização. Só dessa forma merecerá ser contratado e será digno de um salário. Sim. Já pensou bem o que acontece à sua empresa se faltar um dia? E uma semana? O que se nota e quem nota? Pouco? Poucos? Oh diacho! Isso não é bom sinal.

Afinal o que e com aprendem os alunos de uma escola ou universidade?

Fiz uma recolha de opiniões sinceras, nada de muito científico e consegui extrair algumas conclusões que merecem esta reflexão alargada. Nesta amostra não organizada de diversas opiniões constam familiares, amigos, mais idosos e mais novos, autarcas e empresários e mesmo um político (sério) que consegui encontrar de entre os meus amigos (declaro já o conflito de interesses).

A base das perguntas era simples, muito simples.

Com quem e como aprendeste o que hoje valorizas na tua vida?

Estudar na escola fez-te bem? A quê concretamente?

Ouvi, ouvi, vi, observei e concluí: ninguém se lembra o quê, mas toda a gente se recorda com quem aprendeu. Brutal, não acham? Com esta idade provecta que tenho consegui atingir a consciência de que o que fiz ao longo desta vida foi resultado muito mais das histórias que contei e dos conselhos que dei do que dos conteúdos e pseudo conhecimentos que ensinei!

Toda esta juventude tinha razão, in advance! É na relação humana que está a aprendizagem. Quem pensa que vai “fazer seja o que for” está muito enganado. Nós só faremos alguma coisa com os outros, isto se eles não quiserem destruir algumas boas ideias. Faremos bem o que liderarmos bem! O que os meus alunos hoje são depende em muito, daquilo que eu fui com eles.

Um dos meus filhos disse-me em tempos: “tive 3 professores na vida que me marcaram profundamente para as decisões que hoje tomo”. Eu quis esmiuçar porque não queria acreditar. E ele conseguiu explicar exactamente o que cada um conseguiu transmitir-lhe. O que ele não conseguiu explicar foi naquilo que todos os outros professores o ajudaram. E eu senti-me manifestamente melhor. UHF! Uma esperança: posso estar nesta parte dos que, não sendo lembrados posso ter contribuído nalguma coisa para este jovem brilhante!!

Afinal não serei um inútil. O que faço eu na vida? Procuro que alguns jovens que se me atravessam na vida aprendam alguma coisa, a propósito da Economia.

Mas confesso que continuo a acreditar que tenho proporcionado bons momentos a quem frequenta os meus cursos. Contudo acho que pode estar a diminuir a credibilidade dos meus conteúdos. Se fosse tudo como eu digo os alunos têm direito a pensar que o mundo estaria ou deveria estar bem melhor.

Reparem nas reformas, isto é, valor retribuído a quem descontou durante vários anos uma parcela de seu rendimento para um dia que não trabalhasse mais pudesse ter uma salvaguarda para quando não trabalhasse mais. No fundo, um contrato feito entre um cidadão e o dito Estado, pessoa de bem.

Passados 40 anos, cansados mas esperançados, chegou o momento da verdade. Digam lá quanto têm para me dar? Resposta anónima: “não tem ainda direito; se for agora só lhe poderemos pagar 60% do que nos entregou.

Desculpe? Que disse?

Sim, isso que ouviu, 60% do que entregou; o resto é para pagar reformas (afinal todos têm direitos) aos outros que, apesar de não terem descontado tantos anos também aderiram ao sistema, certo?

Não entendi bem. Afinal eu aprendi com quem não devia numa altura, para resolver problemas que são decididos por quem não devia, hoje.

Ando mesmo fora do tempo, não acham?

Mas vou ser sincero. Estou a ser egoísta. Eu afinal aprendi certo, com a gente certa e pessoas de bem e não me vou agora reformar por tuta e meia. Vou manter-me no sistema e eles vão ter que me expulsar mesmo que não produza há muitos anos. Afinal quem vai reparar que estou velho, sem força e que não contribuo mais para o valor acrescentado na função pública. Afinal não lhes vou dar a oportunidade de expulsarem ou convidarem a sair alguém que não produz nada para o sistema e, pior ainda, que andava a Infestar o sistema com influências nefastas sobres os jovens,

Vade retro satanás!

Por: Pedro Guedes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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