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AINDA HÁ RESISTENTES NO INTERIOR PROFUNDO

P.Guedes de Carvalho

P.Guedes de Carvalho

E não tinha a mínima ideia sobre o que escrever quando cheguei a casa 5 minutos antes da meia-noite de 20 para 21. Sem que nada fizesse esperar, a minha filha, que vive e trabalha no Porto, aparece-me atrás do muro da varanda para me dar um abraço de parabéns. Verdade faço anos hoje e fiquei muito feliz por vê-la e abraçá-la. Sobretudo quando ela me disse, abraça com mais força. Com efeito vejo-a muito poucas vezes e a ultima vez nada agradável, por ocasião do falecimento de meu irmão, seu tio. Que diferença dos abraços!!!

Como é possível que dois gestos idênticos (abraços) sejam sentidos tão diferentes?
Contextos, dir-me-ão vocês, contextos.

Festejar a vida e a lamentar a morte é com efeito muito diferente. E depois parece que nem poderíamos ficar felizes quando a ordem é morte-vida. Não, eu quero mesmo celebrar a vida.

Tinha acabado de chegar a casa mais tarde pois fui assistir ao lançamento de um livro de um querido amigo, o Fernando Paulouro, jornalista romancista poético do interior, diretor do J fundão durante muitos anos que nunca sucumbiu à tentação e se retirou com a coluna hirta, antes que apodrecesse às mãos do neoliberalismo que grassa por estas empresas media em geral. Linda festa e homenagem, ibérica, sem lamechices e muito brio.

Estava a ouvir as frases de ilustres figuras presentes e veio-me uma ideia: gostava de ser recordado assim um dia. Mas infelizmente já não irei a tempo. É preciso muita coragem. A terminar ouvi um presidente de Câmara de saída que, ao fim de 31 anos de experiência autárquica deixa obra que veja e mais de 100 milhões de euros entre os cofres da Câmara e dos Serviços municipais. É obra.

Vinha no carro de regresso a pensar com os meus botões: então se este sai com obra imensa feita e deixa 100 milhões nos cofres da autarquia, esse deve ser o valor com que outros em redor por esse país fora se devem ter abotoado, mesmo sem obra feita. Com efeito, só tenho ouvido falar de câmaras que deixam dívidas imensas para os vindouros. Não se percebe bem pois não?

Eu sinto-me impotente para perceber tudo. Por essa razão aceitei o convite de um grande amigo de longa data, daqueles que, mesmo sem o ver durante anos parece que nos vimos ontem (dizem que essa é a definição de amizade), para irmos petiscar alguma coisa antes de regressar a casa e falarmos. Sim falarmos sobre a vida.

Acontece que ele acompanhou por dever de ofício tal presidente de câmara e eu aproveitei para perguntar: como é possível ter feito tanto e deixar dinheiro? Resposta dele: muito trabalho e perseverança; ele não dormia para ir a Coimbra e Lisboa reclamar dinheiros para o seu interior. Saía às 6 da manhã para estar à porta dos serviços às 9h e não os largava enquanto eles não libertassem os fundos a que tinha direito o seu Interior profundo. E não foi para fazer rotundas mas sim obras e sim, a primeira intervenção quando tomou posse foi mesmo a de mandar demolir e indemnizar os proprietários de uma aberração de obra herdada de mandatos anteriores. Ao fazer isso matou os patos bravos e disse ao que vinha: aqui quem manda sou eu e os princípios de transparência e qualidade urbana. Foi o suficiente para que todos percebessem o que vinha aí de mando.

Infelizmente não tenho muitos casos destes para contar mais. À minha volta mais próxima a vergonha e a calúnia imperam, as obras são feitas por compadrios e em cada prédio um andar era a regra. Tive azar.

Parabéns Fernando, parabéns Joaquim Morão. Gostei muito de estar aí este fim de tarde da véspera do meu aniversário e antes de receber um abraço apertado das pessoas que amo. Fiquei contente por estar vivo e feliz para escrever.

Por: Pedro Guedes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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