A conferência anual do Festival de Música, “Terras sem Sombra” vai ter lugar este sábado (31) pelas 17:00, na igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, sede do Museu Episcopal da cidade tendo “A violeta: Perenidade de Um Instrumento Injustiçado” como mote para a intervenção de Alexandre Delgado, compositor, violetista e comunicador.
A violeta, habitualmente designada viola de arco (ou, simplesmente, viola), surgiu ao mesmo tempo que o violino, no século XVI, mas só no século XVIII lhe começaram a explorar a veia solística, algo em que Telemann e Bach foram percursores.
Mozart adorava o instrumento e Schumann revelou-se um amigo compreensivo. Instrumento de compositores, a violeta foi tocada e preferida em música de câmara por Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert e Mendelssohn. No repertório sinfónico, Brahms, Tchaikovski, Strauss e Mahler confiaram-lhe temas que lhe revelam a alma poética e original. Hindemith fez dela o seu instrumento principal e, secundado por Bartók e Chostakovitch, deu-lhe novo protagonismo no século XX; tendência que se prolongou até aos nossos dias com Schnittke e Feldman, entre muitos outros.
Beja acolhe, pelo quarto ano consecutivo, o ciclo de conferências do projecto Terras Sem Sombra, tornando-se o palco privilegiado para um dos pilares centrais deste Festival: a inclusão musical de uma população que, como refere José António Falcão, “se vê privada do acesso aos círculos culturais da metrópole, mas acaba por ser a que cumpre maior número de requisitos para melhor usufruir de uma programação cuidada no âmbito da arte sacra.”
Alexandre Delgado, a perícia do compositor e do intérprete
Compositor e violetista, Alexandre Delgado nasceu em Lisboa, em 1965. É neto do Marechal Humberto Delgado. Estudou na Fundação Musical dos Amigos das Crianças e foi aluno de composição de Joly Braga Santos e de Jacques Charpentier, tendo-se diplomado em violino e composição no Conservatório Nacional, em 1983. Aluno particular de Joly Braga Santos, o seu Prelúdio para cordas foi estreado pela Orquestra Sinfónica da RDP, em 1982.
Prosseguiu a formação com Jacques Charpentier, em França, como bolseiro da Secretaria de Estado da Cultura, diplomando-se com o 1.º Prémio de Composição do Conservatório de Nice, em 1990. Aluno em violeta de Barbara Friedhoff, foi vencedor do Prémio Jovens Músicos em 1987 e membro da Orquestra Juvenil da União Europeia – onde tocou sob a direcção de Claudio Abbado e Zubin Mehta – e da Orquestra Gulbenkian. Gravou a Sonatina de Armando José Fernandes (com o pianista Bruno Belthoise).
Crítico musical do Público entre 1992 e 2002, assina o programa A Propósito da Música, na Antena 2, desde 1996, e é autor dos livros A Sinfonia em Portugal, A Culpa é do Maestro (crítica musical) e Luís de Freitas Branco, publicados na Editorial Caminho. Director do Festival de Música de Alcobaça desde 2002, integra desde 2005 o Quarteto com Piano de Moscovo, com o qual fez, em 2012, a primeira gravação mundial do Quarteto com Piano, de Anton Rubinstein. Dirige a Orquestra da Fundação Musical dos Amigos das Crianças desde 2013 e prossegue a sua carreira de freelancer como instrumentista, maestro, tradutor de óperas e comentador de concertos.