França enfrenta atualmente uma grave crise política, depois de o governo do Primeiro-Ministro Michel Barnier ter sido destituído, na sequência de uma moção de censura. Consequentemente, a França pode estar a caminhar para eleições legislativas em junho de 2025 e, potencialmente, até para uma corrida presidencial, uma vez que a autoridade de Emmanuel Macron está enfraquecida.
Este período de paralisia política em França tem sérias implicações tanto para a economia nacional como para os mercados financeiros. Embora os riscos imediatos de uma crise financeira sejam baixos, a incerteza prolongada é suscetível de pesar fortemente sobre a economia, abrandar o crescimento e reduzir a confiança dos investidores.
Os investidores, entretanto, irão manter-se cautelosos, navegando num período de incerteza até que surja um ambiente político mais estável.
Impacto financeiro e desafios económicos
A nível financeiro, embora a revisão do orçamento conduza a uma ligeira redução do défice, esta é ainda insuficiente para cumprir os objetivos fixados pela União Europeia. A situação da dívida do país continua a ser precária e a diferença entre as taxas de juro das obrigações do Tesouro francesas e alemãs pode continuar a aumentar, embora seja pouco provável que conduza a uma crise financeira em grande escala devido à proteção oferecida pela zona euro. Apesar disso, a paralisia política terá consequências reais para a economia francesa.
Prevê-se que o crescimento continue a abrandar, o que irá agravar os desafios no mercado de trabalho, e a atual instabilidade irá colocar uma pressão adicional sobre as finanças públicas. A combinação de um crescimento lento e de um défice crescente tornará mais difícil para a França cumprir os seus compromissos orçamentais a longo prazo.
No mercado obrigacionista, os juros da dívida pública francesa a 2 e 10 anos também continuam a recuar e aqui temos sinais de que o mercado, pelo menos para já, não está a antecipar um pior cenário para a situação atual em França.
Perspetivas de investimento: Incerteza e prudência
Do ponto de vista do investimento, a ausência de um orçamento e o abandono dos aumentos de impostos propostos pela coligação de esquerda são vistos como relativamente positivos para os aforradores. Não haverá um aumento imediato dos impostos sobre o rendimento nem alterações ao imposto fixo, o que significa que os rendimentos dos investidores permanecerão protegidos a curto prazo. A expectativa de descida das taxas de juro em toda a zona euro também irá provavelmente apoiar as condições de investimento no mercado europeu em geral.
No entanto, as empresas francesas – em especial as que dependem do mercado interno – continuarão a enfrentar desafios, com os preços das suas ações provavelmente pressionados pela atual incerteza política e económica. Consequentemente, o ambiente de investimento continuará provavelmente a ser de cautela e volatilidade, uma vez que os mercados aguardam a resolução da crise política.
Apesar desta não ser a primeira vez que a instabilidade política em França é notícia, desta vez o seu impacto no mercado de capitais está a ser reduzido. Aliás, se compararmos o desempenho do índice Francês (CAC40) nas últimas 6 semanas, esta semana deverá ser marcada pelo fim da sequência de perdas semanais que o índice tem vindo a registar e poderá registar mesmo a melhor semana desde 23 de setembro de 2024.
Análise: XTB