Uma associação académica deve ser o bastião da representatividade, da transparência e da ação em prol dos estudantes. Mas o que acontece quando ela falha? Torna-se uma caricatura de si própria: um espaço de jogos de poder, interesses mesquinhos e total desconexão com os problemas reais.
A verdade é que é tão importante definir o que uma associação deve ser quanto tão importante denunciar aquilo que não pode, sob qualquer circunstância, ser. É aqui que começamos a separar o trigo do joio, a relevância do puro espetáculo.
Primeiro, e sem rodeios, uma associação académica não é um espaço de interesses pessoais. Se há algo que destrói a confiança de quem representa, é a subserviência a agendas externas. Estudantes não são peões de manobras propositadas. Como bem recordou António Nóvoa: “As associações estudantis devem ser espaços livres, para que possam ser a verdadeira voz plural.” Uma associação que se limita a servir de palanque para interesses alheios não só trai os seus associados, como se transforma num palco de divisões e ressentimentos”
Depois, vejamos o absurdo de uma associação que promove privilégios e exclusão. Se a missão é defender todos os estudantes, por que razão se tolera a formação de pequenos feudos de poder, onde meia dúzia de rostos repetidos decide o destino de muitos? É intolerável que uma associação seja capturada por elites internas que se perpetuam. Como recordaram os líderes estudantis de Coimbra nos anos 60: “O associativismo é um movimento de renovação constante. Quando há inércia, a associação morre; quando há autoritarismo, ela deixa de ser um espaço democrático.” Inércia e autoritarismo: dois venenos que matam as associações por dentro.
Outro pecado mortal? A má gestão de recursos. É chocante a quantidade de associações académicas que tratam os orçamentos como caixas-fortes privadas ou se envolvem em esquemas pouco claros. As quotas dos estudantes, os fundos públicos ou os patrocínios devem ser geridos com rigor implacável. Não há espaço para segredos ou para o “depois explicamos”. Como alertou João Gabriel Silva: “A democracia académica exige rigor na gestão e transparência nas contas; não há representatividade sem responsabilidade.” Os estudantes têm o direito de saber para onde vai cada cêntimo e, se isso não acontece, é caso para perguntar: o que se está a esconder?
A estagnação também não deve ser tolerada. Se a associação académica é um espaço de burocracia, onde as ideias morrem antes mesmo de nascerem, é melhor fechar as portas. Não se justifica a existência de uma organização que vive de calendários de reuniões e atas, mas que não consegue ouvir ou agir. José Sócrates disse-o bem, nos seus tempos de ativista estudantil: “A associação académica deve ser o motor da comunidade estudantil, um espaço onde as ideias ganham força para transformar a realidade.” Uma associação sem ação é um cadáver político que consome recursos sem gerar qualquer benefício.
Finalmente, e talvez o mais relevante, uma associação académica não pode ignorar a sua responsabilidade social. Fechar-se numa bolha, ignorar os desafios maiores como a sustentabilidade ou a inclusão social, é uma traição ao próprio espírito académico. Como bem colocou Eduardo Marçal Grilo: “Não basta representar os estudantes, é preciso entender o impacto que uma associação pode ter na construção de uma sociedade mais justa.” Ignorar esse impacto é ser cúmplice da apatia.
Portanto, sejamos claros: uma associação académica não é um palco de vaidades, não é uma máquina de favores, nem um cofre opaco. Não é um clube exclusivo nem uma extensão de interesses pessoais. Quando se permite que estas distorções ocorram, ela deixa de ser relevante e torna-se um fardo para os estudantes. O associativismo é transformação, é serviço, é ação. Tudo o resto é desperdício e, francamente, não faz falta nenhuma.
Alexandre Graça