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BEJA: Antestreia de RAIVA um filme de Sérgio Tréfaut

BEJA: Antestreia de RAIVA um filme de Sérgio Tréfaut

O Pax Julia – Teatro Municipal de Beja recebe na terça-feira, dia 2 de outubro, pelas 21h30, a antestreia de RAIVA, um filme de Sérgio Tréfaut, com entrada gratuita mediante levantamento prévio de bilhete na bilheteira do Teatro, aberta de terça a sábado entre as 16h00 e as 20h00 e em dias de espetáculo (terça a sábado entre as 16h00 e as 22h00; domingos das 14h00 às 18h30).

Sinopse

Alentejo, 1950. Nos campos desertos do Sul de Portugal, fustigados pelo vento e pela fome, a violência explode de repente: vários assassinatos a sangue frio têm lugar numa só noite. Porquê? Qual a origem dos crimes?

Adaptação de «Seara de Vento», de Manuel da Fonseca, um clássico da literatura portuguesa do século XX, Raiva é um conto negro sobre o abuso e a revolta.

Nota do realizador

Em 1933, os jornais portugueses deram destaque a uma história violenta que ficou conhecida como «a tragédia de Beja». O episódio foi capa do Diário de Notícias e transformou-se num folhetim informativo, com direito a ilustração.

Tudo começou à hora do jantar, quando um camponês armado invadiu a casa de um grande proprietário alentejano e disparou sobre dois homens, matando-os imediatamente. Eram o dono da propriedade e o seu filho. De seguida, o homicida fugiu e trancou-se no casebre isolado onde vivia com a família. Este homem havia sido preso meses antes por furto de cereais. Agora era cercado no seu casebre pela guarda pesadamente armada. Mas não se rendeu. Foram chamados reforços. O próprio exército. O tiroteio foi tão intenso que mais de cinquenta anos depois havia balas nas paredes do casebre. Muitos soldados caíram e chefe da guarda foi morto. Existem várias versões sobre o final do «louco assassino». Mas a imprensa da época garante que para pasmo de todos o seu enterro foi muito concorrido. A história transformou-se num mito.

Vinte anos mais tarde, Manuel da Fonseca, escritor e jornalista de renome, investigou este episódio para criar o romance «Seara de Vento». Na versão de Manuel da Fonseca, o monstro criado pela imprensa durante a Tragédia de Beja transforma-se um herói solitário, vítima do abuso de poder e símbolo de resistência.

O livro é um grito de indignação face à injustiça social no Alentejo, onde ser dono das grandes propriedades significava também ter mão no poder político, na guarda, na igreja e ser dono dos homens.

«Seara de Vento» tem algo de western, com tiroteios, paisagens desertas e um herói soturno.

Mas também tem algo de épico. É um romance militante, marcado por um certo romantismo político. Viria logo a ser proibido e retirado das livrarias. A frase final do romance «um homem só não vale nada», atirada em forma de grito desesperado por uma velha que representa a própria terra, significa talvez «unidos podemos mudar o mundo». A esperança na revolta e no ideal socialista está no horizonte.

«Raiva», a versão cinematográfica deste livro nada tem de romântico, nem de naturalista.

É seca, sem qualquer tentativa de comiseração, sem qualquer apelo ao sentimentalismo ou ao idealismo. Não se oferecem promessas políticas de um futuro melhor, mesmo que alguns justamente se unam e tentem lutar de forma clandestina.
A injustiça é aqui retratada como um ciclo que se repete, e se repetirá sempre sob novas formas, mesmo que passemos toda a vida a lutar contra ela.

Escolhi adaptar um clássico do neo-realismo português, talvez o livro mais emblemático sobre o Alentejo e sobre a sua realidade ancestral, como um desafio. O filme, tal como o livro, fala do abismo entre pobres e ricos.

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