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COVID-19 reduziu o número de internados com AVC

COVID-19 reduziu o número de internados com AVC

Desde janeiro de 2020 que o número de casos de infeção por SARS-CoV-2 tem vindo a aumentar, assim como a mortalidade associada a esta doença.

Em Portugal o primeiro caso foi diagnosticado a 02 de março de 2020 e desde essa data, tudo mudou. A obrigatoriedade de utilização de máscara, o teletrabalho, as condicionantes impostas pelos sucessivos estados de emergência, a limitação de contacto físico com pais e avós, a angústia de contágio, a revolta de alguns pela restrição da liberdade individual, todas estas novas realidades às quais nos estamos a adaptar. Sendo o regresso à “normalidade” ainda uma miragem.

A pandemia colocou ainda uma enorme pressão sobre os serviços de saúde, com natural implicação nos cuidados de saúde prestados quer aos doentes COVID-19, quer aos doentes não COVID-19, condicionando ainda o comportamento dos mesmos perante a doença.

Em novembro foi apresentado, no congresso do NEDVC, um estudo realizado em 9 unidades de AVC do país, com o objetivo de avaliar os cuidados prestados aos doentes internados por AVC durante o período de vigência do primeiro estado de emergência, em comparação com o período homólogo de 2019. Este estudo revelou que nestas unidades, no total, foram internados menos 15% de doentes e que o prognóstico funcional dos doentes internados foi pior comparativamente ao ano anterior. Também o número de doentes que realizou tratamento de fase aguda (trombólise e/ou trombectomia) foi cerca de 18% inferior em relação ao ano transato. Eventualmente, o receio de contágio influenciou o acesso aos cuidados de saúde. Os doentes com sintomas minor ou transitórios acabaram por não recorrer aos cuidados de saúde e os que mantinham sintomas recorreram mais tardiamente o que condicionou a não realização de terapêutica de fase aguda e o pior prognóstico.

Assim, apesar de ser importante cumprir as determinações da DGS e respeitar as regras de confinamento, é igualmente premente alertar a população para a necessidade de ativar o 112 sempre que for identificado um dos sinais de alerta de AVC: a face descaída, dando uma sensação de assimetria do rosto; a diminuição da força num braço ou numa perna, ou em ambos, que pode ser acompanhada por uma sensação de desequilíbrio; a dificuldade na fala, fala arrastada, dificuldade em ter qualquer tipo de discurso ou existência de discurso pouco compreensível e sem sentido. Estes sinais e sintomas são conhecidos como os “3 F’s”. São também sinais de alerta uma forte dor de cabeça ou a falta súbita de visão, diminuição abrupta de visão num ou em ambos os olhos (podendo ser definidos como os “5 F’s”), assim como a dificuldade em coordenar movimentos. A ativação do 112 permite que os doentes sejam corretamente orientados, de modo que possa ser realizado o tratamento de fase aguda adequado, sendo que a rapidez de atuação é fundamental para que se possa evitar sequelas.

É importante referir que, além do possível envolvimento pulmonar, cardíaco e do risco aumentado de eventos trombóticos, o SARS-CoV-2 pode também atingir o cérebro. Os sintomas mais frequentemente descritos são a cefaleia (dor de cabeça), anosmia (perda de olfato) e ageusia (perda de sabor), os dois últimos com registo, em alguns registos europeus, de uma prevalência de 88%. No entanto, estão também descritas outras manifestações neurológicas, que incluem a doença vascular cerebral, as infeções do sistema nervoso central, as crises epiléticas e as manifestações neuromusculares. Em relação ao risco de AVC nos doentes infetados está descrito que cerca de 1,5% dos doentes com COVID -19, em especial os com infeções mais graves, têm AVC. O AVC, nestes doentes com COVID-19, tende a ser mais grave o que leva a uma maior mortalidade. Os doentes com AVC e COVID-19 em comparação com os doentes com AVC sem COVID-19 são mais jovens, sendo a causa do AVC na maioria das vezes associada a fenómenos trombóticos.

Por tudo isto é fundamental manter as medidas e seguir as orientações das entidades de saúde, prevenindo a COVID-19 e suas potenciais consequências. É possível tal estratégia e o regresso paulatino à normalidade que todos desejamos.

Luísa Fonseca

Coordenadora da Unidade de AVC Centro Hospitalar e Universitário de S. João, Coordenadora do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da SPMI, Assistente Convidada da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

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