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DÁ-ME 20€ E DIGO-TE SE PRESTAS…

PASSE BEM SEU CRATO

P.Guedes de Carvalho

Ao que isto chegou minha gente. Um Ministro deu-lhe agora para desconfiar de quem está no ensino a tentar fazer crescer as crianças. No fundo é como quem diz, os jovens são piores alunos e tem insucesso porque anda aí uma cambada de malandros incompetentes que diz ser professor e que nada percebem do que fazem. Vamos fazer um rastreio e apanharemos sem dúvida uma corja deles que não passarão no exame dos 20€ e o Ministério limpa a face para poder explicar porque devem os colégios ser privatizados e a educação ser um duplo negócio: dá dinheiro e diminui despesa pública. Fácil, certo?

Mas o mais grave de tudo isto é que as Universidades Públicas onde todos estes professores foram formados e licenciados são coniventes e nada dizem. Uma Universidade que forma e não se sente com este insulto público à sua qualidade de trabalho não merece respeito público. No fundo está a admitir que pode ter razão o Ministro, se calhar as universidades não formam bem e temos deixar passar pessoas sem mérito e sem competências.

Com certeza, isso acontece a todos os professores. Sempre sentimos que há alunos brilhantes que não têm as classificações que merecem e aqueles que, não sendo brilhantes, são alunos médios mas podem ser homens e mulheres íntegros e que sabem aprender ao longo da vida. Muitos professores tivemos todos e apenas nos lembramos de uma meia dúzia. Daqueles que efectivamente nos marcaram pela positiva, pelo exemplo e raramente nos lembramos dos conteúdos que nos ensinavam. Lembramo-nos do carácter, do exemplo, de frases que na altura nos fizeram muito bem ouvir, no momento certo. Isso é que é um bom professor, o que só se consegue avaliar ao fim de umas décadas.

Um ministro do eduquês quer então agora moralizar a vida pública e impor um exame de não se sabe bem o quê, escrito, para avaliar quem pode ou não ser professor.

Sr. Ministro: nunca avaliou de facto alunos quando julga que pode avaliar uma pessoa pelo que eles consegue escrever numas horas sobre umas perguntas feitas por alguns dos seus imbecis colaboradores quês e prestam a qualquer serviço, nomeadamente este de elaborar, aplicar e corrigir uma prova, fazendo-se pagar ainda por cima.

Haviam de só passar aqueles que tão responsáveis são pelas enormidades que sempre existirão nas escolas para libertar dessa profissão todos os competentes que podem dedicar-se a outras coisas mais dignas que servir o Ministério que V. Exa tem destruído com sabedoria.

Não lhe digo para se demitir pois isso não resolveria o problema. O verdadeiro problema reside na corja de quadros intermédios que servem as instituições públicas. Aceitam ser encarregados de qualquer obra. Falo numa corja porque são esses que tem dirigido a educação neste pais há umas boas décadas e tem transformado as escolas naquilo que elas são hoje: locais desprovidos de vida próprio, assimilações de papelada, burocratas que pensam ser essa a forma de poupar uns dinheiros com mega agrupamentos. Concentração de escolas.

Como dizia um estimado professor jubilado conhecido, não se canse muito pois as escolas poderão acabar em breve mas, por falta de alunos interessados neste tipo de aprendizagem. Cada vexamos os jovens irão aprender noutros lados.

Passe bem seu Crato.

Por: Pedro Guedes de Carvalho

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