Um grupo de investigadores das Universidades do Algarve e de Marburgo, na Alemanha, acabam de descobrir o porto romano em melhor estado de conservação, identificado até hoje em Portugal.
Situando-se atualmente em zona seca, esta estrutura é formada por um imponente cais em silharia de calcário com mais de 40 metros de extensão, de onde sobressaem pedras perfuradas para amarração de barcos, uma rampa e uma escadaria de acesso à água do antigo paleoestuário da Boca do Rio.
Durante o Período Romano o mar entrava terra dentro, formando uma extensa laguna, o atual Paul da Boca do Rio/Lontreira, em cuja margem direita se desenvolveu um importante complexo de transformação de preparados de peixe, sobretudo a partir de finais do século II d.C., servido pelo porto agora descoberto.
Todo este complexo industrial e respetivo porto faziam parte de uma villa marítima em investigação desde 2016, com uma grande casa voltada ao mar de onde se tem recolhido diversos mosaicos, estuques pintados e muitos outros objetos que documentam a vida quotidiana e as atividades destes nossos longínquos antepassados.
O sítio pesqueiro romano foi abandonado na primeira metade do século V, voltando a ser ocupado com uma armação de pesca do atum no século XVI e, de novo, após o tsunami de 1755, no século XVIII. Estas armações da época moderna (re)aproveitaram as estruturas romanas fundadas nas dunas para aí edificar os seus edifícios que ainda hoje se podem ver no local.
O sítio da Boca do Rio, conhecido internacionalmente por ser um dos locais que melhor preserva o registo do tsunami que se seguiu ao terramoto de 1755, que arrasou Lisboa, Cádis (em Espanha) e boa parte da costa algarvia, reserva, também, um enorme interesse arqueológico. Para além da recém identificada estrutura portuária, existem, sob as dunas, várias fábricas que serviram para a produção de molhos e pastas de peixe, o famoso garum dos Romanos, apresentando, tal como o porto, um estado de conservação verdadeiramente excecional à escala do antigo Império Romano.
Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos com o apoio logístico e financeiro do Município de Vila do Bispo, na praia da Boca do Rio, integram-se no âmbito do projeto de investigação “Boca do Rio – um sítio pesqueiro entre dois mares”, coordenado pelos Professores João Pedro Bernardes, do Centro de Estudos em Artes, Arqueologia e Património (CEAACP) da Universidade do Algarve, e Félix Teichner da Universidade de Marburgo, encontrando-se sedeado no Centro de Acolhimento à Investigação – Núcleo de Investigação Arqueológica de Vila do Bispo.