Os políticos não são todos iguais. É certo que a generalização é uma injustiça e muitas vezes caímos neste erro de os agrupar todos num numeroso grupo de incompetentes, mas não só. Os grupos podem distribuir-se, em termos de carácter, por diversos epítetos, tais como falsos, mentirosos, oportunistas e outras tantas categorias de cariz negativo. Em termos de famílias políticas eles podem agrupar-se em liberais, neoliberais, socialistas, social-democratas, comunistas, republicanos, monárquicos, conservadores ou simplesmente de esquerda ou de direita. Em praticamente todas estas categorias políticas, não nas de carácter, se podem encontrar bons políticos. Pessoas honestas e dedicadas à causa pública e que defendem os seus princípios, mostrando simultaneamente respeito pelos dos outros. São uma minoria, disso não haja dúvida, mas são estes que merecem igual respeito por parte da sociedade.
Há no entanto uma evidente transversalidade, no que diz respeito aos políticos de mau carácter, que é profundamente negativa e geradora de grandes injustiças a nível mundial, que é a ideia de que as sociedades deveriam ser apenas e só aquilo que eles idealizam, de acordo com os seus programas políticos e os seus próprios interesses pessoais, financeiros e de poder. Eles acham que têm o direito e a capacidade de moldar as sociedades a seu bel-prazer e de acordo com as suas concepções sociais.
A humanidade não é obra de políticos e há que respeitá-la, tanto quanto à natureza, sob pena de provocarmos desequilíbrios insanáveis. A humanidade não foi concebida, qualquer que tenha sido a sua origem, divina ou científica, para ser absolutamente perfeita ou isenta de assimetrias. Sem que se possa duvidar duma elevada carga de perfeição, as imperfeições estão à vista de todos, no todo do nosso planeta e isso constitui também a sua diversidade. As condições naturais, que influenciam as vidas das pessoas são diversas, a própria natureza humana é um mar de diversidades, as respostas que cada povo dá às adversidades da vida, mas também às dádivas da natureza, são as mais diversas e não existem povos perfeitos nem únicos.
Os políticos honestos e inteligentes, lúcidos e iluminados pela luz insubstituível do conhecimento estão cientes desta realidade e têm em linha de conta o facto de que uma sociedade que procure ser melhor tem de respeitar as diversas sociedades que existem dentro de si própria. Os maus políticos não entendem esta dimensão da natureza humana e acham-se no direito de decretar que tipo de sociedade exclusiva querem que exista para atingirem os seus fins, que raramente têm como objectivo o bem comum, mas apenas o bem daqueles que eles consideram ser a sociedade, grupos bem definidos de cidadãos, agrupados em duas categorias essenciais, aqueles que pertencem à sua linhagem e os que são absolutamente indispensáveis, enquanto força de trabalho e também cérebros, à construção do mundo que eles um dia sonharam.
Quando certos políticos recebem a responsabilidade de governar um país, mesmo que tenham a legitimidade do voto de uma maioria, têm de assumir plenamente essa responsabilidade e não podem deitar fora a parte do país real que não lhes interessa. Mas é isso que eles gostariam de fazer, porque parte da população de qualquer país não lhes parece nem produtiva nem sustentável, ou seja, não se auto sustenta e precisa de cuidados especiais. A posição destes políticos só seria comparável a uma coisa que felizmente raramente acontece, que é a rejeição, por parte dos pais, dos filhos nascidos deficientes, porque embora criar um filho nestas condições seja muito mais penoso, oneroso e mesmo ingrato, o amor consegue suplantar quase tudo. Mas é verdade que os pais nestas situações extremas necessitem de apoios suplementares por parte da comunidade e seja ao Estado que compete olhar por essas imperfeições da sociedade e supri-las o melhor que pode, com o esforço de todos, da sociedade, dos contribuintes em geral, porque é isso que se espera de uma verdadeira comunidade feita país, nação, um pedaço do mapa com identidade humana e humanitária. Neste caso os pais jogam com aquilo que têm, o amor de pais para filhos e os políticos que assumiram a responsabilidade de governar um país devem responder com o sentido de serviço à causa pública e não com lamúrias de que o Estado não pode cuidar de tudo.
Mas esses políticos egoístas, egocêntricos, gananciosos, insensíveis e demoniacamente controlados pelos grandes interesses financeiros mundiais, que acham que apenas a vida baseada nos números, no lucro e na submissão dos mais fracos aos mais fortes, deve ter um lugar ao sol, consideram também como grupos atentatórios de uma sociedade sã e produtiva, os velhos, os indigentes, os incapazes de se integrarem, os desempregados sem arte e engenho para voltarem a trabalhar, os jovens demasiado instruídos ou que não se contentam em ser explorados em funções menores e não qualificadas. O que eles anseiam é uma sociedade perfeita, feita à sua imagem, que eles julgam também perfeita e inatacável, uma sociedade dividida entre eles e aqueles que se integram no mercado de trabalho para os servir e proporcionar-lhes esse nível de perfeição. Nunca pararam um pouco para pensarem que a sociedade é formada por todos, uma amálgama de pessoas com mais ou menos hipóteses de vencer na vida. Uma sociedade onde até os vencidos e perdedores têm direito a existir porque ninguém lhes perguntou antes se eles queriam apenas ser fetos em desenvolvimento ou projectos de pessoas.
Até hoje ainda nenhum sistema político conseguiu resolver este problema dos “resíduos sólidos da sociedade” – os cidadãos que não se integram nos projectos de sociedade que os maus ou medíocres políticos idealizam como uma solução ideal. Todos os países, por mais evoluídos que sejam debatem-se sempre com esta evidência. Há sempre franjas da sociedade que não se conseguem integrar na ordem estabelecida, mas isso não quer dizer que eles não tenham direito a viver. São efeitos colaterais da imperfeição da raça humana e os políticos não podem apenas contar com a perfeição, têm também de estar à altura para saberem lidar com esta diversidade de pessoas que são seres humanos e que pelas mais diversas razões não partilham das mesmas condições de vida que eles preconizaram como normais. A normalidade é um conceito inventado para facilitar a vida a quem tem aptidões para dela usufruir com todas as suas potencialidades, mas é exigível que quem governa esteja consciente das necessidades básicas de quem não vislumbra alternativas para as suas insuficiências a vários níveis.
A não ser que vença a teoria do extermínio ou da purga selectiva e progressiva destes entes vivos, é também obrigação de todos os políticos e da sociedade em conjunto, amenizar a miséria e sacrifício de quem vive abaixo do limiar da pobreza, a quem se sente definitivamente desadaptado, a quem não consegue encontrar meios normais de subsistência, a quem não consegue encontrar trabalho porque a idade o atira para o lixo da sociedade, a quem nasceu deficiente ou por qualquer razão adquiriu esta condição ao longo da sua vida, a quem ousou envelhecer sem morte em data marcada, a quem estudou na miragem de que a educação e o conhecimento lhe traria um lugar ao sol, a quem simplesmente nem sabe ao certo o que é viver…
Se não conseguirem os políticos e a sociedade em geral resolver este desequilíbrio das comunidades, parece só restar a pergunta: – E não se pode exterminá-los!?… E aí, talvez tenhamos chegado ao fim de qualquer esperança, de qualquer sonho possível… Aí, já nada valeria a pena!…
Ernani Balsa
“escreve sem acordo ortográfico”