Portugal atravessa mais uma temporada devastadora de incêndios florestais, expondo fragilidades na estrutura da Proteção Civil. O que poderia ter sido uma resposta coordenada e eficiente revelou problemas de falta de comunicação, falta de recursos, e preparação inadequada, fatores que contribuíram para que os incêndios ganhassem proporções alarmantes.
Falta de Coordenação e Comunicação
A falta de coordenação entre as diversas forças no terreno foi um dos erros mais criticados, dificultando o combate rápido e eficaz às chamas. Enquanto os incêndios se propagavam em regiões críticas, as operações de resposta viram-se fragmentadas. Cada entidade atuava de forma isolada, gerando sobreposição de esforços ou, em alguns casos, ausência de resposta em áreas vulneráveis.
A comunicação com a população também falhou. Evacuações tardias ocorreram em diversas áreas, expondo moradores a riscos desnecessários. Houve relatos de desinformação sobre as zonas de maior perigo, com a Proteção Civil a falhar em providenciar orientações claras sobre rotas de fuga e áreas seguras.
Escassez de Recursos
Outro ponto crucial foi a escassez de recursos disponíveis para lidar com a dimensão dos incêndios. Em alguns momentos, faltaram meios aéreos e terrestres, sobrecarregando as equipas de bombeiros. A capacidade de resposta foi seriamente limitada pela falta de equipamentos adequados e pela insuficiência de pessoal treinado para atuar em situações de emergência de larga escala.
Além disso, a falta de um plano robusto de contingência fez com que os recursos fossem mal distribuídos, deixando áreas remotas desprotegidas enquanto outras recebiam maior concentração de forças, muitas vezes de forma redundante.
Planeamento Preventivo: A Omissão Fatal
Talvez o erro mais gritante tenha sido a falta de planeamento preventivo. Ano após ano, especialistas alertam para a necessidade de manutenção e limpeza das florestas, mas pouco foi feito em termos práticos. A falta de criação de faixas de contenção — áreas limpas de vegetação seca que ajudam a impedir a propagação do fogo — agravou a situação. Estas zonas continuam a ser negligenciadas em muitas regiões de risco.
O investimento em prevenção é essencial para evitar que os incêndios atinjam proporções catastróficas. Limpeza das matas, campanhas de sensibilização para os proprietários rurais, e a formação de equipas de vigilância especializada em prevenção são medidas que precisam ser aplicadas com urgência.
Soluções Propostas para Futuras Temporadas de Incêndios
Especialistas apontam várias soluções para corrigir essas falhas:
. – Centralização da Coordenação: Estabelecer uma cadeia de comando unificada que permita uma resposta mais eficaz. Isso eliminaria as falhas de comunicação entre as várias entidades envolvidas, como bombeiros, GNR e Proteção Civil.
. – Comunicação com a População: Implementar sistemas de alertas rápidos via SMS e melhorar a difusão de informações nas mídias locais para garantir que as populações sejam evacuadas com antecedência e de forma segura.
. – Reforço de Recursos: Aumentar o número de veículos especializados e meios aéreos de combate a incêndios. Além disso, é fundamental investir na formação de mais bombeiros e equipas de emergência, que devem ser capazes de atuar rapidamente em várias frentes.
. – Planeamento Preventivo Eficaz: É imprescindível um investimento contínuo em prevenção, com a criação de faixas de contenção e limpeza regular de áreas de risco. O envolvimento das comunidades locais neste processo é essencial, os proprietários de terrenos devem ser responsabilizados pela manutenção de suas propriedades.
Conclusão: O Futuro dos Incêndios em Portugal
Portugal enfrenta uma realidade climática que agrava o risco de incêndios florestais, a resposta da Proteção Civil tem de acompanhar essa nova realidade. Os erros cometidos este ano devem servir de alerta para a reformulação de estratégias, com foco não apenas no combate, mas na prevenção.
As soluções estão ao alcance: melhor coordenação, comunicação eficaz, reforço de recursos e prevenção robusta. Só assim será possível proteger as populações e minimizar os impactos ambientais e económicos que os incêndios causam ao país.
Lino Gonçalves
Diretor de informação
ipressjournal.pt