Aquela sensação que, todos temos, a toda e qualquer hora, hoje e em qualquer dia! Aquela sensação que, faz parte da nossa carne! Sonhamos! A espera pela novidade, que traz a mudança! Um exemplo prático… Já se deparou sentado, no conforto de um qualquer café, imaginando o momento da entrada de alguém extraordinário, trazendo consigo algo de extraordinário? E aquele facto (é um facto) em que sempre que a porta estremece, seja ou não por uma simples corrente de ar, todos os olhares se direcionam para tal, conhece? Agora que pensa nisso, vê que o faz, ou que já o fez.
É, uma das possíveis maneiras de ver En attendant Godot ou Waiting for Godot. Falo uma vez mais do irlandês Samuel Beckett, cujo sua peça disfrutei há uns poucos tempos. Pude observar, virtualmente, prazerosamente, a versão primeira, a preto e branco, em que um Beckett entusiasmado com este teatro para televisão, esteve sob a direção/coordenação/supervisão atentas, o que lhe quiser chamar, dos atos I e II. Com magníficos atores, Polanski implorou a Beckett para que este o integrasse no elenco, acabando por fazer o personagem Lucky.
O dramaturgo, brincando com a psicanálise, faz do diálogo de Didi (Vladimir) e Gogo (Estragon), sendo um mais racional do que outro, o outro não se importando de não o ser, um diálogo interminável, uma forma de passar o tempo. Na conversa destes dois mendigos, o tema suicídio chega mesmo a aparecer, mais do que uma vez, e uma vez mais, para preencher o tempo. Mencionando o tudo e o nada, os personagens, esperam por Godot ao fim de cada dia, dos seus dias, como pretexto para compreender a mísera existência, sem sentido. Pozzo (louco, em italiano) e Lucky, mais dois personagens, um já referido anteriormente, têm igual consciência da sua inutilidade.
Até aos dias de hoje, perdura a questão “Mas afinal quem ou o que é Godot?”, criando infindáveis debates, com inúmeras respostas, em que numa coisa somos unânimes, Godot não é mais do que algo por que todos nós ansiamos todos os dias, a esperança do que está ainda por vir. De maneira que, Beckett faz um elogio à espera.
Li, em palavras deixadas algures, que a espera transforma-nos e transforma as nossas relações com o que nos rodeia, obriga-nos a olhar-nos, a nós e ao mundo, quando desprovidos de um propósito. Ficamos atentos e sentimos a passagem do tempo. Sendo Beckett a mostrar-nos o mundo desconhecido e deslumbrante que reside no tempo de quem espera…de homens cuja vida é apenas o que resulta da não existência de suicídio.
Por: Daniela Simplício