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Estudo: Como o cérebro processa frases ficcionais

Estudo: Como o cérebro processa frases ficcionais

Um novo estudo sugere que os nossos cérebros processam informação inconsistente com o conhecimento prévio do mundo de forma diferente. O estudo, conduzido por uma equipa de investigadoras do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) e da Universidade de Maastrich (Países Baixos), descobriu que frases que descrevem alimentos com características inanimadas eram mais facilmente recordadas do que as que descrevem alimentos com características animadas, tanto num contexto do mundo real como num contexto ficcional.

O estudo, realizado no Laboratório de Psicologia Social e das Organizações do Iscte, utilizou eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade cerebral dos participantes enquanto liam frases sobre alimentos, ou num cenário do mundo real ou num cenário fictício. No cenário fictício, os alimentos possuíam características animadas, tais como ser mal-humorado ou capaz de falar. “O nosso cérebro processa a linguagem muito rapidamente”, explica a autora principal Sara Soares, doutoranda no Iscte, acrescentando que “as dificuldades levantadas por informações incongruentes são normalmente observadas através de EEG aproximadamente 400 ms após a palavra crítica da frase ser apresentada”. As investigadoras descobriram que quando os participantes liam frases sobre alimentos com características animadas no contexto do mundo real, os seus cérebros mostravam uma maior amplitude da componente N400, indicando que o processamento da frase era mais difícil. No entanto, no contexto ficcional, não houve diferença significativa na atividade cerebral entre frases sobre alimentos com características animadas e inanimadas.

De forma geral, os resultados sugerem que uma descrição mínima sobre um contexto ficcional é suficiente para o nosso cérebro se adaptar a informação inconsistente com o conhecimento prévio acerca do mundo. “A maioria dos estudos anteriores indicava que a informação inconsistente é mais fácil de processar após uma longa explicação contextual, como se as dificuldades desaparecessem. No nosso estudo, oito frases sobre uma realidade alternativa em que os alimentos tinham características humanas foram suficientes para mudar a capacidade das pessoas no processamento deste tipo de informação”, explica Sofia Frade (CIS-Iscte). Além disso, as pessoas lembraram-se melhor das frases que descreviam os alimentos sem características semelhantes às humanas. Segundo a investigadora Rita Jerónimo do CIS-Iscte, “descrever alimentos em termos de características inanimadas alinha-se com o nosso conhecimento prévio do mundo, o que parece facilitar a recuperação dessa informação”.

De acordo com a investigadora Sonja Kotz “este estudo contribui para perceber como o nosso cérebro processa informação inconsistente com o conhecimento prévio do mundo, e como o contexto pode influenciar esse processo.” A investigadora Sara Soares acrescentou que “estes resultados podem ter implicações para a compreensão de como processamos e recordamos a informação linguística em diferentes contextos, tais como em materiais educativos ou na publicidade”. As autoras salientam ainda como este estudo pode informar modelos teóricos sobre a linguagem, mas alertam para a necessidade de mais investigação que considere características individuais, tais como propensão para a fantasia, ou capacidade de flexibilidade cognitiva, por exemplo.

Pedro Simão Mendes
Comunicação de Ciência (CIS-Iscte)

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