Li ontem que em Portugal a duração média do casamento aumentou quase 11% ou seja! por cada dez anos de casado um casal acaba por ter a probabilidade de ficar mais um ano nesse estado. Passado que foi o período de grandes divórcios curiosamente (ou talvez não) coincidente com período de maior prosperidade e consumismo, a crise tem este efeito benéfico: obriga as pessoas a focarem-se no essencial das suas vidas e não mudarem de estilo de vida, de consumos e de opiniões apenas porque sim.
Por um lado queremos melhorias mas por outro acreditamos pouco que seja a mudança de pessoas que pode trazer a mudança da qualidade de vida. Veja-se a situação política actual e o que se ouve com grande alarido: eles são maus mas vamos mudar para quê se os outros já lá estiveram e fizeram o mesmo?
Fica por isso sempre uma espécie de dúvida sobre se a mudança de pessoas e projectos alteraria a governação porque estamos muito arreigados a uma forma de governação conservadora e tememos que grandes mudanças nos retirem a situação de conforto que temos. Podem tirar-nos 20% de capacidade financeira mas achamos sempre que é para nosso bem e um dia estaremos melhor. É melhor do que passar por uma revolução que nos tirem sei lá o quê.
O caso da Islândia foi um caso paradigmático num país muito pequeno. Desapareceu o governo, criaram uma nova legislação, mudaram as coisas com participação de todos e ei-los que ressurgiram das cinzas e lá se foi a dívida e os mercados. De uma maneira geral é verdade que existe uma resistência humana fortíssima a sair da zona de conforto e arriscar. É uma característica cultural de quem fica sujeito a vigilância social na sua terra, no seu bairro, no seu país mas, curiosamente altera-se profundamente quando saímos do país e não somos fiscalizados. Parecemos outros. É assim uma espécie de “aqui posso fazer o que quero porque ninguém me conhece”.
Muitos destes aspectos serão também aqueles que explicam a razão pela qual ainda há muita gente que decide não denunciar e revelar as situações humilhantes por que passa. Sim, refiro-me a violência doméstica, a todos aqueles e aquelas que, na calada da noite sofrem a humilhação de serem espancados pelos respectivos companheiros(as) mas não denunciam durante bastantes meses ou anos. Porque tem medo e receio da opinião pública, seja ela do bairro, da rua, da cidade ou do país. Quando as pessoas são figuras públicas acredito que ainda seja maior a pressão para resistir a denunciar. O custo pode ser muito grande e, prefere-se aguentar em nome do que quer que seja a denunciar e apresentar queixa-crime que nem sempre os tribunais nos defendem. Fica sempre a dúvida.
É impressionante a quantidade de opiniões que fui ouvindo em cafés e outros locais com gente. Ele é mau mas olha que ela também deve ser um rico traste, isto é, é mais fácil considerar que a culpa estará sempre dividida do que culpabilidade claramente o Infractor.
Quem bate? Há provas? Então não me interessa se o outro é um traste também. Bateu e esse é um acto que não poderemos admitir como normal em nenhuma circunstância.
Porque é que bateu? Isso é outra questão. Deve analisar-se sim, mas é de segunda linha.
Estou um bocado farto da corrente de pensamento que desculpa sempre os actos apenas porque sim é porque jaculas de todos.
Fica sempre uma dúvida é verdade, mas teremos que hierarquizar as responsabilidades.
Não se pode culpabilizar só este governo pela vergonhosa situação que estamos a viver. Mas podemos culpar pela incompetência de criação de soluções para os resolver.
A não ser assim fica sempre a dúvida e a culpa será sempre do Afonso Henriques!!
Por: Pedro Guedes de Carvalho