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Fracasso político e operacional em PEDROGÃO GRANDE

Fracasso político e operacional em PEDROGÃO GRANDE

Fracasso político e operacional em PEDROGÃO GRANDE

Pedrogão Grande é o reflexo da irresponsabilidade política e do fracasso operacional, configurados no abandono da floresta durante décadas, na compra de um SIRESP para servir amigos e num modelo de Autoridade Nacional de Proteção Civil, completamente caduca e incapaz de gerir uma operação daquela natureza e dimensão.

O ataque ao fogo que assolou Pedrogão Grande, redundou numa operação catastrófica, originada por uma estratégia completamente equivocada, logo à partida, que não teve em conta a prioridade da emergência na repartição dos meios, menorizando aquele que deveria ter sido o primeiro objetivo da operação, a defesa de pessoas e bens.

Uma operação caótica, que teve na falência do sistema de comunicações, esse nauseabundo SIRESP, o ponto alto da mentira permanente, um sistema que passada uma década,  continua a falhar durante os eventos mais críticos, que soma exemplos de má memória registados nos últimos anos, graças a um contrato blindado, que inibe completamente o consórcio instalador, de quaisquer responsabilidades, obrigando-nos  a nós, aos nossos impostos, a ter de suportar todos os custos e consequências dos desastres.

Uma operação baseada na mentira e no show mediático, patrocinado por governantes, numa tentativa de mascarar a realidade no terreno, enquanto as aldeias continuavam a arder sem proteção, sem a ajuda de nenhuma das quatrocentas viaturas ou dos oitocentos bombeiros que entretanto tinham chegado à região, sem um plano de evacuação atempado e eficaz, sem uma decisão competente que levasse ao terreno, o socorro que salvaria muitas vidas.

Sem comunicações, vivendo um cenário caótico, os estrategas no terreno, desorientados, só tiveram olhos para o perímetro, não houve em nenhum daqueles denominados especialistas, a lucidez para enviar os bombeiros para as principais aldeias espalhadas pela serra, num universo de apenas quarenta aglomerados populacionais, os existentes no concelho.

As condições atmosféricas não podem servir de desculpa para a sucessão de fracassos, a exigência do acompanhamento permanente de uma unidade móvel do Siresp junto da viatura de comando operacional da ANPC, hà muito que devia fazer parte, como medida preventiva e a informações transmitidas pelos autarcas, conhecedores do terreno, da localização dos aglomerados, indústrias e pontos críticos, deviam fazer parte do manual, na definição do plano de defesa das populações.

Mas não, as falhas e incongruências aconteceram logo a partir das primeiras labaredas, o modelo de proteção civil não funcionou, as diferentes forças que deviam estar a trabalhar em coordenação, faziam face à tragédia cada uma por si, só os bombeiros, sabiam que tinham de apagar o fogo arriscando a própria vida, enquanto os diversos protagonistas, semeavam a confusão, dando cobertura a decisões inaceitáveis na planificação do ataque ao monstro, as quais relegavam para segundo plano, os princípios mais básicos numa situação de catástrofe.

E depois há a questão do poder político, dos arautos da salvação nacional, nos períodos eleitorais, daqueles que depois de chegarem ao poder, adormecem no conforto dos gabinetes e nas cerimónias bem comidas e regadas, em festas onde vencidos e vencedores, confraternizam e trocam saudações, quebrando as tréguas, apenas quando a tragédia acontece, multiplicando acusações, nos dois sentidos, num faz de conta vergonhoso, para desviar as atenções do facto de uns e outros, estarem seriamente comprometidos, com o negócio e com o modelo que originou e agravou a tragédia.

Entretanto a floresta continua a ser palco de todas as desconformidades, palco da ausência da implementação das leis em vigor, de controlo e fiscalização, palco de uma gestão ruinosa, por entidades que não fazem a mínima ideia das responsabilidades que tem no setor, palco de uma exorbitada plantação de espécies incendiárias, em tudo quanto é canto até à faixa de rodagem, palco de apoios à reflorestação para fornecer as fábricas de papel e palco de um arrepiante desinvestimento no ordenamento e prevenção.

Num momento em que ainda decorrem os funerais das dezenas de vítimas, não chega tapar as manchas na estrada da morte, não chega encontrar um culpado que expie as penas, para lavar a consciência dos primeiros responsáveis, não chega renovar a árvore de comando da ANPC, não chega anunciarem-se medidas que nunca mais serão implementadas, exigem-se respostas imediatas de apoio às vítimas, para que não se repitam os exemplos de anos anteriores, em que os lesados de outras tragédias, ainda aguardam pela chegada dos tão propalados apoios, feitos perante as câmaras de televisão.

E para redundar vem a falta de respeito pelas dezenas de vítimas mandadas para a morte e pelos vivos que ficaram a sofrer as consequências , por parte de políticos com responsabilidades diretas e indiretas na tragédia, quando anunciam a criação de mais uma comissão dita de especialistas, constituída por políticos, por gente que nada sabe de fogos, operações e sistemas, que tem como única missão, mascarar a tormenta e passar mais um certificado de estupidez aos portugueses.

Já sobre o desenho e implementação de uma política de ordenamento florestal, a nível nacional, que imponha o cumprimento de normas e leis vigentes, que resolva o problema das parcelas abandonadas, da limpeza da floresta, do avanço das silvas, dos caminhos degradados e da incúria do homem, por falta de fiscalização e controlo, não temos dúvidas de que tudo continuará na mesma, até à próxima catástrofe, altura em que voltaremos a ser inundados com promessas de ocasião, cínicas e hipócritas, por quem está permanentemente em campanha eleitoral.

Carlos Santomor

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