Os resultados parciais das eleições autárquicas realizadas em Moçambique, em 52 autarquias (escrutínio de Nampula foi anulado, devido a claras irregularidades) indicam que a Frelimo levou um valente abanão desde a independência deste país pelo MDM (Movimento Democrático Moçambicano) na maioria dos municípios.
Dados disponíveis indicam que a Frelimo venceu as eleições em causa em toda a região Sul de Moçambique. Contudo o MDM logrou manter as presidências dos municípios da Beira e de Quelimane, onde, pela primeira vez vai, igualmente dominar as respectivas assembleias municipais.
Na maioria dos restantes municípios do país a Frelimo ganhou as respectivas presidências mas perdeu largamente assentos nas assembleias municipais a favor do Movimento Democrático de Moçambique, que logrou ganhos que nem a Renamo alguma vez conseguiu.
Tomando como exemplo a cidade de Maputo e Matola onde os eleitores da capital moçambicana deram um sério aviso ao partido no poder (a Frelimo), mostrando que a queda do maior município do país para a oposição política não é algo longe do horizonte. Dados do escrutínio de quarta-feira no município de Maputo, demonstraram que o nível de popularidade do partido no poder está em queda acentuada e nas municipais deste ano, pode ter sido salvo pelos eleitores dos bairros da periferia e pela abstenção, prevendo-se níveis acima dos 50%.
Os dados oficiais divulgados na sexta-feira, 22/11, quando estavam processados cerca de 55% dos votos, o candidato da Frelimo, David Simango, ia na frente da contagem, com aproximadamente 20% de diferença com o seu rival, o estreante Venâncio Mondlane da MDM.
De uma avaliação, ainda preliminar, constata-se que os votos de Simango foram maioritariamente conseguidos nos bairros periféficos como Maxaquene, Polana Caniço, Mavalane, Urbanização, Chamanculo e Catembe (zonas mais pobres), enquanto no centro da cidade, as opções foram mais equilibradas para o estreante Mondlane, que concorre pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Tal como em Maputo, a Frelimo passou também por um susto no município da Matola, onde Silvério Ronguane, candidato do MDM, bateu-se a par e passo com o seu rival da Frelimo, Calisto Cossa.
Quando estavam contabilizados 72% dos votos, Cossa tinha conquistado 55% do total dos votos apurados, contra 43% de Ronguane e menos de um por cento de João Massango, do partido Ecologista.
Em meios habilitados valorizam-se, entre os factores que favoreceram o MDM nesta empreitada, os seguintes:
O discurso sereno que cultivou na campanha tendente a cativar apoios de um eleitorado intranquilo face à crise político-militar;
Terá captado o voto de parte do eleitorado da Renamo que se auto-excluiu da competição, em divergência com a composição dos órgãos eleitorais, o MDM é visto em sectores do referido eleitorado como um “Filho da Renamo”, algo que o MDM, procura distanciar-se;
O MDM revelou mais apurada capacidade de organização que a notada em eleições anteriores – à excepção do caso da Matola, o facto é associado a apoios materiais e técnicos mais vastos com que contou da parte de países nórdicos da Europa e de meios nos EUA, que também lhe dão amparo político;
A popularidade do partido Frelimo foi afectada pela presente crise político-militar e por episódios da campanha eleitoral, tais como os incidentes na Beira e de Mocuba e Quelimane, instintivamente associados a manifestações de intolerância.
Estas eleições mostraram e demonstraram que Moçambique pode e quer seguir um novo rumo na sua política. Espera-se que a Frelimo, analise bem os resultados dessas eleições, não esquecendo que para o ano vão acontecer as eleições presidenciais.
No âmbito geral estas eleições foram de uma certa forma mais tranquilas do que se esperava, contudo estão longe de terem sido justas e plenamente livres.
Por: Leopardo do Gilé, algures em Moçambique
“escreve sem o acordo ortográfico”