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LUIS ATHOUGUIA - Alfabeto Ilusionista 2011
LUIS ATHOUGUIA - Alfabeto Ilusionista 2011

LUÍS ATHOUGUIA é um notável SURREALISTA

Considero LUÍS ATHOUGUIA na sua essência complexa, um notável SURREALISTA. Mergulha nos princípios básicos desta escola, do modernismo internacional, seguindo os critérios filosóficos literários (1924 de André Breton) em que a psicanálise não fora descurada, assentando em dois pilares construtivos, um a do automatismo criador das (suas) experiências criadoras, outro a do mundo do sonho, a do mundo imaginário, em que na sequência das sua obras, a (sua) pintura automática evidência o afastamento ou mesmo eliminação de qualquer controle da razão ou do pensamento libertando assim os impulsos criadores que habitam o subconsciente.

Relembro “Freud, na sua psicanálise, e Bergson, na sua filosofia, tinham sublinhado a importância relativamente secundária do pensamento sensível, racional e consciente, em relação às riquezas escondidas nas profundezas da alma.”

Quererá LUIS ATHOUGUIA, no seu surrealismo “provocar a erupção dessa vida secreta, alcançar o «maravilhoso» ausente da vida consciente” ?

Quadro curioso e apelativo, classificado na sua iconografia de “Apocalipse ou Revelação – Capítulo IV”, Fig.-1, associa a conjugação do consciente e do subconsciente, do real e do onírico.

Interpreto, o sentimento do autor numa inteligente alegoria à vida, não esquecendo a sua forma inicial, (óvulo ou ovo), forçando e imprimindo nesse esferóide elíptico uma carga interior intensa (carga genética), configurando tudo o que se possa imaginar neste planeta, da atmosfera gasosa, ao estado líquido como na mitologia grega o fogo na senda de Vulcano, ( erupções em regurgitações de humanóides virtuais). Curioso se torna na complementaridade desta obra, o sentido da fecundação não ao acaso, a sucessão de figuras bípedes, todas portadoras de estandartes, embora só uma, a polar superior de maiores dimensões e firmada num figurante ortostático erecto portador da victória – o tal espermatozóide glorioso, penetrante no óvulo, agora fecundado, seguindo o triunfo da espermatenogénese.

LUÍS ATHOUGUIA, além do seu Surrealismo próprio, afirma-se na utilização de “certos símbolos que constituem uma certa linguagem hieroglífica em que os sinais adquirem um sentido preciso pelas relações que estabelecem entre si. Em suma o Surrealismo é o resultado contemporâneo da arte fantástica”.

Há quem designe esta última tendência como “Surrealismo não figurativo” e exponente marcante, Joan Miró. ATHOUGUIA, inspira-se e na sua expressão de algumas visões “caleidoscópicas” compondo: “imagens descontínuas e irracionais que são como sonhos luminosos e visionários, onde o mundo parece sem densidade, opacidade ou peso físico. As cores são espantosas pelo seu brilho e irrealidade. As formas são vivas e, contudo, não representam a natureza. É um mundo de fantasmas familiares, e é por isso que um crítico contemporâneo lhe chamou «sobrenatural».”

Será pois, aqui, na sua fiel corrente a Chagall que ATHOUGUIA se demarca nas suas cores, próprias, bem conseguidas num tingimento regular e homogéneo, harmonioso, comparado à difracção básica dos raios luminosos pela acção prismática, sabendo conjugá-las, na filosofia precursora dos jovens pintores “nabis” capitaneados por
Murice Denis, Pierre Bonard, Vuillard e Roussel. Será que a corrente ironicamente designada por “Fauves”(Feras), “interpretação muito livre da natureza, ao gosto pelo apontamento espontâneo em vez da perspectiva para criar a profundidade, e principalmente devido às suas cores violentas”, terão lugar no sentimento deste pintor ?

ATHOUGUIA não esquece e, revela numa integração fitomórfica perfeita, natural e selvática numa simbiose a dissociação das formas em figuras geométricas, feita por análise intelectual, sendo aliás estas figuras fragmentadas pelo jogo das linhas e dos planos. Estamos pois em sintonia com o “Cubismo Analítico”, que Pablo Picasso focou nas suas imagens mentais ou conceptuais do real.

“Apocalipse ou Revelação – Capítulo III” – Fig.-2; “Apocalipse ou Revelação – Capítulo V” – Fig.-3; são exemplos marcantes em que, triângulos escalenos, simples ou integrados, em flâmulas, estandartes ou pseudo-cristas, integram-se igualmente na composição máxima dos livros sapiênciais, em rectângulos convergentes, aludindo a obras escritas abertas, em que, a lombada pertencente ao universo negro do quadro, dando lugar à vida vegetal, explicitamente marcada no ramo de oliveira, não descurando o firmamento de sete estrelas interactivas, não faltando, uma possível fonte de luz, numa lua cheia branca homogénea.

Interpreto a obra “Apocalipse ou Revelação – Capítulo II”, Fig.-4, um forte expressionismo abstracto na qual, à primeira essência espiritual da expressão, seria dada espontânea e intuitivamente por meio de cores e de composições de elevado poder emotivo, numa temática, de Kandinsky e de Paul Klee, «actividade do espírito», em que o artista deve criar «em si próprio a partir das suas emoções, da sua percepção espiritual e do seu poder imaginativo interior».

“As linhas e os planos, muitas vezes transparentes, inclinados, justapostos ou imbricados, dão todos os aspectos dum objecto de que o artista se lembra no momento em que pinta.”

LUÍS ATHOUGUIA, na sua obra “Apocalipse ou Revelação – Capítulo I” – Fig.-5, confunde-nos com a implantação alfabética grega “Alfa e Beta”, condicionando a sua vertente de um cubismo analítico para um “Cubismo Sintético”, como “Braque e Picasso (cerca de 1911) começam a introduzir nas suas pinturas letras e números para que pareçam menos abstractos”.

Sem dúvida consideramos LUÍS ATHOUGUIA, na Escola do Modernismo Português, um valor da geração presente, não esquecendo grandes vultos antecedentes como: Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Almada Negreiros, Santa-Rita, Maria Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Luís Pinto-Coelho, Júlio Pomar, Manuel Gargaleiro, João Manuel Navarro Hogan, Carlos Botelho, Artur Bual, Mário Cesariny de Vasconcelos, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Jaime Silva, Edmundo Cruz ou Acácio Malhador.

Como referência a este artista e amigo transcrevo que: “a representação já não é um fim em si, e que para eles os problemas essenciais são, de maneira racional ou não, os problemas da forma, da composição, da matéria ou do conteúdo psicológico. Ligados ou não a escolas bem determinadas, exprimem o seu universo com um máximo de individualismo, contribuindo assim – por vezes com experiências ocasionais – para um indubitável enriquecimento certo da arte, e propondo que a criação artística seja considerada de maneira completamente nova”.

José Manuel Martins Ferreira Coelho
(MD; PhD; FACS; HE; KL-J)

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