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MICHELLE, MA BELLE…A MISÉRIA DA NOSSA IMPRENSA FUTEBOLEIRA

P.Guedes de Carvalho

P.Guedes de Carvalho

É verdadeiramente calamitoso abrir os três jornais (ditos) desportivos do dia 27 de Junho e verificar que apenas um deles destacou a extraordinária proeza da Michelle Brito, tenista portuguesa que bateu Sharapova, 3ª tenista do Ranking Mundial, por 6-3 e 6-4 no famoso e emblemático Torneio de Wimbledon.

Um deles dá a 1ª página, outro dá um título cimeiro pequeno e o terceiro apresenta uma pequena nota lateral sobre o feito. Mais ainda, o que valorizam esses jornais? Eventuais transferências ou compras de passes de jogadores de futebol dos 2 grandes clubes de futebol da 1ª Liga! Manifestamente muitíssimo mau. Claramente muito pouco!

Isto é um país de contradições mesmo nos jornais de futebol. Hoje, que a notícia seria a derrota de 3-0 da Espanha na final frente ao Brasil, as capas desses mesmos jornais tratavam de eventuais vindas e regressos de jogadores para os “ditos grandes”! Enfim não percebo as linhas editoriais mas percebo alguma coisa de economia e de negócios. Sem dúvida que é importante que se vendam os jornais, mas antes disso devem cumprir a sua principal missão: informar com actualidade e veracidade.

A cobertura mediática parece exercer uma clara influência sobre os desempenhos desportivos de atletas, treinadores, dirigentes e respectivas organizações. Muitas vezes é assumido sem mais que essa influência é positiva, isto é, quanto mais se falar (bem) de um atleta, clube ou desporto o valor económico desse atleta, clube ou desporto subirá consequentemente. Mas será efetivamente assim?

Apesar de diversos estudiosos darem o crédito do Modelo AIDA a E.K.Strong por o ter publicado na sua obra “Theories of Selling” em 1925, o seu  criador foi ST. Elmo Lewis em 1898, facto confirmado pelo próprio Strong.

Os estágios de Atenção, Interesse, Desejo e Ação (AIDA) formam uma hierarquia linear que os consumidores passam no processo de compra. Dessa forma, para adquirir um produto ou serviço, o consumidor deve, obrigatoriamente: a) Saber da existência do produto ou serviço (Atenção); b) Estar interessado o suficiente para prestar atenção nas características, especificações e benefícios do produto (Interesse); c) Ter um desejo de obter os benefícios que o produto oferece (Desejo) e então, como consequência, d) Comprar o produto (Acção).

Mas pouca gente estudou ou divulgou resultados ainda, sobre a veracidade da aplicação deste modelo ao caso do desporto. As empresas comerciais de venda de marcas e sponsorização continuam a “vender” na base da ideia da visibilidade, o que não deixa de ser verdade, isto é, terá mais retorno aplicar 1 milhão de euros em transmissões de futebol num clube de topo de I Liga do que os mesmos euros na transmissão de um Open Estoril em ténis. Não porque futebol seja melhor ou pior mas porque reúne a atenção de mais pessoas num país como o nosso, onde o Futebol, Fátima e Fado continuam a gerir emoções.

Estará aqui porém uma excelente oportunidade para a intervenção da política pública desportiva. O que quer o Estado com o desporto? Visibilidade por “colagem” aos grandes (nota: antigamente ainda havia um certo decoro sobre as preferências clubísticas)? Dar sinais sobre quais as competições ou os desportos que se devem apoiar? Promover e apoiar os debates dos benefícios da actividade física e da prática do desporto? E as escolas?

Fica esta nota a partir de uma análise simples: nem sempre o que luz é ouro!

É bom para um clube ter a visibilidade que tem e os apoios de imprensa que consegue sem ter que pedir, mas será mau se deixarem cair os resultados desportivos nas mãos de quem gere esse negócio de imprensa; muitas vezes cria-se uma expectativa tão elevada que afecta os próprios intervenientes na competição que, vendo-se tão apoiados não “sentem” a necessidade de se superarem ou, em contrapartida, se sentem tão pressionados que tremem nos momentos decisivos. Aqui Mourinho deixou muitas vezes a lição. Falava e criava um “fait divers” antes de um jogo importante só para atrair as luzes sobre si e tirar a pressão sobre os seus jogadores. E gerir clubes a esse nível não é para todos!

Abençoada imprensa que, por ser assim, nos permitiu ver a Michelle Brito derrotar a nº 3 do Mundo.

Por: Pedro Guedes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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