P.Guedes de Carvalho
Entramos em Dezembro, mês que nos faz embrenhar no espírito de Natal com ou sem crise.
Para mim Natal sempre começou em 1 de Dezembro. Já lá vão muitos anos, mas era o dia, feriado na altura, que dava mote para a família se começar a telefonar (ainda do telefone fixo) e eu escutava os adultos a combinarem quais as prendas que iriam dar aos filhos, sobrinhos e/ ou netos, quando era o caso.
Meia centena de anos passados e eis-me avô de um neto e tio de um sobrinho próximo, teria que ganhar uma prenda jovem adolescente, bom rapaz a quem o futuro vai reservar algo de bom. Há muitos anos não conseguia imaginar este futuro (presente de hoje). E de filhas de noras que não são minhas netas directas. É fruto da época, novas famílias, novas constelações que são motivo de risos saudáveis entre família que sabe rir de si própria. Um avô com Filhos de 2 mulheres, casado com uma excelente madrasta, ambos avós emprestados de excelentes meninas, filhas de anteriores relações de meus filhos e ainda uma filha querida mais nova que dá os primeiros passos na sua profissão; para completar, uma cunhada militante com um sobrinho que vi crescer desde os 4 anos e que tem hoje o perfil de adolescente normalíssimo, a sair do armário, mas único e por isso objecto de todas as atenções.
Gosto do dia 1 Dezembro porque se abrem os baús e se retiram todos os enfeites que foram usados em anos anteriores e preservados por tradição e também pela crise que se voltam a colocar eventualmente em sítios diferentes da casa como forma de recriar e inovar, característica da parte artística de minha mulher. Curiosamente, ela é mestre nessa faceta, fazer do velho algo sempre novo e diferente.
Mas o Natal é durante o mês inteiro. Dia 8, era o dia da mãe nos tempos idos. De manhã cedo acordava e era o primeiro a dizer à minha avó “bom dia Filipina” sempre que encontrava a uma tangerina com fomos gémeos. E quem o dissesse primeiro tinha direito a ganhar uma prenda. Claro que eu ganhava sempre (hoje percebo as avós) e lá ia comprar mais vinte e cinco tostões de cromos, a ver se encontrava o difícil, naquela altura “bacalhau”.
Dia 14 os anos de minha mãe e a 16 os anos de casado de meus pais. Uma emoção, pois sabíamos que estávamos a uma semana da véspera de Natal. Dia em que nos juntávamos todos, primos e tios, numa grande jornada gastronómica. Elas vinham de véspera para fazer os preparos de Natal, descascar batatas, lavar as couves, dessalgar o bacalhau, engrossar o peru para o matar e tirar o cheiro do peru com o molho de água, sal, cebola e aguardente com limão.
No dia a seguir a aprendizagem dos bolos e doces. Separar gemas e claras, bater as claras, fazer as rabanadas, normais e de vinho, a aletria e arroz doce, os mexidos à norte rico. Rapar as taças onde tudo se derretia era o meu forte mas todos nós, garotos, éramos envolvidos nas tarefas colectivas. Uma delícia que hoje se modifica e torna difícil de conseguir. As famílias ainda se juntam de vez em quando mas as tarefas não têm casa comum, cada um prepara as suas coisas nas suas casas e eventualmente juntam-se para jantar e sair, rápido, para ver os programa a de TV diários que não nos dão descanso nem em férias ou festas natalícias, há pois, porque há sempre pessoas que não tem essas festas.
Pela minha parte continuarei a procurar preservar os bons hábitos familiares ainda que as famílias estejam separadas e dispersas. Desde que meus pais partiram, decidi fazer sempre o Natal à moda deles! na minha casa e tenho mulher que me acompanha indefectivelmente! trazendo a sua família para a nossa casa, aquecendo-a com o calor das luzes e velas, das cores e das toalhas, deixando-me manter algumas das minhas tradições do meu passado que, mesmo que não sendo igual, são as minhas memórias de infância. Os meus filhos vão aparecendo mas todos sabemos que não haverá nunca Natal como o do Pinheiro Manso.
O meu sobrinho? Tento passar-lhe o que de melhor tenho na minha memória!
Por: Pedro Guedes de Carvalho
