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NOVOS PARADIGMAS INTERNACIONAIS DA REALIDADE POLÍTICA

C.F.C.

C.F.C.

As revoluções tunisina e egípcia e a crise revolucionária em curso na Líbia, estão a dar aos governos e empresas ocidentais um espaço para reconsiderarem as suas interacções com os regimes autoritários em todo o mundo.

Infelizmente, parece-nos que a Ética e os valores, no geral, têm um espaço não identificado ou até mesmo, inexistente, porque verificamos a necessidade contínua por parte dos governos e das empresas ocidentais (apesar dos alertas internacionais de ordem negativa), em lidarem, leia-se negociar, com governos corruptos e repressivos, mas, é mais fácil os intervenientes fazerem “ouvidos de mercador”, porque a hipocrisia é muita e dão mais importância à questão económica do que à social.

De qualquer forma, parece-nos que nunca é tarde alterar para melhor as velhas posturas ocidentais nas Relações Internacionais; assim, julgamos que os acontecimentos tidos no Médio Oriente e no Norte de África, têm contribuído para se mudar o humor e a forma de análise, bem como, a construção dos vários tipos de laços que se têm com os regimes desagradáveis e instáveis, apesar de que o investimento ocupa um lugar de destaque em todo o processo e é defendido pelos respectivos intervenientes.

Com estas “crises” e no fundo, há males que vêm por bem, mas por outro lado, não devem obscurecer e/ou anularem a possibilidade do aparecimento de revoltas internas conscienciosas com objectivos bem definidos e que têm tido no mundo um efeito “dominó” de elevada importância.

No diálogo Internacional o reconhecimento da importância da legitimidade política para a sua própria estabilidade, implica mudanças na política externa e nos investimentos estrangeiros, estratégicos ou, pelo menos, nos pressupostos que existem a montante.

Os acontecimentos no Norte de África e Médio Oriente puseram em destaque a questão da ética nas relações do Ocidente com o mundo em desenvolvimento. A França tem sido constrangida pela percepção das tendências acolhedoras com o regime tunisino agora extinto, como foi evidenciado pela demissão do ministro das Relações Exteriores francesas, Michele Alliot-Marie.

Perguntas incómodas também têm sido feitas aos EUA sobre o apoio dado ao antigo regime de Mubarak que liderou no Egito e tem sido particularmente difícil também para o Reino Unido, no que diz respeito à reabilitação diplomática do Ocidente com a Líbia.

O argumento para apoiar ditadores e governos antidemocráticos tem sido, tradicionalmente imperado pelo trinómio, pragmatismo-trunfos-idealismo, e assim, se vai sustentando os líderes desagradáveis e os governos corruptos; de facto é este o timbre da vida diplomática Internacional dos nossos dias.

Quer se queira quer não, foi este o pensamento que se foi desenvolvendo ao longo de todo o período da guerra fria e mais recentemente na guerra norte-americana contra o terror que surgiu depois do 11 de Setembro.

Indo à “boleia” os líderes autoritários do Norte de África e do Médio Oriente têm feito muitos apelos para os temores ocidentais sobre a ascensão de grupos islâmicos para assim justificarem a repressão na busca da chamada “estabilidade”. Por sua vez, os governos ocidentais têm partido de uma interpretação errada da dinâmica política local ou como parte de um apelo calculado para ansiedades internas sobre o terrorismo e sobre a imigração.

Há quem apresente convictamente o argumento (muito questionável) de que o autoritarismo pode garantir a estabilidade política, apresentando como exemplo a grande durabilidade que tiveram os regimes da Tunísia, do Egito e da Líbia.

O facto de que esses regimes resistiram durante várias décadas, poderia ser interpretado como um sinal de resiliência. No entanto, o colapso repentino dos regimes arraigados como resultado de uma procura popular para a reforma política também é uma prova da sua vulnerabilidade estrutural inerente.

É interessante notar que o Economist Intelligence Unit, em classificações de risco político tende a atribuir maiores níveis de risco aos países autoritários, devido a todo o seu caos aparente, por exemplo, a democrática Índia recebe uma classificação de estabilidade política muito maior do que a China com um único partido.

Talvez o factor que irá influenciar a resposta imediata dos governos ocidentais para as crises políticas no Norte de África e no Médio Oriente, bem como, para repensar a longo prazo a política externa, seja a importância da legitimidade política.

Em certa medida, estes não são regimes em que uma facção dentro da elite derrubou outra (embora se possa argumentar que no Egito e na Tunísia que foram os casos de facções do exército que derrubaram quem estava no Poder). No entanto, a mudança tem originado uma elevada busca por parte dos populares e em grande escala direcionada para a democracia.

A direcção tomada nos caminhos políticos que as populações destes espaços geográficos têm tomado, tem vindo a reduzir os receios dos governos ocidentais de que um vácuo político permita a extremistas islâmicos obterem a ascendência. Mas, como é sabido, os grupos islâmicos tendem a prosperar apenas na medida em que gozam de apoio popular, e a legitimidade de qualquer nova ordem política vai depender do seu sucesso em dar voz a uma diversidade de pontos de vista políticos, inclusive seculares.

Por estes e por outros motivos, mesmo que sejam de ordem colateral ou mesmo secundários, os ocidentais devem ter em conta uma nova postura e uma nova atitude, isto é, devem ser desenhados novos paradigmas no diálogo das Relações Internacionais, porque toda esta gente está muito próxima da velha Europa.

Por: Carlos Fernandes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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