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O CONGRESSO DA URGÊNCIA

Ernani Balsa

Ernani Balsa

Pior, talvez, do que um país amordaçado, será um país engasgado. Um país a quem se lhe atravessou uma espinha acutilante na garganta da sua normal via democrática. Um espinha que faz doer, mas mais que tudo, impede a normal respiração e o fluxo normal de oxigénio aos pulmões da sua autonomia nacional, que o faz convulsar de repetidos atentados à sua Constituição e assim pôr em perigo a sua própria continuidade como a Nação livre, que o povo escolheu depois de quarenta anos de ditadura. Não é um perigo circunstancial, mas antes um perigo intencional e premeditado. Não foi uma espinha ocasional, mas antes uma espinha cheia de intenções, dissimulada num qualquer preparado alimentar, com sabores enganosos e aromas tentadores.

O governo sabe perfeitamente o mal que está a causar a Portugal e é com o mais descarado dolo que o faz, porque acredita que o estado de semi-entorpecimento com que já conseguiu afectar grande parte da população, é suficiente para desferir mais golpes na descaracterização da sociedade portuguesa, levando-a a convencer-se, pela prática imposta, de que a pobreza é uma virtude a absolutamente vazia de qualquer alternativa. Pior ainda, quer levar as pessoas a consciencializarem-se de que é possível e vantajoso para o país, viverem a pobreza com cada vez mais empenho e mesmo orgulho. Este é o quadro actual, perante o qual é preciso dar uma resposta.

Compete às elites mais esclarecidas, não aquelas de pechisbeque e contrafacção que rodeiam e glorificam o governo e a pobreza do povo, unir esforços para acabar com este sufoco nacional. Dada a absoluta necessidade de encontrar uma solução política para a situação que se vive, dir-se-ia mesmo que a urgência, neste caso, é urgente!

Os encontros e congressos que se têm realizado com o intuito de unir as esquerdas, tiveram já a sua importância, mas foram pouco. Este último congresso, tendo como principal mentor Mário Soares, alargou o seu espectro e teve um maior impacto, não só pela dimensão da adesão que teve, mas principalmente pelo largo espectro de apoiantes, desde as várias tonalidades de esquerda, a independentes, atingindo até sectores moderados da direita, com especial relevo para os sociais-democratas e mesmo democratas-cristãos que não se revêem nos seus berços partidários, hoje em dia acossados duma perigosa febre de neo-liberalismo selvagem.

Cada vez mais, o que é necessário é uma consciencialização generalizada de que estamos a ser alvo de um pérfido e objectivo ataque à democracia, à independência nacional e, em última instância, às mais básicas liberdades individuais. Por isso, já não se trata só de uma questão de esquerda, centro ou direita, mas sim de um gravíssimo problema de sobrevivência nacional, de sanidade política e da absoluta necessidade dum largo consenso, para recuperarmos os valores que estão em vias de ser desprezados e vendidos. A solução não é fundir a esquerda e a direita, nem fazer convergir o pensamento nacional numa só voz e pensamento. A solução é respeitar cada linha ideológica, desde que contida nos princípios essenciais da Constituição da República e aceitar os desafios da diferença. Não existem em qualquer parte do mundo países de esquerda ou de direita! O que existe são governos de esquerda ou de direita que indevidamente subjugam os seus povos a um pensamento único, mas isso tem um nome, chama-se ditadura e pouco interessa se ela é de esquerda ou de direita. Essa será, em última instância, uma miragem que certos sectores do actual aparelho de estado em Portugal gostariam de ver implementado no nosso país. Um país, um governo, um presidente e um povo de pensamento único, superiormente centrado na pobreza, como um voto de fé em algo divino e místico.

É por tudo isto que urge uma solução e um levantamento geral das mentes lúcidas e livres deste país, para encontrarmos energia e engenho suficiente, que nos livrem deste sufoco nacional em que vivemos. A situação está mais que analisada, escalpelizada e as suas consequências mais do que avaliadas. Se não formos céleres, o país será vendido a retalho e nem o legítimo orgulho de sermos portugueses nos sobrará, porque ele será diluído numa qualquer fórmula em que apenas existirão ricos e pobres, sem nacionalidade, nem alma, nem patriotismo!

O próximo congresso, pois, já não poderá ser, nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, nem de convergência, nem de consenso. Terá de ser um congresso de pessoas de bem, apenas, com total exclusão daqueles que nos fizeram chegar a esta situação. Será um congresso que reúna e convoque todas as boas vontades, coloridas pelas naturais diferenças de pensamento, mas unidas pelo respeito mútuo e por elevado sentido de cidadania. A hora é de união, no respeito pela diversidade, mas com firmeza e sem atitudes titubeantes ou imprecisas. Determinação, vigor e bom senso!

A hora é de um congresso da urgência!…

Por: Ernani Balsa
“escreve sem o acordo ortográfico”

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