O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu todas as ameaças que fez até aqui. O país não só vai aplicar uma tarifa mínima de 10% a todos os parceiros comerciais como, no caso de países que imponham tarifas particularmente elevadas, vai retaliar com tarifas correspondente a metade desse valor.
Além disso, Donald Trump anunciou uma tarifa de 20% sobre as importações da União Europeia e de 34% sobre os produtos chineses. Também Taiwan, um centro mundial de exportação de semicondutores, foi alvo de uma tarifa de 32%; o Japão, um dos aliados mais próximos dos EUA, recebeu uma tarifa de 24%; e a Índia uma tarifa de 26%.
No contexto da economia americana – onde a incerteza sobre o futuro e o medo da recessão se enraizaram – referir-se a este dia como um “Dia da Libertação” parece irónico. No entanto, o nome pode ter um significado mais subtil. Trump sublinhou que, nas últimas décadas, os Estados Unidos se tornaram demasiado dependentes de bens estrangeiros e de economias vizinhas. Como resultado, o país terá perdido a sua autossuficiência e o seu poder tornou-se “frágil”.
Neste contexto, o relançamento da economia americana, nomeadamente da indústria, parece necessário para que os interesses dos Estados Unidos recuperem o estatuto de primeira superpotência mundial inquestionável, que tem sido ameaçado pela China.
Para atingir este objetivo, Donald Trump parece estar disposto a prejudicar a economia mundial a curto prazo. O presidente norte-americano afirmou claramente que vai priorizar o mercado americano e as empresas nacionais, mas não a qualquer custo. O Presidente dos Estados Unidos anunciou que gigantes tecnológicos como a Nvidia, a Apple e a Oracle terão de suportar custos elevados por construírem infraestruturas de última geração nos EUA.
A perspetiva de isenções aduaneiras pode, de facto, levar muitas empresas a considerar a possibilidade de abandonar alguns mercados e apostar numa deslocalização dispendiosa para os Estados Unidos. No entanto, as questões fiscais não são o único peso na balança. É necessário ter também em conta as taxas de imposto sobre as sociedades, os custos laborais e outras variáveis, como as cadeias de abastecimento. O lançamento de uma produção industrial em grande escala nos EUA levará anos e custará uma fortuna, tanto ao orçamento federal como às empresas. Sendo assim, os principais beneficiários desta nova política norte-americana são mesmo as empresas que já produzem nos EUA, uma vez que não terão de suportar os custos adicionais impostos pelos direitos aduaneiros.
Olhando para a economia americana de forma geral, esta política agressiva de imposição de tarifas vai levar, certamente, a um aumento dos preços dos produtos eletrónicos, que os EUA importam em grande escala. Neste cenário, é provável que a Reserva Federal suspenda qualquer posição dovish sobre potenciais cortes nas taxas este ano, pelo menos até que as expectativas mais fracas dos consumidores, das empresas e dos executivos se reflitam em dados económicos concretos.
É quase certo que a inflação vai aumentar e a questão é saber se o “mercado livre” conseguirá lidar com isso, uma vez que nem todas as empresas vão ser capazes de transferir os custos para os consumidores na mesma medida. Algumas poderão até ser obrigadas a absorver os custos, através da redução das suas margens de lucro.
Este clima pessimista e incerto já se fez sentir nos índices bolsistas logo após o anúncio de Donald Trump. Os futuros do Nasdaq 100 terminaram as negociações com uma queda de quase 2,5%, apesar de terem registado ganhos antes do discurso de Trump e terem terminado a sessão em terreno positivo. Entretanto, o chamado “índice de medo” VIX subiu quase 6%, e a incerteza antes da abertura do mercado norte-americano continua a subir. O par EUR/USD continua a aproveitar a fraqueza do dólar americano e voltou a disparar.
Análise: XTB