Começo com uma indispensável declaração de interesses. Tenho simpatia pelo Tó Costa. Acho-o um cidadão, um político e um autarca suficientemente credível que, sem estar isento de defeitos e vícios inerentes à política, me merece respeito e expectativas de bom desempenho. Já quanto a Tó Zé Seguro, essencialmente, sinto-me inseguro. Não lhe reconheço estatura política, embora ele seja um filho da política e tenha todos os atributos para se saber movimentar nesse mundo pardo e escorregadio, viscoso e tenebroso, se bem que pelos piores motivos. Tem uma prática carreirista e um grande vazio de ambições politicamente correctas, movimentando-se bem, tanto nos bastidores como no palco da política mais indesejável. Mas isto só, não chega! Dito isto, vamos ao que interessa.
É indisfarçável a contenda que se vive internamente no PS, mas não é menos preocupante a influência que o seu desfecho poderá ter ao nível da política nacional. Quer se queira ou não, o PS é, para o mal e para o bem, uma força decisiva no panorama social e político português. Pode, essa influência, não ser a mais benéfica para os portugueses, uma vez que o PS tem, no mínimo, tantas culpas como o PSD e o CDS, juntos ou a jogar em separado. E assenta esta minha opinião, no facto de o PS ser igualmente responsável pelo estado a que chegámos.
António José Seguro é um político que chegou onde chegou duma forma perfeitamente improvável, não porque ele não tivesse trabalhado toda a sua vida para isso, sendo um genuíno produto da JS, mas porque não tem, nem estatura nem carisma para ter ascendido ao lugar que hoje ocupa. É um político profissional sem o menor rasgo de brilho ou vocação. Soube, no entanto, e isso vem-lhe de tudo o que aprendeu na sua Jota, rodear-se das sempre disponíveis figuras menores, mas radicalmente seguidistas e obedientes, do partido, o que lhe proporcionou uma couraça eficiente que o resguarda de quaisquer influências dos sectores mais conscientes e sensatos do partido. Por outro lado, seguindo à risca todos os cânones dos líderes fracos, criou uma exército de potenciais “boys” com a promessa de lugares ao sol num futuro governo que ele assumiu como certo. Diz ele que percorreu o caminho das pedras e que agora, traiçoeiramente, se vê ameaçado pelo avanço de António Costa. Ingénua constatação, porque ele nunca se olhou ao espelho e não reconheceu que entre a sua estatura e a de primeiro ministro lhe faltava mais qualquer coisa do que a simples queda ou derrota eleitoral de Pedro Passos Coelho.
Hoje em dia é deprimente ver a figura deste pseudo-líder, lamentando-se pungentemente em público, duma putativa traição que o seu camarada de partido, António Costa lhe fez, depois de um festejo absolutamente desajustado dos menos de cinco por cento de vantagem, relativamente à derrota da Aliança Portugal, composta por PSD e CDS. Na realidade, quem consegue festejar de uma forma tão ridícula, a desconfiança que os portugueses quiseram mostrar ao PS, distanciando-o dos partidos do governos por uma margem tão reduzida, não pode ser uma alternativa credível a este governo. Quanto muito, seria uma alternância de personagens. Ora António Costa, não se sabe se sozinho ou com ajuda de alguns dos seus companheiros mais lúcidos, já não poderia ignorar esta verdadeira vergonha para o PS e avança determinado a recuperar alguma da credibilidade do Partido Socialista que ainda reste, tentando criar uma hipotética alternativa que possa estabelecer uma diferença positiva entre os dois previsíveis candidatos a primeiro ministro.
António José Seguro não entende nada do que se passa à sua volta e nem mesmo no interior do PS, porque a sua cartomante ou a sua estrela protectora lhe teria assegurado que seria ele o próximo a ocupar S. Bento, independentemente da percentagem de votos ou da sua capacidade para assumir tal cargo. Ele sonhou um dia que estava predestinado para isso, vestiu o seu melhor fato, ensaiou o sorriso mais emblemático de qualquer manequim de montra e achou que estava preparado para ocupar o lugar que uma diminuta maioria do povo lhe tinha prometido. E convenceu-se que estava a poucos passos de tal entronização. Com mais uns ligeiros retoques de imagem, umas declarações inócuas e bem desenhadas, a encenação dos seus apaniguados a ovarem-no como se se tratasse de um verdadeiro líder salvador da nação, inebriou-se com bebidas politicamente correctas e ficou á espera das próximas eleições para derrotar a direita, nem que fosse com meio por cento, porque, segundo ele, o que interessa é ganhar e não como se ganha
.A sua vacuidade é confrangedora, se não fosse também uma potencial ameaça para a qualidade de vida dos portugueses, já suficientemente mal tratados por Pedro Passos Coelho e o seu governo. O Secretário Geral do PS não tem qualquer qualidade para assegurar o governo da nação. É um boneco político insuflado em que até o ar que o insufla é mal empregue. Ele encara a chefia do governo com a mesma ingenuidade com que se convenceu, nos seus anos de juventude partidária, que poderia vir a ser um político, um líder e um governante respeitado. Não se lhe conhece outra actividade do que a de embrião de político profissional, posição que ele imagina agora desempenhar, só porque o PS permitiu que ele assumisse um cargo para o qual não tem a menor das competências. É sem sombra de dúvidas, não o pior, mas a negação mais absurda de líder de um partido com as responsabilidades do Partido Socialista. Claro que para ele ter chegado até onde chegou, muitos mais culpados existem, só que uns estão conscientes disso e outros ignoram ou escondem que têm a responsabilidade de o terem escolhido.
Quanto a António Costa, poderá não ser o salvador de nada, até porque não há certezas de alguma coisa poder ser salva nesta tragédia que vivemos, mas é indubitavelmente uma escolha passível de usar a sua experiência e as suas inatas capacidades para melhorar o PS e até mesmo, para minorar alguns dos estragos que a direita perversa que atacou o PSD causou nestes últimos anos a Portugal e aos portugueses. E assim, o desafio que António Costa resolveu assumir, disponibilizando-se para tomar conta de um PS desfigurado e dividido, é uma réstia de esperança, quanto mais não seja para os socialistas, enquanto que António José Seguro é uma fraude partidária e política, vazia de ideias e pensamento político. É um líder que dança sozinho, ao som de uma música que nem ele próprio entende e que se maravilha com os atabalhoados passos que dá na pista, não conseguindo aperceber-se que aquilo não são passos de dança, mas antes tropeções políticos que só não fazem estragos porque não tem par… Quem é que dançaria com tal personagem inacabado e tosco?…
Ernani Balsa
“escreve sem acordo ortográfico”