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O QUE PODE SER POSITIVO PARA O INTERIOR

PROJETO DEMOSPIN

Demografia economicamente sustentável – Reverter o declínio em áreas periféricas

P.Guedes de Carvalho

Pretendo com este texto deixar uma luz de esperança para todos aqueles que, como eu, escolheram esta região para desenvolver a sua vida profissional. Estamos fartos de ser “coitadinhos” e fartos de sinais de desgraça. De uma vez por todas teremos que nos juntar no essencial e focarmo-nos na positividade de propostas para o futuro. O grupo a que pertenci para estudar o fenómeno tem uma perspectiva muito clara sobre o assunto: temos que decidir entre uma região para pessoas ou uma região para animais (coutadas de caça ou não). O nosso contributo foi estudar, projectar, ouvir muito os envolvidos e lançar o alerta de que AINDA É POSSÍVEL humanizar o interior, mas só se actuarmos sem demora.

Os resultados dos censos de 2011 são claros: todas as regiões do interior perderam população, acentuando-se a perda já verificada em 2001. Mas também viram o envelhecimento populacional ganhar terreno: além da quebra de nascimentos e do aumento da esperança média de vida, muitos jovens entre os 20 e os 30 anos deixaram o interior, preferindo fixar-se no litoral. Como contrariar esta tendência?

O que tem de inovador este estudo? Normalmente, o estudo da população e da economia é feito em separado. Esta prática tem levado a que se apontem soluções para reverter o declínio demográfico sem qualquer relação com a evolução económica, como são exemplo os incentivos financeiros para o incremento da natalidade. Adotada em vários municípios, esta louvável iniciativa não foi, contudo, capaz de travar as tendências referidas, seja porque a decisão de ter filhos, como projeto de longo prazo, requer sobretudo adequadas condições de vida dos futuros pais – empregos com perspetiva de carreira, associados a infraestruturas e equipamentos de apoio à criança – seja por que, por vezes, o efetivo de mulheres em idade fértil (15 aos 49 anos) já não é suficiente para repor as gerações, ainda que com subidas significativas das taxas de fecundidade.

Assim, apenas através da atração/fixação de população fértil será possível inverter a realidade atual.

O projeto de investigação científica DEMOSPIN, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia – e realizado pelas Universidades de Aveiro, Coimbra e Beira Interior e pelos Institutos Politécnicos de Castelo Branco e Leiria – estabelece a ponte entre a demografia e a economia, assumindo a coevolução e interdependência entre ambas por meio dos fluxos migratórios. E estes são, em grande medida, determinados pela criação ou perda de empregos.

O resultado final do DEMOSPIN consistirá fundamentalmente na disponibilização, aos decisores políticos, de uma ferramenta informática que incorpora um modelo integrado para a previsão da evolução da economia e da população. Ou seja, que quantidade de empregos – a par de outros indicadores económicos – deverá ser criada para atrair a população jovem necessária para a estabilidade demográfica? E que impactos esta nova população terá na economia regional?

O modelo desenvolvido foi testado através da sua aplicação prática. Para este fim, foram escolhidas as regiões da Cova da Beira e do Pinhal Interior Sul como casos de estudo.

Foram auscultadas as opiniões dos agentes sociais e económicos a operar nestas regiões, como forma de melhor avaliar as suas expectativas quanto aos setores com mais potencial de crescimento, assim como as condições requeridas para o seu desenvolvimento.

As conclusões do estudo serão apresentadas no Seminário Final do Projeto, subordinado ao tema Reverter o Declínio Demográfico no Interior – possível ou impossível?, a realizar na cidade do Fundão, no dia 26 de Outubro próximo, sob os auspícios da Presidência da Câmara Municipal.

Evolução dos Saldos Migratórios

Na sequência deste estudo a equipa de investigação desenvolveu 6 cenários hipotéticos para futuro estabelecendo diferentes taxas de crescimento económico e dos saldos migratórios. Com esses cenários pode verificar-se que existe a possibilidade de alguma luz, assim se tomem as medidas adequadas (cenário I o melhor). Os saldos migratórios tenderiam a ser positivos, o que é necessário para satisfazer as oportunidades de emprego. Na sua ausência, a população da região não será suficiente para preencher as oportunidades de emprego geradas pela economia local, ainda que em cenários pouco favoráveis (VI), nos quais o Pinhal Interior Sul perderia 31,3% e a Cova da Beira 27,7% do emprego.

Tudo isto exige contudo muita coordenação dos responsáveis que vão ficar no terreno a partir destas eleições. Por isso, votem bem.

Por: Pedro Guedes de Carvalho

ALGUNS DADOS ELEMENTARES

Taxas de crescimento efetivo da população portuguesa por NUTS III (1981–2011)

Assinaladas a cor ocre, creme e castanho as regiões em maior perda populacional

Fonte: INE – Censos de 1981, 1991, 2001 e 2011

Pirâmides Etárias

Pinhal Interior Sul

      Censos 2011

População fechada (sem migrações)

Estimada para 2030

Cova da Beira

              Censos 2011

População fechada (sem migrações)

Estimada para 2030

 

 
   

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