Por que se conduz pela direita em Portugal, mas há outros países onde se conduz pela esquerda, já questionou o porquê desta diferença? A razão surgiu muito antes de os caminhos se tornarem estradas e de existirem automóveis como os conhecemos atualmente.
A origem da condução à esquerda remonta ao tempo dos romanos
Segundo uma investigação feita em 1988, um grupo de arqueólogos encontrou sulcos com maior desgaste do lado esquerdo. Este facto faz sentido, uma vez que a grande maioria da população era dextra e o facto de se conduzir do lado esquerdo permitia-lhe montar a cavalo e defender-se de eventuais ataques com a mão direita. Esta tradição continuou com o advento da carruagem e espalhou-se por muitos territórios. A Grã-Bretanha foi um dos países que manteve este hábito, um costume que mantém até à atualidade.
Hoje, dos 241 paises do mundo, 68 ainda optam pela condução do lado esquerdo, sendo que a maioria deles são, ou já foram, dependentes de coroa britânica.
A condução pela direita tem origens napoleónicas
Por outro lado, se a origem da condução à esquerda tem origem romana, a condução à direita tem origem napoleónica. Foi após a Revolução Francesa (1799) que Napoleão Bonaparte introduziu importantes mudanças na Europa, incluindo a obrigatoriedade de conduzir à direita. Esta prática foi imposta em França e acabou por se estender a todos os países onde o imperador tinha influência. Alguns dizem que esta regra foi imposta pelo facto de Napoleão ser canhoto, outros, no entanto, acreditam que se baseou numa motivação para romper com as medidas do antigo regime (Ancien Régime).
O Ford Modelo “T” difundiu o volante à esquerda em todo o mundo
O último e mais recente facto histórico a influenciar o sentido da condução foi o caso dos Estados Unidos, um dos primeiros países a decidir conduzir, tal como em Espanha, à direita. Os primeiros automóveis fabricados colocavam o volante como bem entendiam, à direita, ao centro ou à esquerda. A mudança deu-se com a distribuição dos automóveis Ford modelo “T”.
O primeiro Modelo T foi lançado em Outubro de 1908 e tinha o volante à esquerda. Em 1916, este já era, por uma margem muito confortável, o líder mundial de vendas. Este sucesso acabou por influenciar todos os concorrentes e, em 1914, os Buick e os Hudson juntaram-se aos construtores com “volante à esquerda”. Em 1915 a Cadillac acompanhou a tendência e o caríssimo Pierce-Arrow foi o último a resistir, colocando finalmente o volante à esquerda em 1921. Assim, o sucesso e a expansão do Ford acabaram por impor a condução à direita e o volante à esquerda em quase todo o mundo.
Na Europa, esta regulamentação foi estabelecida com a Convenção de Genebra sobre a circulação rodoviária, em 1949, na qual se estabeleceu que a decisão de cada país sobre o sentido de circulação deveria ser generalizada a todo o seu território.
Curiosamente, aqui ao lado, em Espanha, e até ao início do século XX, em Barcelona conduzia-se pela direita e em Madrid pela esquerda, o que provocava um caos no trânsito e um grande número de acidentes. Foi em 1924 que Madrid regulamentou a circulação pela direita. Desde então, em Espanha, todos conduzem à direita.
Em Portugal circula-se pela direita desde 1928
Em Portugal, o dia 1 de junho de 1928 ditou as novas regras de circulação que vieram revolucionar os hábitos dos condutores portugueses, com a obrigatoriedade de circular à direita. Para o efeito, criaram-se dísticos “Pela Direita” que foram espalhados um pouco por todo o território, contribuindo para a boa ordem da circulação automóvel. Esta nova regra de trânsito que alterou os hábitos dos portugueses, foi alvo de uma grande campanha de sensibilização que contou com o apoio do Diário de Notícias.
Mas esta obrigatoriedade dizia apenas respeito a Portugal continental e ilhas, já que muitas colónias na altura, em especial aquelas com maior influência britânica, mantiveram o hábito de circular pela esquerda, como Moçambique, Goa ou Macau. Esta uniformização da condução em todo o território português contribuiu para a segurança dos utilizadores das vias públicas, sobretudo dos condutores que, na época eram pouco mais de 31 mil (para 28.000 veículos existentes).
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