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PORQUE NÃO SE FECHAM TODAS AS ESCOLAS PÚBLICAS?

P.Guedes de Carvalho

P.Guedes de Carvalho

Eu, e penso que muitos de nós, ando bastante céptico em relação ao nosso país. A qualidade de análises, estudos e resultados que se divulgam e propagam todos os dias começa a ser assustadora e muito difícil de confirmar. “Irrevogável” e “mentira” são conceitos com novos significados e a nossa língua está a alterar-se a uma velocidade que não nos permite ter uma realística percepção do que está a mudar, em quem acreditar e quem criticar. Está difícil mesmo, acreditem.

Saem sucessivos resultados dos exames e provas especiais de língua portuguesa e matemática nos finais de ano no 4º, 9º e 12º de escolaridade obrigatória e diz-se que estão a piorar progressivamente desde há uns anos. Os rankings das escolas, com todos os defeitos que possam ter mantêm os lugares cimeiros atribuídos a uma vintena de colégios particulares onde apenas deixam intrometer-se umas quantas escolas clássica e tradicionalmente credibilizadas. E as tentativas de explicação para tais resultados não deixam de pulular, vindas de todos os quadrantes, procurando subliminarmente apontar as responsabilidades aos pais, à família desestruturada ou aos partidos que anterior e sucessivamente tomaram as medidas. Uma vergonha. Então ninguém fala das sucessivas enormidades cometidas de encerramento de escolas, alargamento de turmas, fim do Plano Nacional de Leitura, Plano Nacional da Matemática, mais mega agrupamentos de escolas, secundarização das artes, da música e do desporto nos currículos? Não será pela desvalorização do que de bom se fez no ensino, nas escolas e na sociedade?

Não querem ver que todas essas “coisas” faziam mesmo falta na formação dos alunos? As famílias são obrigadas a trabalhar mais horas e mais dias para pagarem as dívidas em que o sistema bancário as meteu; não conseguem por isso apoiar minimamente os seus mais jovens, sem contar com o facto de muitas delas não terem dentro de si pessoas com competências para o fazer. Olha, queres ver que foi por isso que foram criadas escolas públicas há muitos anos? Não foi nos anos 30 do século passado que o ministro Pacheco Miranda quis criar escolas para ensinar todos os portugueses a ler, escrever e contar? E mesmo assim não conseguiu. Não é que isto de colocar um povo inteiro a deixar de ser analfabeto é mesmo difícil? E logo agora que precisamos de cortar às despesas públicas e que os homens do poder estavam a encaixar-se tão bem nas empresas públicas com apoio dos seus familiares ministros, nos swaps e nas privatizações temos nova gramática, matemáticas modernas, necessidade de dominar outras línguas, desenvolver as capacidades criativas e sensibilidade artística e musical em especial. É de mais! Os governantes não têm tido mesmo sorte nenhuma. Ainda por cima, num país que não ajuda nada onde a imprensa é livre e andam sempre a escarafunchar na vidinha de toda a gente. Vejam lá que agora até o ministro doutor sem o ser vai ser o embaixador da nossa língua; o marido da senhora teve que se demitir da EDP; o secretário de estado de nada sabia e não mentiu e não se lembra se esteve ou não nessa reunião de discussão dos swaps com anterior governo. Sabem que mais? Entreguem-se porque o movimento de insurreição das favelas aqui em Portugal não pega. Tenham vergonha na cara.

Para que servem as escolas? E os professores? Para nada. Metam os poucos jovens que ainda vamos tendo numa sala grande 8h por dia com uma assistente operacional e os Magalhães. Eles aprenderão sozinhos o mínimo para se fazerem entender neste mundo dos gadgets. Os outros, aqueles que os governantes querem que sigam carreiras de “jotas”, de diplomatas e de governantes, esses aprenderão nos tais colégios privados com boas condições, disciplina e regras de boa educação, com artes diversas, música e actividade desportiva regular.

Há cerca de 30 anos, era eu professor de uma escola secundária, dediquei-me à formação complementar de jovens através da actividade desportiva. Em conjunto com outros colegas professores formei um clube de desporto escolar. Chegamos a 150 inscritos em pouco mais de um ano, com prática regular de actividade desportiva, participação em competições e até algumas boas classificações e jovens que chegavam à seleção nacional. No tempo em que isso era trabalho voluntário e as pessoas se moviam por valores e princípios. Pois vejam só que, recentemente, uma boa parte desses jovens se reuniram em convívio e convidaram-me para estar presente. Nem imaginam o que nesse dia eu aprendi; sobre o quanto eles me disseram que aprenderam durante esses tempos e de como a vivência desportiva os marcou na sua vida profissional e familiar. Tudo a partir de uma escola…pública.

Mas não queria deixar de terminar esta pequena crónica sem dizer que acho que os professores que se prezam têm que saber defender-se de uma quantidade enorme de pessoas que entraram na actividade do Ensino por todas as razões menos por vocação e, muitos ainda, apenas por não terem competências para exercerem outras profissões. Esta verdade inelutável deve fazer-nos pensar bem sobre critérios de exigência desde a formação; à entrada nas profissões e à necessidade de avaliação adequada do desempenho.

Por: Pedro Guedes de Carvalho
“escreve sem o acordo ortográfico”

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