Lisboa e o Coração Partido de um País
Lisboa viu-se sacudida por um crime brutal que ultrapassa os limites do aceitável e deixa a sociedade atónita. Um triplo homicídio na Penha de França – um bairro tradicional e de classe média – expôs uma ferida profunda que vai para além das manchetes de jornais e dos noticiários televisivos.
As vítimas, um casal e o proprietário de uma barbearia, foram mortas a tiro, alegadamente por um cliente descontente. Esta história, por mais aterradora que seja, não é um caso isolado. O que nos choca não é apenas o número de vítimas, mas a irracionalidade de um ato de violência que nasce de um trivial desacordo sobre um corte de cabelo.
Lisboa, como muitas outras cidades europeias, tem vindo a assistir a um aumento de crimes violentos. A falta de uma resposta robusta por parte das autoridades, aliada a uma sensação crescente de impunidade, deixa-nos a perguntar: que sociedade é esta onde a vida humana se torna secundária perante a frustração momentânea de um indivíduo?
Mas a verdade é que a responsabilidade não é apenas das forças de segurança ou dos tribunais. A sociedade em geral – nós, os cidadãos – temos de nos questionar sobre o que estamos a falhar. Onde se perdeu o respeito pelo próximo? Onde estão as políticas de apoio psicológico, os programas de prevenção da violência, o reforço da segurança comunitária? Se não encontrarmos estas respostas, continuaremos a assistir a mais tragédias sem sentido, numa espiral de violência que ameaça destruir a nossa coesão social.
O Caso BES: Um Capítulo que Nunca se Fecha
Enquanto a tragédia de Lisboa nos confronta com a violência quotidiana, o sistema judicial português deu-nos hoje mais um exemplo de que a justiça parece funcionar a duas velocidades. A prescrição de 11 crimes no processo do BES/GES, incluindo três que envolvem diretamente Ricardo Salgado, não só choca pela decisão, como abala profundamente a confiança dos cidadãos no sistema legal.
Não é a primeira vez que assistimos a este desfecho. Os processos arrastam-se, a burocracia impede decisões céleres e, no fim, a justiça nunca chega para quem mais precisa. A derrocada do Grupo Espírito Santo, com prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros, afetou pequenos investidores, famílias e até o próprio Estado. E agora, mais de dez anos após o início do processo, é este o resultado que se apresenta: um veredicto onde as acusações se evaporam sem julgamento, e os arguidos não são responsabilizados.
É aqui que reside a verdadeira crise do sistema judicial português: na capacidade de os poderosos se refugiarem nos labirintos da legislação, enquanto o cidadão comum enfrenta a dureza implacável da justiça. A mensagem que fica é clara: se tiveres recursos, tempo e contactos, há sempre uma saída. Mas, para todos os outros, a justiça é apenas um sonho inalcançável.
Europa: Uma União de Contradições
A nível europeu, as tensões económicas e sociais continuam a dividir o continente. A Alemanha, outrora o bastião de estabilidade e crescimento, enfrenta uma estagnação que parece não ter fim à vista. Com a inflação a corroer o poder de compra e os índices de confiança a descerem, a maior economia da União Europeia já não pode sustentar, sozinha, o peso da recuperação económica.
Entretanto, os países do Sul, como a França e a Itália, reforçam as suas políticas protecionistas, criando fricções com o Norte da Europa e enfraquecendo a coesão do bloco europeu. A União Europeia foi fundada sobre os princípios da solidariedade e da cooperação, mas hoje parece dividida entre quem defende o rigor orçamental e quem luta pela sobrevivência económica.
Em vez de soluções conjuntas, vemos medidas isoladas, promessas vazias e um afastamento gradual dos valores europeus que deviam nortear a política comunitária. Se a União Europeia não se unir para enfrentar os desafios económicos e sociais com uma voz única, o futuro será de fragmentação e retrocesso.
Um Chamado à Ação
Perante este cenário nacional e europeu, a única solução é agir. Não podemos mais aceitar que a violência seja apenas mais uma notícia do dia, ou que a justiça se dobre perante quem tem influência e dinheiro. Precisamos de exigir mais das nossas instituições e, ao mesmo tempo, envolver-mo-nos mais como cidadãos.
A mudança começa connosco. O silêncio é cúmplice da injustiça, e a inércia é amiga do crime. O que se passa hoje em Portugal e na Europa não são apenas acontecimentos – são sinais de alerta. É tempo de acordar e fazer a diferença.
Gonçalves da Silva Lino
Diretor de Informação
iPressJournal.pt