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QUERER É PODER

Ernani Balsa

Ernani Balsa

Porque são as pessoas aquilo que são?… Os anos de vida vão-nos adaptando às diversas circunstâncias com que nos vamos confrontando, mas é no período da nossa formação que se consolida aquilo que vai ser a base da nossa capacidade de nos mantermos íntegros e úteis à sociedade e também de saber reagir a cada situação com os instrumentos que aprendemos a usar quando ainda estávamos no cadinho do nosso desenvolvimento juvenil.

A escola onde estudámos, os professores que tivemos e, num âmbito mais lato, os educadores que nos acompanharam, são um conjunto de factores que se constituem essenciais para aquilo que somos hoje, se conseguirmos evitar más influências e pusermos sempre à frente os princípios e valores que nos foram inculcados e os exemplos que nos foram dados, numa aprendizagem que não se restringe aos programas curriculares, por mais avançados que sejam. É pelo exemplo, pela consistência dos métodos, pela voluntariedade no amor a educar e pelo sentido da disciplina interiorizada, que adquirimos a estrutura daquilo que nos suporta, ao longo da vida, e nos faz ser os cidadãos que hoje somos.

Todos estes valores, conjugados com um ensino académico, técnico, profissional e virado sempre para o futuro, sem esquecer a compreensão de um passado que não devemos esquecer nem menosprezar, me foram transmitido pela escola onde estudei, onde obtive a minha formação e onde estabeleci os mais fortes laços de amizade e camaradagem que sempre perdurarão, independentemente das diferenças que se vão construindo pela vida fora. Essa escola é peculiar e rara, na sua qualidade e nos seus pergaminhos. Tem hoje cento e dois anos de existência, tendo sido, portanto, uma obra da República que formou milhares de cidadãos úteis à Pátria. Essa escola é o Instituto dos Pupilos do Exército (IPE)!

Ontem, como acontece frequentemente, revisitei-a por altura de três eventos marcantes e exemplares da diferença que os Pupilos do Exército mantêm das outras escolas deste país. O lançamento de um livro da autoria de um antigo aluno, a homenagem a um antigo Director e o apadrinhamento dos novos alunos. A partilha das cerimónias e outras actividades extra-curriculares atrai sempre os familiares dos alunos, que mantêm estreita relação com o Instituto, e muitos ex-alunos de várias gerações que rumam ao antigo Convento de S. Domingos (de Benfica) para tornarem a respirar aquela atmosfera que neles se entranhou durante os anos em que fizeram daquela “casa tão bela e tão ridente” (conforme é descrita numa das estrofes do seu hino…), a sua morada em regime de internato, podendo assim confraternizar com a actual geração e recordar histórias antigas, enquanto se passeiam pelo velho Claustro Interior, onde repousam, na vetusta Capela dos Castros, os restos mortais de D. João de Castro, seu patrono, e de sua família. Os “Pilões”, designação carinhosa que define quem por lá passou, dizem sempre presente e mesmo depois de saírem, tenham a idade que tiverem, nunca mais deixam de o ser.

A existência e continuidade deste tipo de escola, conjuntamente com o Colégio Militar e o Instituto de Odivelas, os três sob a tutela do Exército Português, já por diversas vezes foi posta em causa, mas agora com especial relevo, pelo governo actual, na sua sanha reformadora e economicista, pretendendo nivelar por baixo todo o ensino, sem atender às suas especificidades e ao valor diferenciado destes Estabelecimentos Militares de Ensino. É certo que é fácil e até apelativo, numa visão populista e mistificadora, apontar esta trilogia de escolas de serem um peso para o erário público, sem se atender ao seu valor acrescentado, como pólos educativos de elite e de ensino diferenciado pela positiva, geradores de cidadãos úteis à Pátria, que para além de um programa curricular completo, somam a formação cívica, militar e desportiva, o elevado valor da disciplina e do desenvolvimento de personalidades moldadas pelo domínio da liderança e do trabalho em equipa. Para reforço deste clima de vivência muito apoiada na fraternidade e partilha, existe um ritual de apadrinhamento dos novos alunos, no qual cada novo aluno passa a ter um aluno mais velho como padrinho interno, e que é, por assim dizer, o seu tutor durante o seu período de adaptação, mas também um antigo aluno-padrinho, que se assume como mentor, conselheiro e protector, o qual a partir do exemplo, da experiência e do diálogo, protege e apoia o desenvolvimento do jovem, integrando-o nas tradições da escola e orientando-o na construção do seu próprio caminho. Este ano tive a honra de ser um desses padrinhos e fiquei agradavelmente surpreso por ele me confessar que foi ele que escolheu os Pupilos do Exército e que já tem como objectivo alistar-se na Força Aérea. Quando aos 10 ou 11 anos  se tem já esta determinação, é bom que existam escolas onde estas vocações podem ser aproveitadas e devidamente encaminhadas ou que, mesmo não havendo vocação, mas uma precoce vontade de vencer, os jovens, rapazes e raparigas, encontrem um meio escolar onde essa vontade e determinação possam ser desenvolvidas e devidamente encorajadas.

Em todos os países desenvolvidos do mundo existem escolas de elite e isso não é considerado uma despesa, mas antes um investimento. A clareza dos espíritos faz com que essa opção seja tomada como uma medida de progresso que irá dar a cada país as elites e líderes de que todos necessitam para se afirmarem no concerto das nações e poderem proporcionar aos seus povos melhores condições de vida. Não é com uma população mediana ou sem ambição que se promove o bem-estar dos povos. Também em muitos países, tanto europeus como no continente americano existem escolas militares, que aliam o ensino normal às actividades militares, não só como viveiros de vocações para a área da defesa nacional, como também pela importância que a disciplina de natureza militar, tem para a formação de lideres, ou mesmo, não o sendo, para a compreensão e importância de liderar e ser liderado. São componentes da educação e da formação, que em Portugal raramente são tidos em linha de conta, na idade escolar, mas que acrescentam enormes potencialidades ao futuro desempenho profissional.

Não se compreende, portanto, a sanha demolidora que por vezes assoma às cabeças pensantes dos nossos governos, que numa enganadora missão equalitária pretendem reduzir as excepções com valor e nivelá-las pelo menor divisor comum da excelência. Nenhuma sociedade é completamente equalitária e todas elas têm as suas elites e os instrumentos para ajudar a que elas surjam e sejam úteis aos povos donde emanam. Por isso é com preocupação, mas também com espírito de resistência que assistimos, aqui e ali, ontem, hoje ou quiçá, mesmo amanhã, a certos rasgos decisórios que ameaçam os Pupilos do Exército, o Colégio Militar ou o Instituto de Odivelas, todos eles tendo uma matriz comum de formar cidadãos úteis à Pátria. Na presente situação, parece ser o Instituto de Odivelas o maior visado, tendo-lhe já sido preconizado a sua extinção depois de mais de 100 anos de existência. As “manas de Odivelas”, como na gíria das três instituições, elas são conhecidas, não merecem isso. Nem as antigas, nem as actuais, nem as futuras e por isso se sugere e não é descabido, mesmo exigir, que haja bom senso nas hostes deste governo, para não somar a tanto mal feito ao País, mais esta maldade que pode provocar a morte de escolas centenárias que muito deram à Pátria.

Esforcem-se no melhoramento, na sustentabilidade, no aproveitamento de recursos comuns, na promoção de acções que possam contribuir para aumentar a oferta e facilitar a procura, mas nunca para extinguir o que tem valor. Não descaracterizem o Colégio Militar! Não cometam o crime de extinguir o Instituto de Odivelas! Deixem os Pupilos do Exército continuar a sua obra de formação de quadros técnicos tão essenciais ao desenvolvimento e à recuperação económica! Não matem, mais do que a esperança… o futuro!…

“Querer é poder” é o lema dos Pupilos do Exército, que os “Pilões” levam à letra!…

Por: Ernani Balsa
“escreve sem o acordo ortográfico”

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