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SE UNS APUPOS INCOMODAM MUITO O GOVERNO, UM BISPO DAS FORÇAS ARMADAS INCOMODA MUITO MAIS

Ernani Balsa

Ernani Balsa

Esta semana, no meio de toda a sensaboria de declarações de boas intenções do governo, que assim vai mantendo as pessoas naquele “banho-maria” de preocupações e incertezas quanto ao futuro, se é que ele vai mesmo chegar, caíram que nem água em azeite a ferver, as declarações de D. Januário Torgal Ferreira, emérito Bispo das Forças Armadas e sobejamente conhecido por não mandar dizer por ninguém aquilo que pensa da vida que a todos diz respeito, sobre os mandos e desmandos de quem nos governa e seus satélites.

O que D. Januário terá declarado frente às câmaras da TVI, entre outras coisas, foi que “há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção, este Governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir”. Ora, dito assim, e para ouvidos que estejam ligados a um mínimo de má consciência, poderá parecer simplesmente que o Bispo das Forças Armadas disse textualmente que o Governo era corrupto. Falta portanto manter os ouvidos bem abertos, mas pôr de sobreaviso a consciência, mas a boa consciência e perceber que essa corrupção tem a ver com as “atitudes a que estamos a assistir” e que se prendem com “jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção”, Não é preciso ser-se licenciado para se compreender o alcance da acusação. Não engloba todo o Governo, nem todas as suas actividades e desempenho.

O Governo e os partidos que o suportam, aqui d’el rei, que o Bispo desbocado tinha que apresentar provas… Aliás, na nossa ordem jurídica, a apresentação de provas e sua validação é uma coisa que dá muito jeito, principalmente num país onde as leis são produzidas a partir de escritórios de advogados, sob encomenda dos governos, e que depois disponibilizam os seus causídicos para defender mesmo os que são acusados com prova feita. O Bispo, portanto, tinha era de ficar caladinho e escolher entre ser Bispo das Forças Armadas ou comentador político, assim como que com uma velada ameaça de senão levas uma porrada, como soe dizer-se na tropa. Esqueceu-se o senhor Ministro da Defesa Nacional que o Bispo das Forças Armadas, embora honorificamente seja graduado no posto de Major-General, não está na dependência hierárquica nem dele, nem do Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas. Como Bispo que é, responde à hierarquia eclesiástica, que vai até ao Papa e em última instância a Deus.

Na perspectiva de quem com isto ficou incomodado, o respeitinho é muito bonito e as pessoas não se devem exceder nos protestos e nas acusações, e bem assim, no levantar do véu quando o “rei vai nu”, porque o Estado e o Governo são pessoas de bem e não podem estar sujeitos a apupos demasiado sonoros e incómodos. Era bom que essa designação de pessoa de bem assentasse como uma luva a quem nos tem governado e governa actualmente, mas acontece que assim não é, e as luvas, se é que existem, são outras. Costuma-se dizer que para nos darmos ao respeito convém que comecemos por respeitar os outros, mas disso o Governo faz orelhas moucas. Os ministros e seus satélites podem dizer toda a espécie de asneiras, muito polidas e palavrosas, claro, prometer e não cumprir, mentir até, e o povo tem que os ouvir e calar. Temos que aturar verdadeiros tratados de demagogia e até de incongruências, para além daquilo que já vamos sofrendo na pele, com especial relevo para os mais desfavorecidos, mas quando um cidadão, que por sinal até é Bispo e tem portanto o dever de verbalizar aquilo que é a palavra de Deus, que na melhor perspectiva é a palavra do bem sobre o mal, da justiça entre os homens e do sentido da verdade, fia mais fino, porque não se pode dizer que o rei vai nú e que se a corrupção pagasse juros, nem as agências de “rating” conseguiriam calculá-los. Alguém neste país duvida que existe corrupção e que ela é transversal a toda a sociedade e nomeadamente àqueles que ostentam e usam o poder, incluindo por isso o Estado e a área política, mesmo aquela que pulula à volta do poder? Então, cada vez que abríssemos a boca para denunciar aquilo que só não é mais evidente porque já quase caiu na rotina, tínhamos de nos munir de provas e mais provas, só para não ferir a susceptibilidade aguda e a má consciência de quem sabe tão bem como nós que as coisas são assim e nada fazem, porque se agitarem muito as águas, ainda apanham salpicos… quiçá mesmo um “tsunami” de efeitos colaterais da corrupção que connosco coabita…

D. Januário Torgal Ferreira, por agora, só os salpicou ainda…

Por: Ernani Balsa
“escreve sem acordo ortográfico”

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