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Sementeira artística de raiz cigana nos bairros do Porto

Sementeira artística de raiz cigana nos bairros do Porto

ZHA! é o nome do projeto que trabalha para derrubar estereótipos sociais e ultrapassar fronteiras culturais na “Invicta”. Primeiros frutos do trabalho do coletivo Visões Úteis, um álbum com oito temas musicais originais, e ainda três videoclipes, são apresentados sob a forma de Listening Party, no Batalha Centro de Cinema, no Dia Internacional da Pessoa Cigana (8 de abril)

Semear agora para colher depois. Há no Porto um projeto artístico multidisciplinar participativo – e de base comunitária – que está a estimular em vários bairros sociais da cidade a criação e a comunicação de produtos culturais que espelham a cultura cigana. Para promover as tradições vivas das comunidades, mas também para derrubar o muro dos estereótipos sociais e ultrapassar fronteiras culturais.

ZHA! significa “vamos” em romani, mas também pode funcionar como convite à população, para conhecer já no Dia Internacional da Pessoa Cigana (8 de abril), no Batalha Centro de Cinema, às 21h15, a primeira “folhagem” da iniciativa, sob a forma de Listening Party.

Depois de meses de trabalho de campo com jovens e adultos ciganos – grande parte deles artistas autodidatas – dos bairros de Contumil, Lagarteiro e Cerco, eis que o projeto germina agora em oito temas musicais originais. E além do CD serão dados a conhecer três videoclipes, que revelam as histórias dos encontros e evidenciam a escolha do título do álbum: “ZHA! É a nossa vez!”. O culminar de inúmeras dinâmicas em contexto de oficina (sensibilização, histórias, dança, voz e instrumento, interpretação, styling, som e imagem, comunicação, edição e criação).

Nas palavras de Carlos Costa, diretor artístico do coletivo Visões Úteis, o parceiro artístico e promotor, ZHA! é “mais do que uma abordagem de intervenção consciencializadora, de empoderamento e capacitação” do legado cultural e patrimonial cigano, que é “tendencialmente invisível fora do seu território e comunidade”. Isto porque, sendo a meta do projeto as pessoas, ele “acaba por ganhar múltiplas e variadas significações para cada uma delas”. Com impacto transformador. Para dentro e, acima de tudo, para “fora”.

Houve, por isso mesmo, uma preocupação em capacitar os participantes com as ferramentas adequadas para a melhor comunicação e promoção do projeto artístico, através de uma oficina de comunicação orientada pela jornalista, documentarista, escritora e professora universitária Vanessa Ribeiro Rodrigues, que utilizou metodologias ativas e participativas.

Este primeiro output do projeto antecede um espetáculo ao vivo, um encontro final, um website para divulgação da iniciativa, um documentário (da autoria de Vasco Mendes, com trabalho assinalável na área musical nacional) e um ensaio sobre este caso de estudo, a acontecerem nos próximos meses.

Quanto ao álbum musical, a ser apresentado daqui a alguns dias, reflete a “vontade de reclamar o tempo e o espaço a par com a dignidade artística e igualdade de oportunidades para a comunidade cigana, e quer fazer soar mais alto a sua voz”, sublinha o Visões Úteis.

De resto, todo o projeto visa a “desmistificação de crenças e preconceitos” relacionados com esta minoria étnica, e pretende potenciar a integração das pessoas em “percursos de vida mais justos, inclusivos e participativos”, dando visibilidade às respetivas práticas de criação artística, como explica Carlos Costa.

Mas o coletivo Visões Úteis é “apenas” um dos dínamos no terreno face ao alcance do ZHA!. Trata-se de um projeto PARTIS & Art for Change, financiado pelas fundações Calouste Gulbenkian e “la Caixa”. E tem como parceiros várias entidades: Ágora, Agrupamentos de Escolas do Cerco do Porto e António Nobre, Alto Comissariado para as Migrações, ARDA Recorders, Equipa de Rua Oriental da Norte Vida, Fios e Desafios, União Romani Portuguesa, Fundação Salesianos, Junta de Freguesia de Campanhã, REDES CLDS4G, APPC e Sinergi@s-E9G/ARRIMO.

Sobre o Visões Úteis:

O Visões Úteis é um projeto artístico sediado no Porto, onde foi fundado em 1994. O teatro foi a raiz de uma atividade constante e intensa que rapidamente se alargou a outras áreas das artes performativas. E em reconhecimento da sua ação artística junto de públicos diversificados, o coletivo recebeu em 2001 a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Cidade do Porto. O raio de ação do grupo estende-se a uma panóplia de projetos, paralelos à criação e itinerância de espetáculos, que desde sempre traduziram o desejo de confronto com outras áreas e com públicos distantes da produção artística. O Visões Úteis é membro da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, do IETM – International Network for Contemporary Performing Arts, da APCEN – Associação Portuguesa de Cenografia e da Fundação Anna Lindh.

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