A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) reforça nesta quadra natalícia, o apelo para a ajuda e participação no CROWDFUNDING que está a decorrer, no âmbito do projeto “Life Fura-bardos”.
A iniciativa destina-se a assegurar a monitorização dos “Fura-bardos” e dos seus ninhos, a conservação do seu habitat na floresta Laurissilva na ilha da Madeira e a realização de ações de educação ambiental, que estão em causa pela falta de verbas.
O projeto “Life Fura-bardos” permitiu, em três anos, o controle de espécies invasoras em 64 hectares de floresta e a limpeza de 36 hectares de floresta ardida, posteriormente reflorestada, o que permitiu a produção de 350kg de sementes que originaram cerca de 60.000 plantas nativas.
A reflorestação da floresta Laurissilva da Madeira é importante para assegurar a conservação do fura-bardos, uma ave enigmática daquela floresta, onde a espécie encontra abundância de alimento e, consequentemente, constrói os seus ninhos.
“Faltam ser produzidas cerca de 10.000 plantas nativas para colmatar falhas na próxima época, em zonas vulneráveis onde é extremamente crucial intervir”, refere Marta Nunes, uma das técnicas da SPEA Madeira.
Durante a época de reprodução deste ano do fura-bardos, do total de quase uma centena de ninhos, foram descobertos e monitorizados 25 novos ninhos, dos quais 17 ativos. Cerca de 60 técnicos e 20 voluntários e estagiários têm vindo a monitorizar a espécie, o que permitiu recolher cerca de 200 amostras de presas do fura-bardos durante este ano, do total de 600 recolhas desde o início do projeto.
A monitorização da espécie e a recolha de amostras nas áreas de nidificação tem permitido o estudo de uma ave que, até o início deste projeto, era desconhecida. O avanço científico tem vindo a se verificar, culminado este ano na III Reunião da Comissão Científica do Life Fura-bardos, seguido do Workshop para Revisão do Plano de Ação do Fura-bardos, que permitiram a elaboração de um plano para manter um estatuto de conservação favorável à espécie no futuro.
Contudo, a monitorização da espécie na próxima época reprodutora estará em causa se a campanha de angariação de fundos que está a decorrer, não atingir a meta dos 55 mil euros.
Cátia Gouveia, coordenadora do projeto, destaca a importância da participação neste crowdfunding: “Parte destes 55 mil euros irão permitir a monitorização das áreas de nidificação da espécie durante a sua época reprodutora”. “Para que o plano de conservação do fura-bardos seja mais eficaz e pormenorizado, é necessário um estudo no terreno sobre a ecologia da espécie e as ameaças à sua conservação”, salienta.
A par dos trabalhos de estudo e conservação, a sensibilização ambiental já chegou a quase 10 mil pessoas durante três anos. Durante as ações de 2016, a educação ambiental chegou a 2000 alunos através de exposições, palestras, ateliers e atividades de plantação de árvores da Laurissilva. É também necessário finalizar os trabalhos de sensibilização com os agricultores, para a compatibilização das atividades agrícolas com a sobrevivência do fura-bardos.
Dar continuidade a estes trabalhos de estudo, conservação e sensibilização do fura-bardos e Laurissilva, permitem não só a conservação desta ave de rapina mas também de um ecossistema sensível a incêndios, desflorestação e pressão humana. Uma floresta natural em bom estado de conservação beneficia também e muito as pessoas. A floresta laurissíva da Madeira retém a água das chuvas, reduzindo o risco de enxurradas no inverno e o risco de incêndios no verão. É ainda uma fonte de recarga das reservas de água subterrâneas que actua durante todo o ano. Ou seja, a conservação da floresta Laurissilva da Madeira, é vital para o fura-bardos e essencial para o bem-estar das pessoas.