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TODOS TEMOS ÍDOLOS. EU PERDI UM.

P.Guedes de Carvalho

Estou a escrever este texto debaixo de uma tristeza profunda. Todos sabíamos que estava perdido mas o nosso egoísmo tudo fazia para o manter vivo entre nós; fazia-nos sentir mais humanos, acho. Parece incrível mas é mesmo como eu sinto a coisa: ter a felicidade de ser contemporâneo com gente muito grande, neste caso, gente enorme. Julgo não dizer nenhuma anormalidade se o comparar a um ser humano concreto que teve atitudes que nos dizem Jesus Cristo terá tido. Não me recordo de mais nenhum na minha geração. Homens bons houve mais alguns com certeza mas com esta grandiosidade? Duvido.

Estava eu nos EUA na altura quando um colega sul-africano, investigador nas áreas da agricultura me ofertou um dos livros da minha vida: a história de Mandela, Madiba.

Em versão inglesa, recordo-me de ter devorado o livro em algumas noites, intercalando-o com textos de literatura científica que estava incumbido de estudar. Mas não me continha a ler aquelas páginas seguidas de histórias de humanidade inacreditáveis. Como é possível viver tantos anos numa prisão e cela de cerca de 9m2, sujeito a maus tratos permanentes e à privação da sua numerosa família? Mais ainda, como é possível sair em liberdade e nunca esboçar um mínimo gesto ou atitude de revanche para com os ” brancos” que o mal trataram? Quantos de nós perdoamos coisas muito mais insignificantes? Quantos de nós não rejeitamos pessoas por terem um dia tido uma atitude menos correcta para connosco ou para com um dos nossos?

Não é nada comum esta atitude de Madiba e só pode entender-se devido a uma profunda maturidade vinda de uma experiência de enorme maturação de conhecimento do ser humano. Ele percebeu que, tantas pessoas estavam apenas influenciadas pelos piores conceitos e preconceitos culturais de uma época e de um país concreto, encravadas e de racismo exacerbado. E acreditou que, pelo exemplo, conseguiria mostrar aos seus, os da sua cor e raça, que era possível viver em comunidade com outros humanos cuja principal diferença era tão só e apenas a cor de pele.

O filme que depois produziram sobre Mandela estava indissociavelmente relacionado com os desportos e a liderança; com efeito, o fenómeno muito presente nos nossos dias de hoje, o desporto é um fenômeno que, goste-se ou não, dá exemplos diários do que é excelente e do que é maléfico no ser humano. O célebre discurso da besta ao bestial.

Para mim serão sempre bestiais as pessoas que, em alguma ocasião, tiveram o discernimento para ver mais longe, para além dos detalhes comezinhos da vida diária e conseguem tratar os seus semelhantes como humanos capazes de errar como todos os outros. Mas sinceramente que acredito que esta capacidade está mesmo apenas ao alcance de uma minoria de entre os seres humanos.
Fomos educados a defender-nos a nós próprios e a culpabilizar o outro, a reprovar mais que elogiar, a criticar mais que construir, a desfazer mais que a propor. Não temos a cultura do mérito, do elogio e reconhecimento.

Madiba esteve ao nível do sobre-humano. Para mim, depois de Martin Luther KING, foi o exemplo mais fantástico de ídolo que tive na minha vida como gestor de assuntos públicos. Não encontrei paralelo. Continua a querer melhorar porque me comparo sempre com os melhores.
Obrigado Madiba. Obrigado Mandela.

Por: Pedro Guedes de Carvalho

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