O que é a vida? De que serve a vida? Será que existe algum significado na vida quando somos encostados à morte? Quando os anos que ainda nos sobram se podem equacionar pela fórmula morte menos um, morte menos cinco, morte menos dez e por aí fora?… É esta a questão que muitos reformados põem hoje em dia, mas a angústia maior é com uma dúvida que há-de morrer com eles, sem resposta nem discussão, será que vai servir para alguma coisa o sacrifício a que nos obrigam e esta constante pressão até à morte, mais cedo do que tarde?…
Parece haver quem defenda a teoria de que os idosos deveriam mesmo ter prazo de validade e quem o ultrapassasse, deveria ser identificado por uma qualquer ASAE da Segurança Social e ser condenado a pagar a coima respectiva, por insaninade social. Uma coisa que faria o idoso sentir-se culpado até à morte, por estar a roubar recursos aos vivos da costa, aqueles que ainda mostram capacidade de desenvolver trabalho e contribuir para a nova indústria nacional, que é produzir ricos.
Este sector da indústria nacional parece não estar a correr nada mal, pois segundo notícias vindas a lume recentemente, Portugal viu o seu número de milionários crescer nos últimos tempos. Não que isto tenha alguma influência positiva no deficit ou na dívida externa e muito menos na carga fiscal sobre aquela parcela de portugueses que só servem para pagar impostos. E quantos pobres são precisos para produzir um rico? E um milionário? E quantos idosos mortos são precisos para pôr em ordem as contas da Segurança Social?… Ou ainda, será que a Constituição tem servido alguma coisa para evitar a morte inapelável de todos os idosos, mais tarde ou mais cedo?… Se nada, então porque não morrem logo, rápida e silenciosamente?…
Tudo isto me faz meditar sobre o significado da vida, que não seja para produzir milionários e atafulhá-los de dinheiro, que distribuído por todos os que dele precisam, não dá em nada, porque cada um ficaria penas com uma ínfima parte do preço da felicidade, segundo os catálogos dos mercados, enviados apenas aos ricos.
Nada tenho contra os ricos, desde que eles se comportem socialmente como os pobres, ou seja, não custem caro ao Estado e nada tenho também contra o facto de os ricos poderem viver, mesmo até à eternidade, se ela vier a existir um dia, desde que deixem o resto dos idosos usufruir também dessa quimera. O tão atacado estado social é afinal uma coisa de pobres, uma vez que os ricos se regem antes pelo social estado das suas empresas, companhias, acções ou conselhos de administração. Estas estruturas não custam nada ao Estado porque este finge que a separação entre Estado e Privado é tão estanque como a estação do metro do Terreiro do Paço, que desde que começou a meter água e mesmo depois de anos e milhões de euros de obras, ainda continua a deixar escorrer pelas paredes dos túneis. Tudo uma questão de engenharia, sim porque desde há uns tempos a esta parte, foi inventada a engenharia financeira que é um dos ramos aristocráticos da vulgar corrupção.
A ironia é o meu RSI contra a raiva que sinto pela governação de que estamos a ser alvo, mas a realidade é bem mais grave do que qualquer ironia, porque o sofrimento das pessoas é real. Trata-se de vida e morte. Não só da morte dos sonhos e projectos, do futuro de um país com todo o seu tecido humano, mas a morte pura e dura, para a qual estão a ser atirados os idosos e reformados deste país. E tudo sob a batuta cruel deste governo que incorporou um modelo draconiano e doloroso, absolutamente insensível à condição humana dos portugueses, só para levar a bom termo as crenças e dogmas dum poder financeiro a quem presta uma cega vassalagem e obediência. Mas pior ainda, é o facto de não ter o mínimo discernimento na ineficácia de tal modelo. É política e socialmente criminoso não admitir que nenhuma das suas metas foi alcançada e, para além do resgate já pré anunciado, falam já num período de mais dez anos para se conseguir uma almejada estabilidade, na qual já ninguém acredita. No entanto, não são só os reformados e idosos as vítimas deste encapotado holocausto, mas também os jovens que não se realizam e são obrigados a abandonar o país e toda uma classe média que deveria ser a coluna vertebral duma sociedade sustentada e minimamente justa.
Quando me refiro aos ricos, aos milionários, não lhes atribuo a culpa em especial, porque não quero ser injusto e nivelá-los todos pela mesma bitola. Culpado é o governo por não lhes exigir uma quota-parte do esforço, proporcional à sua riqueza e aos seus lucros. É absolutamente inexplicável que na situação de recessão que se vive, o número de milionários esteja a aumentar. Alguma coisa está mal, quando os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. E quando a classe média se aproxima cada vez mais dum estado envergonhado de pobreza, esvaziando a economia do quotidiano e levando as pequenas e médias empresas a um estado de fraqueza de tal ordem, que apenas encontram solução nas falências e no aumento do desemprego. Não é preciso ser-se economista para chegar a tal conclusão! Basta ser-se sério, minimamente inteligente e intelectualmente honesto, coisa que este governo, de todo, não é. Trata-se de um conjunto de políticos de pacotilha, visceralmente mentirosos e perigosamente manipuladores, que se escudam em resultados eleitorais que já atingiram níveis de ilegitimidade intoleráveis. A legitimidade democrática não é um absoluto, mas sim um reflexo constante das práticas do exercício do poder e da governação.
Pior do que isto, é praticamente impossível acontecer, pelo que não há que ter medo de exigir eleições antecipadas em nome da sanidade democrática de Portugal. A gravidade da situação exige coragem e esperança, determinação e riscos, abertura para novas e ousadas soluções governativas e de prática verdadeiramente democrática ao serviço do país e não de subserviências humilhantes perante quem quer que seja.
Banalizar a condição de protectorado, que hoje em dia se considera já uma coisa normal, é um absoluto acto de traição à Pátria!…
Por: Ernani Balsa
“escreve sem o acordo ortográfico”