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TRÊS APONTAMENTOS DE FIM DE VERÃO…

1 – Mais uma guerra anunciada

Ernani Balsa

Ernani Balsa

Confesso que não sou, de modo nenhum, um especialista de política internacional, mas tão só um observador atento e um cidadão preocupado com tudo o que se passa à nossa volta e que, de uma ou outra maneira, interfere nas condições de vida das pessoas, em geral. Um cidadão sensível à cada vez mais ameaçada paz mundial e às injustiças que se vão instituindo em padrões de vida, no meio de todos os jogos de interesses, financeiros, políticos ou económicos, suportados pelas grandes potências que impunemente se arvoram em polícias a nível global e com total ausência de isenção.

O que se vem passando na Síria, como já se passou em outros países, quase todos eles na orla do médio oriente e península arábica, zona de grandes interesses estratégicos principalmente ditados pelo controlo das fontes petrolíferas aí existentes e na vizinhança inevitável de Israel, é um fenómeno de desestabilização regional, de obscuros contornos políticos e militares, que tem, no entanto, impacto e influência a nível mundial. Não se percebe bem se é o Governo de Bashar Al Asad que combate os rebeldes, se são estes que provocam o poder instituído, mesmo que este também não possa ser considerado nenhum modelo de democracia. A versão, politicamente correcta, desde sempre apoiada e posta a circular pelo chamado mundo ocidental, sob a batuta sempre astuta dos EUA, proclama que na dicotomia de maus e bons, os primeiros são o governo Sírio e seus apoiantes e os segundos, os rebeldes, que ninguém sabe bem quem são, de onde vêem e o que realmente defendem.

No meio da intensa campanha de (des)informação dos media, a nível global, os rebeldes são sempre conotados com um legítimo direito à insurreição, não se sabendo, no entanto, de onde provem o armamento e equipamento militar com que lutam, nem se tem uma clara noção dos seus intentos, nem militares nem políticos. O governo Sírio, por outro lado, é considerado democraticamente deficiente e acusado de agredir o seu próprio povo, lutando desesperadamente pela manutenção de um regime autocrático e de desprezo pelas reivindicações populares. A pressão da administração americana, partilhada pelos seus mais poderosos aliados europeus e pelos insondáveis interesses israelitas, tem vindo a criar um cenário de constantes ameaças, mascaradas de preocupação humanitária, com vista a preparar um desfecho, o mais rápido possível, de queda do actual governo e instauração de uma outra ordem de política interna no país, receita já por diversas vezes adoptada noutros territórios, com o resultado que todos conhecem, como no Iraque e Afeganistão.

O mais recente episódio do ataque com armas químicas, perpetrado pelo próprio governo Sírio contra os seus cidadãos, segundo a versão que insistentemente corre nos corredores da santa aliança ocidental e nos media que, inocente ou intencionalmente, apoiam tal acusação, parece ser o corolário ideal para justificar um já anunciado ataque a território Sírio, como retaliação e aviso de que o ocidente não tolerará tais abusos contra a humanidade, por parte do governo. Não obstante, esta parece ser uma versão abusiva e mesmo orquestrada da realidade, que ninguém ainda conseguiu descortinar em absoluto. Relatos de diversas pessoas envolvidas no processo pôem em causa esta certeza e colocam a séria possibilidade de o referido ataque com armas químicas ter tido a autoria dos rebeldes, numa altura em que, singularmente tinham acabado de chegar observadores da ONU, o que se poderá crer possa ser uma manobra sadicamente montada para atirar as culpas para cima de Bashar Al Asad e assim criar as condições mínimas e indispensáveis para justificar um ataque cirúrgico e punitivo, de modo a enfraquecer o poder bélico do próprio governo Sírio, criando assim condições únicas a uma recuperação de posições rebeldes, que teriam sido rechaçadas nas últimas semanas. Em última instância, a providencial queda do governo, abriria assim caminho para a instauração de um novo regime, apoiado pelos rebeldes, com inevitáveis contrapartidas para os americanos, israelitas e principais potências europeias. Claro que, daqui a uns tempos, descobriremos que, mais uma vez, a administração americana foi aliada de mais uns potenciais terroristas, que são bons para umas coisas e maus para outras… O “remake” de um filme já diversas vezes visto noutros territórios adjacentes e onde, como todos sabem, a democracia floresce como viçosa relva no deserto… Uma guerra anunciada que já estava a fazer falta, até porque para além dos negócios petrolíferos e seu controlo, as armas também têm que se vender, porque são um negócio tão rentável, que é um “crime” não ser devidamente explorado…

À hora de fecho deste texto, parece que a operação já preparada pela administração Obama, com o conluio dos seus habituais parceiros, terá sido suspensa, por não ter havido luz verde por parte do Conselho de Segurança da ONU. No entanto, como sabemos, este não anuimento pela ONU não significa que em qualquer outra altura o plano não venha a ser posto em prática, como já aconteceu anteriormente. Todos os pressupostos estão de pé e é só aguardar pela altura certa… Estejamos pois atentos!…

2 – A morte, a ninguém desresponsabiliza

Quando se tem de falar da morte, surge sempre o espectro da crueldade, mas a morte não tem salvação e portanto é escusado falar-se em crueldade. A vida sim, pode ser cruel, porque na vida há sempre a possibilidade da salvação e só é cruel, quando não há empenho suficiente em melhorá-la, em torná-la viva em vez de permitir que ela morra lentamente,

Vem isto a propósito da recente morte de António Borges, o polémico economista que ficou marcado por declarações e atitudes chocantes, relacionadas com a crise que nos vem tolhendo o direito ao futuro. É evidente que qualquer morte merece o nosso respeito e longe de mim ter aqui o mínimo gesto de regozijo pelo seu passamento, mas a vida de cada um é o testemunho deixado enquanto cidadão e esse percurso, a sua consciente opção em colaborar numa estratégia social, económica e política que tem vindo a empobrecer os portugueses, incentivando até à tomada de medidas mais castigadoras para a população, essa sua atitude, proclamada do alto da sua pretensa superioridade, choca muitos de nós pela insensibilidade social que demonstra e pela altivez das suas receitas.

Quem se sentiu ofendido pelas suas opções sobre a vida dos mais desprotegidos, que não sobre ele próprio, que sempre se considerou noutro plano inatingível pelos escombros do dia-a-dia daqueles que sempre sofrem, não faz distinção entre vida e morte, a miséria que lhes foi receitada perdurará sempre nas suas memórias, independentemente de ele nessa altura estar vivo e agora morto. O mal que alguém proclama para os outros, perdura mesmo para além da morte.

Não há portanto lugar a elegias ou branqueamentos de carácter. António Borges optou em vida por medidas polémicas e mesmo ofensivas para concidadãos seus, que ele conscientemente sabia estarem já em situações muito difíceis, e fê-lo com alguma sobranceria e mesmo desdém, o que chocou muitos portugueses e essa sua atitude faz parte do seu legado. Representa a herança que nos deixou, enquanto interventor político e disso será sempre responsável. Vivo ou morto!

3 – Fogos assassinos

À data a que escrevo estas palavras, já são cinco os bombeiros mortos no cumprimento do seu dever. É assim que nos costumamos referir a estas situações, no entanto é bom que tenhamos atenção ao que dizemos. Ninguém tem o dever de morrer para cumprir o seu dever. Tem sim de se disponibilizar a ficar exposto a esse extremo sacrifício.

Todos sabemos que o fogo é algo que o homem é incapaz de controlar totalmente, duma forma absoluta. Pode sim usar de técnicas que o evite ou que reduza a sua progressão. Quando um bombeiro morre há sempre erro humano, seja dele próprio, seja de outros agentes, mesmo que exteriores ao teatro de operações. É sabido que homens e mulheres que lutam desesperadamente contra labaredas que não hesitam em avançar, extenuados e raivosos por se sentirem, muitas vezes, impotentes, podem incorrer em actos irreflectidos, correntemente confundidos com bravura, mas nem isso, são reações instintivas de fúria e desespero e também muita coragem.

Mas quando já cinco bombeiros, em duas semanas, tombaram à mercê dos fogos que duram noites e dias, talvez alguma coisa vá mal. Talvez fosse bom reflectir sobre a realidade e não apenas lamentar e chorar os mortos…

Os que, abnegadamente disponibilizam as suas vidas e muitas vezes a sua juventude e durante dias e noites esquecem os seus sonhos para defenderem as vidas e os sonhos dos outros, bem merecem essa atitude por parte de todos nós, com relevância para os responsáveis nesta área…

Por: Ernani Balsa
“escreve sem o acordo ortográfico”

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