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Tribo Aché processa o governo do Paraguai, por genocídio!

1972 - Índios Aché (Paraguai) capturados e presos numa "reserva improvisada" durante a perseguição à Tribo | img: mundoaché

Os sobreviventes dos “Achés”, uma tribo sul americana que habitava a floresta do Paraguai e que foi quase dizimada na última metade do século passado, vão levar o Governo do Paraguai a Tribunal por genocídio, exigindo a reparação dos crimes praticados.

Os Achés que foram brutal e violentamente expulsos do seu território, após um processo de perseguições, deportações, assassínios e venda como escravos, por elementos pertencentes ou relacionados com o governo paraguaio à época, situação largamente denunciada por antropologos, juristas e organizações dos direitos humanos, mas que não teriam nenhuma consequência, devido aos apoios dados ao governo paraguaio, por parte de governos ocidentais, nomeadamente dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, que negavam sistemáticamente a prática das atrocidades denunciadas.

O drama da tribo “Aché” começou com a acelerada expansão agrícola que se verificou no leste do Paraguai, nos anos cinquenta, época em que a tribo se viu obrigada a defender-se dos colonos que invadiam os seus territórios, com o patrocínio do governo, o que deu origem a que esses mesmos colonos se organizassem em grupos dispostos a caçar e assassinar os homens “Achés”, capturando as mulheres e as crianças, para serem vendidas como escravos, ou confinados a uma reserva, de onde não podiam saír e eram vítimas das maiores atrocidades.

A situação vivida pelos “Aché” deu origem a inúmeras denúncias e movimentos sem resultado, até que em 1973 foi publicado pela organização dinamarquesa IWGIA, o relatório “Genocídio no Paraguai”, documento que reunia a natureza dos crimes cometidos por colonos e funcionários do governo, contra os “Achés”.

Inúmeras organizações internacionais, personalidades da sociedade e ativistas, insistiram na denúncia do extermínio dos “Achés”, divulgando a crueldade das práticas em vigor e exigindo que o Governo prestasse contas, ações que na altura atenuaram alguns dos excessos, mas que não travaram completamente a agressão ao povo “Aché”, num Paraguai que era então presidido pelo general Alfredo Stroessner, personagem considerada, um importante aliado dos governos ocidentais, na região.

Mas com o tempo e o crescendo da ações dos ativistas, os ataques ao povo “Aché”, conheceram finalmente um fim. Os representantes associativos dos “Achés” na atualidade, “calculam que 60% da sua população tenha sido exterminada”.

Atualmente a população “Aché” recupera, está a aumentar, mas as marcas e os traumas provocados pelos crimes praticados, continuam bem patentes nas memórias dos mais velhos, o que influencia as novas gerações, que sentem o ocorrido, como se tivessem vivido, os crimes praticados contra os seus antepassados.

A Federação Nacional Aché, apoiada na “jurisdição universal”, que defende o julgamento de crimes de genocídio ou contra a humanidade, num outro país, que não o das vítimas, deu início na justiça Argentina, a um processo contra o governo do Paraguai, apoiados por Baltasar Garzón, jurista e especialista em assuntos de direitos humanos.

Segundo o jornal Pravda, num artigo do jornalista Timothy Bancroft-Hinchey, é anunciada para esta sexta-feira, 04 de julho, a realização de um ato em Madrid, onde são mais uma vez,  denunciadas as violações sistemáticas dos direitos humanos, cometidas pelo governo paraguaio contra os “Achés”. Neste evento organizado pela associação “Paraguai Resiste em Madrid” vão estar presentes ativistas, personalidades, testemunhas e vítimas do genocídio.

Carlos Santomor

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