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DE BRUXELAS INTERROGAM O MINISTRO AGUIAR BRANCO

Continua a pairar uma nuvem negra sobre a continuidade do Instituto de Odivelas (IO), um dos três Estabelecimentos Militares de Ensino (EME), tal como existe há mais de 100 anos, com sede no Convento de São Dinis, em Odivelas e a funcionar em regime de internato e externato feminino.

Depois do Despacho do Ministro da Defesa Nacional que extingue o IO, na sua actual identidade e o pretende fundir com o Colégio Militar (CM), inúmeras vozes se levantaram contra esta decisão contra natura, que põe em causa um dos poucos colégios com ensino por género, instituição de excelência a nível nacional, que muitas mulheres de valor tem dado ao país. Entre estas vozes salientam-se as das suas Antigas Alunas, e por inequívoca solidariedade, as dos Antigos Alunos do CM e Antigos Alunos e Alunas do Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE).

Assim, e dentro deste espírito de ajuda, solidariedade e revolta por esta decisão menos cuidada que ameaça o futuro duma instituição de referência no ensino nacional, foi enviada uma carta ao Ministro da Defesa Nacional, que a seguir se transcreve, assinada pelas Antigas Alunas do Instituto de Odivelas em serviço nas diversas instituições europeias em Bruxelas, que não quiseram deixar de se associar a esta corrente solidária, expressando a sua justificada apreensão pelo futuro do IO, contando também com a solidariedade activa dos Antigos Alunos do CM e do IMPE, também em serviço naquela capital europeia:

Exmo. Senhor Ministro da Defesa Nacional

Somos, em Bruxelas, um grupo de antigas alunas do Instituto de Odivelas, na maioria funcionárias das diferentes instituições europeias e temos acompanhado com viva apreensão as notícias relativas ao futuro da nossa antiga escola. Os anos passados nesse estabelecimento de ensino e o primor da educação nela recebida deixaram traços duradouros em todas nós e criaram laços que transcendem gerações. Partilhamos valores humanos e um espírito de solidariedade que são comuns tanto às antigas como às actuais alunas.

O elevado nível da formação académica de que beneficiámos deu-nos as ferramentas para carreiras de sucesso em diversas áreas. A excelência do ensino prestado pelo Instituto de Odivelas continua a perdurar, sendo prova disso os excelentes resultados que as alunas do Instituto de Odivelas obtêm nos rankings nacionais.

É com extrema preocupação e estranheza que temos acompanhado o processo – confirmado por despacho – que visa ao encerramento do Instituto de Odivelas nas suas actuais instalações e à sua transferência para o Colégio Militar. O Instituto de Odivelas, enquanto escola exclusivamente feminina, é o único internato do país de ensino diferenciado e reclama essa característica, que estudos científicos têm indicado ser particularmente positiva para o desempenho académico das alunas. Essa foi, seguramente, a nossa própria experiência.

O Instituto de Odivelas tem tido também, ao longo dos anos, um número elevado de alunas dos países africanos de expressão portuguesa, que o procuram justamente pela excelência do ensino e pelo facto de ser um internato, solução muito prática quando as famílias vivem longe. Tais alunas adquirem ligações e amizades profundas no nosso país, contribuindo assim para uma melhor compreensão de Portugal e dos portugueses nos seus países de origem.
As reestruturações iniciadas há dois anos no Instituto de Odivelas fazem com que neste momento se esteja numa situação de custos já controlados e as novas candidaturas de alunas (suspensas devido ao despacho) permitem assegurar receita suficiente.

Por todos os motivos expostos, revemo-nos inteiramente nas questões que as associações de pais dos vários colégios militares e a Associação de Antigas Alunas do Instituto de Odivelas têm vindo a colocar, designadamente:

• Qual é o objectivo desta fusão?

• Por que motivo o Ministério da Defesa Nacional não aceita analisar a proposta de rentabilidade existente, evitando destruir dois colégios centenários?

• Qual é a base de suporte para a decisão do fecho do Instituto de Odivelas, com a sua transferência para o Colégio Militar, uma vez que o professor Marçal Grilo veio recentemente a público questionar se alguém teria lido a Nota Prévia do seu relatório, em que mencionava “juntar CM, IO e IMPE levantaria um conjunto de questões delicadas que entendo não deverem ser equacionadas por agora”?

• Quanto pensa o Ministério da Defesa Nacional poupar com esta fusão, atendendo a que, por um lado, o Mosteiro de Odivelas continuará a ter custos de manutenção e conservação, e por outro lado, no decorrer dos últimos anos foram feitas obras de beneficiação no Instituto, que agora não serão rentabilizadas?

• Quanto vão custar as obras de adaptação do Colégio Militar e a construção de novos edifícios para o internato feminino?

• O que vai acontecer ao Mosteiro de Odivelas depois da saída do Instituto?

Num momento de crise profunda como a que Portugal neste momento atravessa, estamos em crer que não é através da destruição de instituições com excelentes provas dadas que se fortalecerá o nosso país.

Deixamos aqui o nosso apelo, que conta com o apoio de ex-alunos do Colégio Militar e dos Pupilos do Exército residentes em Bruxelas, para que se suspenda o despacho cujas consequências seriam, a todos os níveis, injustas, destrutivas e perniciosas.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Vera Reis, Anabela Pereira, Teresa Henriques, Ana Maria Henriques, Isabel Maria Pratt, Maria Margarida Caixeiro, Teresa Mergulhão, Ana Teresa Caetano, Ana Cristina Esgalhado, Angela Athayde, Lucinda Afreixo, João Ramalho Ortigão Delgado, Pedro Chaves, José Manuel Sousa Uva, Rodrigo Ataíde Dias, Vítor Carneiro, João da Silva Santos, Rui de Sousa Carrusca, Carlos Elmano de Oliveira e Rocha, Pedro Duarte Quartilho Ataíde, Paulo Antunes e Adérito Pinto.

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