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Estudo sobre os incĂȘndios urbano-florestais
Investigadores Aldina Santiago e Helder Craveiro

Estudo sobre os incĂȘndios urbano-florestais

O estudo da Universidade de Coimbra, revela que Ă© urgente adotar novas soluçÔes construtivas para diminuir os impactos dos incĂȘndios na interface urbano-florestal.

É urgente alterar a forma de construção e reabilitação de edifĂ­cios e infraestruturas nas zonas crĂ­ticas de interface urbano-florestal (IUF), revelam os primeiros resultados de um estudo da Universidade de Coimbra (UC) focado na promoção de um ambiente construĂ­do sustentĂĄvel, resistente e resiliente para mitigar os impactos diretos e indiretos, a nĂ­vel econĂłmico, social e humano, dos incĂȘndios florestais.

Designado INTERFACESEGURA, o projeto tem um financiamento de 299 mil euros, atribuĂ­do pela Fundação para a CiĂȘncia e a Tecnologia (FCT), e adota uma abordagem holĂ­stica ao problema dos incĂȘndios na interface urbano-florestal, reunindo vĂĄrios grupos de investigação da UC (Engenharia, Geografia, Economia e Direito).

O grande objetivo Ă© «responder de forma direta aos graves problemas que surgiram nas Ășltimas dĂ©cadas por falta de planeamento e ordenamento do territĂłrio, com excessiva pressĂŁo urbana sobre zonas florestais, com perĂ­metros urbanos sobredimensionados destituĂ­dos de programação pĂșblica, o abandono dos espaços rurais e das atividades primĂĄrias que promoveram a continuidade do combustĂ­vel (ausĂȘncia de compartimentação) e o rĂĄpido agravamento das alteraçÔes climĂĄticas», afirma HĂ©lder Craveiro, coordenador do projeto e investigador no Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de CiĂȘncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Para tal, esta investigação possui uma componente experimental muito forte. TĂȘm sido realizados mĂșltiplos ensaios de campo de incĂȘndio real, em colaboração com a Escola Nacional de Bombeiros, beneficiando das prĂĄticas de treino de fogo controlado para instrumentar e monitorizar o comportamento do fogo e avaliar o seu impacto em edifĂ­cios.

Com base na informação recolhida nos ensaios de campo e em ferramentas computacionais de simulação para avaliar o comportamento do fogo na macroescala (ao nĂ­vel do concelho) e microescala (ao nĂ­vel do edifĂ­cio), jĂĄ foi possĂ­vel identificar, atravĂ©s de um caso de estudo, no concelho de Coimbra, «as zonas mais vulnerĂĄveis a incĂȘndios na interface urbano-florestal. Esta abordagem permite simular o desenvolvimento e propagação de incĂȘndios e avaliar com elevado nĂ­vel de detalhe o impacto de cenĂĄrios extremos, como os que estamos a viver, no ambiente construĂ­do, avaliando as vulnerabilidades de edifĂ­cios e infraestruturas», relata o investigador da FCTUC.

Os primeiros resultados do projeto revelam que a ocorrĂȘncia de incĂȘndios florestais junto de zonas urbanas «obriga ao desenvolvimento de novas soluçÔes construtivas resistentes ao fogo em zonas urbanas de risco de exposição agravado, com a implementação de normas de construção para a interface urbano-florestal recorrendo a anĂĄlises baseadas no desempenho, mitigando as vulnerabilidades dos edifĂ­cios a eventos extremos. AlĂ©m disso, Ă© fundamental caraterizar a envolvente dos perĂ­metros urbanos, identificando a sua suscetibilidade a incĂȘndios florestais, para implementação de medidas mitigadoras».

A equipa identificou tambĂ©m quais os materiais usados na construção mais vulnerĂĄveis ao fogo, que, de acordo com HĂ©lder Craveiro, «infelizmente, proliferam no nosso paĂ­s, por exemplo, materiais com um comportamento ao fogo desadequado Ă  sua utilização em zonas de interface com risco agravado (ex.: painel sandwich com nĂșcleo de poliuretano)».

Face Ă s alteraçÔes climĂĄticas, o coordenador do estudo frisa que a «frequĂȘncia e severidade dos incĂȘndios tenderĂĄ a aumentar, conduzindo Ă  extrema necessidade de implementação de medidas e reformas estruturais ao nĂ­vel do ambiente construĂ­do e da floresta nas zonas de interface urbano-florestal, mitigando impactos diretos e indiretos nas comunidades. Esta abordagem permite no curto/mĂ©dio prazo reduzir riscos para as comunidades e possibilita uma reforma florestal sĂłlida e eficaz (reformulação da paisagem, compartimentação e valorização florestal), que naturalmente levarĂĄ anos a ser concretizada».

O estudo evidencia tambĂ©m a necessidade do «uso mais efetivo e intensivo de fogo controlado para controlo da carga combustĂ­vel, bem como o desenvolvimento de metodologias para estimar impactos socioeconĂłmicos, a curto prazo, para um cenĂĄrio de redução de procura final, dirigida Ă  economia portuguesa. A indĂșstria da pasta de papel e derivados foi analisada, tendo os resultados demonstrado a relevĂąncia do eucalipto nesta indĂșstria, apesar da apreensĂŁo geral existente em torno da sua exploração intensiva em zonas suscetĂ­veis a incĂȘndios florestais», acrescenta HĂ©lder Craveiro.

ApĂłs a conclusĂŁo do projeto, prevista para o final deste ano, os investigadores envolvidos pretendem elaborar e enviar ao Governo e aos municĂ­pios um documento com recomendaçÔes para a implementação de polĂ­ticas, quer do ponto de vista do ambiente construĂ­do e gestĂŁo florestal nas imediaçÔes de zonas urbanas, quer ao nĂ­vel de resiliĂȘncia para as comunidades.

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