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InteligĂȘncia Artificial: Revolucionar a Medicina
Rosana Santos / Subdiretora ClĂ­nica Nacional Affidea Portugal

InteligĂȘncia Artificial: Revolucionar a Medicina

A InteligĂȘncia Artificial (IA) e a Medicina sĂŁo duas ĂĄreas com grande potencial de complementaridade, e desde as dĂ©cadas de 60 e 70, tĂȘm sido sucessivamente introduzidas novas soluçÔes de IA Ă  prĂĄtica da Medicina, desde os algoritmos de resolução de problemas mais rudimentares aos modelos mais recentes de deep-learning.

De todas as ĂĄreas da Medicina, a Radiologia distingue-se particularmente pela sua componente tecnolĂłgica e digital e por uma capacidade de evolução computacional rĂĄpida, caracterĂ­sticas que a tornam numa ĂĄrea da Medicina particularmente suscetĂ­vel Ă  introdução de soluçÔes de IA. E, de facto, atualmente a IA Ă© jĂĄ uma realidade integrada na rotina clĂ­nica da Radiologia, o que permite uma atividade mais diferenciada e com benefĂ­cios em vĂĄrios nĂ­veis de atuação nos cuidados de saĂșde prestados.

Dentro da Radiologia, uma das åreas onde a IA tem vindo a ganhar protagonismo é a Radiologia Toråcica. Este aspeto relaciona-se, por um lado, com as características inerentes dos pulmÔes, que são órgãos que estão habitualmente preenchidos por ar, o que lhes confere caracteristicamente baixa densidade, e por outro lado, com o facto de o princípio físico da Tomografia Computorizada (TC) ser a interpretação de imagens com base na anålise da densidade das estruturas orgùnicas visualizadas.

As alteraçÔes pulmonares de maior suspeição, como por exemplo determinados nĂłdulos pulmonares, tĂȘm habitualmente componentes com densidade sĂłlida, o que representa uma diferença de densidade. É este diferencial de densidade que otimiza a capacidade de a IA detetar os nĂłdulos pulmonares.

Como ferramenta de apoio ao diagnóstico, salienta-se, para além da possibilidade da deteção dos nódulos pulmonares, a medição dos mesmos, através da indicação de diùmetros e do volume para cada nódulo detetado, bem como o seu tempo de duplicação de volume- que são parùmetros determinantes para a decisão clínica.

O tempo de duplicação de volume de um nĂłdulo Ă© um marcador extremamente sensĂ­vel para detetar o crescimento rĂĄpido de um nĂłdulo em exames consecutivos, fator que acresce suspeição para uma natureza maligna do nĂłdulo, sendo uma mais-valia para a interpretação destes exames. PorĂ©m, na rotina clĂ­nica, a medição do volume de um nĂłdulo pulmonar Ă© uma tarefa laboriosa e consumidora de tempo, sendo que a obtenção do tempo de duplicação de volume de um nĂłdulo implica a medição de trĂȘs eixos de cada nĂłdulo em estudo, em pelo menos dois exames. É aqui que a IA presta um grande contributo no fluxo de trabalho do radiologista, ao fornecer prontamente medidas de volume dos nĂłdulos. As soluçÔes de IA mais avançadas estĂŁo programadas para identificarem o mesmo nĂłdulo em dois exames de datas diferentes, calcular o volume do mesmo nĂłdulo em cada exame, calcular o tempo de duplicação do volume do nĂłdulo (em dias) e disponibilizar automaticamente este resultado. Particularmente no contexto de um programa de rastreio de cancro de pulmĂŁo, o ganho de tempo que se consegue na interpretação deste tipo de exame Ă© potencialmente indispensĂĄvel, tendo em conta a escassez de radiologistas e a premĂȘncia da necessidade de implementar este rastreio na população.

Atualmente, e como jå ilustrado, a IA é um contributo importante para a melhoria da decisão clínica e viabilidade de um programa de implementação de rastreio de cancro do pulmão, sendo consensualmente recomendada para este efeito.

Alguns aspetos devem ser, contudo, ressalvados.

A IA não é perfeita e ocorrem falsos positivos e falsos negativos na anålise dos exames, incluindo erros de medição dos nódulos, não estando a IA aprovada como sistema independente de leitura de exames. Os exames devem ser obrigatoriamente validados pelo radiologista, que realiza a leitura integral do exame, validando ou não os achados e as mediçÔes obtidas pela IA, cujo papel deve ser o de uma ferramenta de leitura concorrente ou secundåria, de apoio à rotina clínica.

Outros cuidados a ter na utilização da IA sĂŁo a seleção criteriosa das soluçÔes, nĂŁo sĂł da perspetiva clĂ­nica, mas tambĂ©m da perspetiva legal, garantindo que todas as exigĂȘncias legais e de regulamentação, incluindo a proteção de dados, sĂŁo cumpridas.

Para alĂ©m de a IA ser atualmente uma mais-valia na prĂĄtica clĂ­nica diĂĄria, espera-se, num futuro prĂłximo, que contribua para desenvolvimentos promissores na ĂĄrea da Medicina de PrecisĂŁo, o prĂłximo grande passo que se antevĂȘ revolucionar a Medicina tal como a conhecemos hoje.

Rosana Santos
Subdiretora ClĂ­nica Nacional Affidea Portugal

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