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A Malnutrição custa ao SNS mais de 225M€ por ano

A Malnutrição custa ao SNS mais de 225M€ por ano

O XXVI Congresso Anual da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP), que tem lugar a 15 e 16 de abril, na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, vai debater, entre outros, a necessidade de garantir como prioritário, reduzir o impacto económico da malnutrição em Portugal. “A bem da saúde dos doentes”.

Anualmente, em Portugal cerca de 115 mil doentes em risco nutricional ou malnutridos necessitam de suporte alimentar com recurso a nutrição clínica. Significa que dois em cada quatro adultos internados nos hospitais portugueses podem estar em risco de malnutrição, em contraste com a média europeia de um em cada quatro.

Esta condição, cujo tratamento é fundamental para a recuperação, mobilidade e autonomia do doente, está fortemente associada ao aumento da mortalidade e morbilidade, ao declínio funcional e à permanência hospitalar prolongada, custando ao Estado mais de 225 milhões de euros por ano.

De acordo com Aníbal Marinho, Diretor do Serviço de Cuidados Intensivos da Unidade Local de Saúde de Santo António e presidente da APNEP (Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica), “estamos a falar de um problema de saúde pública, que afeta milhares de pessoas em todo o mundo e que custa anualmente 170 mil milhões de euros só a nível europeu. Tratar a malnutrição constitui, por isso, uma prioridade para profissionais de saúde, doentes e cuidadores e só em Portugal resultaria numa redução significativa dos encargos para o SNS, com uma poupança anual líquida superior a 166 milhões de euros.”

“A realidade em Portugal mostra que os doentes que entram nos hospitais malnutridos agravam o seu estado nutricional e quando têm alta necessitam de nutrição clínica em contexto de ambulatório/domicílio, acabando por voltar ao internamento porque não conseguem assegurar a nutrição adequada casa”, explica Aníbal Marinho.

Por consequência, identificar e tratar a malnutrição precocemente, tanto no hospital como no ambulatório / domicílio, resulta, de acordo com o médico, em benefícios clínicos para o doente e em benefícios económicos para o SNS. Ainda assim, afirma: “preferimos gastar e prejudicar, de uma forma irreversível, a saúde dos nossos doentes.”

A devida implementação do rastreio nutricional nos hospitais, prevista pelo Despacho n.º 6634/2018, permite verificar que a prevalência da malnutrição é elevada, superior à média europeia e que afeta todas as regiões do país, diferentes etnias e classes sociais e económicas. “São doentes que quando têm alta hospitalar saem sem qualquer apoio do Estado para manter a nutrição clínica no contexto ambulatório/domicílio. Aqui a diferença é que, independentemente da condição económica, apenas um poderá ter acesso à terapêutica se esta lhe for recomendada”, afirma.

De referir que a Norma 017/20230 da DGS continua a carecer de implementação nos hospitais do SNS, apesar do seu caracter obrigatório. Também o Despacho N.º 9984/2023 carece de implementação, embora preveja o alargamento do rastreio nutricional obrigatório, não só no hospital, mas também para os cuidados continuados.

A acessibilidade zero à nutrição clínica no ambulatório/domicílio “traduz-se em elevados custos para o SNS, com deterioração da condição clínica do doente, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus onde o acesso está garantido a 100%.” Dando como exemplo Espanha onde a nutrição clínica em ambulatório/domicílio é comparticipada há mais de 20 anos.

“Preocupamo-nos em diagnosticar os doentes e esquecemo-nos de verificar o que eles estão a comer e se o estão a fazer de uma forma adequada. Não faz sentido estarmos preocupados em dar terapêuticas de ponta a estes doentes e não nos preocuparmos em dar-lhes o básico: uma alimentação adequada”, acrescenta o presidente da APNEP que diz esperar com o novo modelo das ULS a implementação efetiva do rastreio nutricional e com isso, e a formação adequada aos profissionais de saúde, o devido diagnóstico da malnutrição e, por consequência, a garantia de acesso equitativo de todos os doentes a uma terapêutica nutricional.

Estas e outras questões relevantes, associadas à nutrição entérica e parentérica, vão estar em debate no XXVI Congresso da APNEP, a decorrer entre nos dias 15 e 16 de abril, na Fundação Dr. Cupertino de Miranda, no Porto.

Este evento, que junta diversas entidades do sector da Saúde, pretende este ano alterar o esquema tradicional de organização de congressos, adotando uma abordagem inovadora: “Think Outside the Box”

O principal objetivo é alterar o status quo atual em relação à realização de grandes eventos, dando destaque a sessões interativas, como o “Quiz de Nutrição” entre os congressistas e o “Nutri Paper”, bem como a realização de pequenas sessões personalizadas com 10 a 12 congressistas.

Destaque ainda para os eventos como o “Nutritribunal”, o “Pitch de Investigação”, um debate entre “Plateias e Especialistas” e uma sessão interativa designada “Bola Roda”. Mantém-se, porém, a aposta num programa educativo, num formato tradicional, com mesas redondas e sessões de “Meet Expert”.

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