Em 1384, Dom Nuno Álvares Pereira, São Nuno de Santa Maria, não hesitou em enfrentar as numerosas forças invasoras, ao contrário do que acontece hoje, que não há quem dê um passo, apesar dos muitos atoleiros em que, aos poucos, nos vamos afundando: atoleiros temos que chegue – falta-nos é a batalha!
Um deles, se calhar o mais obsceno: o BPN (Banco Português de Negócios, digo, de Nojo): ele é bem a metáfora trágica do lodaçal em que este decrépito regime se converteu. Perante a magnitude sísmica do rombo e perante a brutal evidência do saque, imaginem o que se fez – tudo menos o óbvio, que seria seguir o rasto do dinheiro nas suas múltiplas e engenhosas deambulações e recuperá-lo, algo que, segundo ouvi a vários especialistas, era – e é – perfeitamente possível.
Mas isso não, claro, que era grave o inconveniente que acarretava: punha ao léu a “careca” de muita e respeitável gente – escândalo que há que evitar a todo o custo. Numa democracia do faz de conta e em que a maquilhagem tem papel de relevo, o que acima de tudo importa é salvar as aparências – e dar a isto o ar mínimo de respeitabilidade.
Neste fogaréu de confrades e compadres – alguns, bastantes, mas todos da família – tiveram que arranjar, como sempre acontece nestes casos, uns “heróis” que se deixam chamuscar e se oferecem em holocausto para preservar os fundamentos iniciáticos da confraria, garantindo, deste modo, a redenção dos que ingenuamente se deixaram seduzir pelas generosas dádivas de chorudos e inimagináveis lucros – certamente, tudo ditado pela amizade, construída a partir do bíblico critério da retribuição: favor com favor se paga! Se a sociedade de Eça era «a sociedade do elogio mútuo», esta é a do favor. Favor sempre servido envolto na insuspeita embalagem deste regime falido, a famosa legalidade que tudo justifica quando não mesmo enaltece. A legalidade é o sistema de armas defensivo do cerco timocrático em que abusivamente se instalaram uns tantos e em que tentam sectariamente perpetuar-se. A legalidade e… a justiça que, parecendo funcionar, temo que seja com um único intuito – entreter e distrair o Zé Povinho.
Eis a razão, povo meu, por que correu pressuroso o Estado em socorro do Banco, enterrando dinheiro, às carradas, no buraco que uns energúmenos encartados e medalhados por serviços prestados à democracia tinham zelosamente escavado: é que era buraco em que cabia demasiada gente – e ilustre! Ou seja, em vez de travar o atoleiro, o generoso Estado continuou a escavá-lo – até o pôr mesmo a jeito de uma letal bicada de outro Banco, também muito interessante, o BIC, que teve a perspicácia – que não era preciso muita!- de ver o estado comatoso em que se encontrava a apetecível presa – bicada, em grande parte, protagonizada, imaginem, por um português ao serviço da estranja, situação que não é inédita na nossa história.
E, vejam só, depois de adquirido por preço de saldo, como faz o ferro-velho com os carros batidos, ainda vêm agora exigir creio que mais cem milhões de euros ao Estado Português – atoleiro crónico!
Um outro, as famosas Parcerias Público-privadas (PPP): uma caracterização? Desavergonhada prostituição dos que deveriam ser os zeladores dos dinheiros públicos em sessões de autêntico regabofe com a usura insaciável dos interesses privados – sempre sob a cândida justificação de que o sector público sairia beneficiado com a proficiência da gestão privada – a bem de todos, claro!
Num país, como o nosso, em que há muito o Estado é visto como sendo um território de ninguém, em vez de ser a casa de todos, toda a minha gente se pela para surripiar a esse monstro medonho nem que seja um conjunto de lapiseiras! Grupos grandes sacam à grande – claro!
E que dizer dos famosos contratos swap? É o termo inglês para significar permuta/troca. E resume-se a isto: estás atrapalhado com dores? Eu alivio-te as dores por uns tempos, mas o mais provável é que acabes numa cama do hospital! Ou seja: alivio-te os sintomas, mas se isto se agravar e se alguém tiver que marchar que morras tu, que és mais velho – e, afinal, tu é que és o doente! São acordos de risco – sempre para o mais fraco, que é, neste caso, o Estado Português, que está aflito com os juros a pagar e com o défice. Nos acordos admitia-se que as coisas corressem mal – e correram! Mais um tremendo atoleiro. Responsáveis? É procurá-los por aí – no governo, nas empresas públicas, nesse fátuo carrocel de gente que se presta a tudo!
Falando de atoleiros: só estes? – Perguntar-me-ão. Claro que há muitos mais: estamos literalmente atolados!
As modernas batalhas têm todas o mesmo general a comandá-las – o dinheiro. E sem lanças nem obuses: basta um clique – um pouco mais, às vezes: o tempo que demora um bom almoço no Gambrinos!
A batalha dos Atoleiros, a outra, foi na zona de Fronteira, não exactamente, porém, no local onde alguns interesses emergentes gostariam, mas esta nossa outra dramática e decisiva batalha dos atoleiros não tem lugar certo – é batalha a travar em toda a parte e por todos!
Por: José Antunes de Sousa
“escreve sem o acordo ortográfico”